Porto Alegre
Escritório colaborativo para empreendedores da Restinga é inaugurado
Associação do bairro montou espaço que pode ser utilizado para desenvolver os negócios da comunidade local
Um ambiente adequado para trabalhar, com acesso a equipamentos e ferramentas, e aberto à comunidade. Esse é Coworking Social da Restinga — ou escritório colaborativo —, que foi inaugurado no dia 21, no espaço da Associação Empreendedoras Restinga. É o primeiro espaço com este perfil no bairro da zona sul da Capital.
— No South Summit (encontro de inovação e empreendedorismo ocorrido em Porto Alegre), foi apresentada uma pesquisa do perfil do empreendedor periférico. Ele quer se capacitar, mas muitas vezes não tem ferramentas para isso, por exemplo, como dados móveis de internet para fazer um curso online, um celular adequado e espaço físico. Aqui, a pessoa vai ter internet de boa qualidade — explica Roberta Capitão, presidente da entidade.
A pesquisa Empreendedorismo nas Favelas foi desenvolvida pelo Sebrae RS com apoio das prefeituras de Porto Alegre e de Pelotas, e do Sicredi. O estudo ouviu 1,5 mil empreendedores de cinco regiões de Porto Alegre e uma de Pelotas para apresentar um mapeamento do perfil, desafios e oportunidades de quem atua para gerar renda e promover o desenvolvimento local, muitas vezes sem sequer se reconhecer como tal.
Entre as principais necessidades de empreendedores gaúchos no tópico estrutura, estão a falta de um ambiente adequado para produção, estoque e demais tarefas, além de acesso a dispositivos, conexão e dados. A inauguração desse espaço vem de encontro à necessidade, conforme Roberta.
O DG esteve no local um dia antes da inauguração. O espaço compartilhado de trabalho tem computadores, internet, sala de reuniões, cozinha, biblioteca, área para crianças e até um local pensado para a produção de conteúdos para redes sociais. Roberta faz questão de utilizar termos como escritório colaborativo ou compartilhado:
— A linguagem é um dos fatores que afasta as pessoas, então compartilhado é mais compreensível.
No local, cinco empreendedoras da associação contaram de que formas o ambiente vem para benefício de seus negócios. Produção de fotos e vídeos está entre as ideias.
— Tenho a loja, que é pequena, então para fazer fotos não é o melhor. Eu penso em fazer um provador aqui — disse Tatiane França de Oliveira, 39 anos, proprietária de loja de roupas femininas e infantis.
Também será possível receber clientes, fazer cursos e promover palestras.
— No meu trabalho, vamos até a casa dos clientes. Mas não tenho um espaço físico para receber e me reunir com os fornecedores — explicou Fernanda Hostyn, 39 anos, que trabalha com instalação de energia solar.
— Meu trabalho é mais online com atletas. Mas pensei em atividades diferentes, como palestras para receber não só os atletas, mas a comunidade — explicou Josiana Ávila, 45 anos, que trabalha com desenvolvimento humano, como coach esportiva.
Conforme Roberta, o espaço é aberto para a comunidade. Apesar de ser organizado por mulheres, é para os empreendedores que necessitarem. A utilização custa a partir de R$ 10 por hora e R$ 35 por dia. O pacote mensal para usar o coworking custará R$ 257. As associadas têm vantagens, como três diárias gratuitas.
Maternidade e negócios
Maternidade e os negócios não foram desvinculados na criação do espaço. O coworking é aberto para mães trazerem os filhos, tem um espaço pensado para crianças e internet para os adolescentes.
— Ela trouxe o filho dela, eu trouxe o meu, é um ambiente bem propício para trazer crianças e até os adolescentes, porque tem internet e eles acabam usando — diz Fernanda.
— Quando eu falei para o meu filho de 21 anos, ele mostrou interesse em usar o espaço para estudar. Ele disse que em casa não tem a mesma concentração — complementa Adriana Flores, 45 anos, confeiteira.
Conforme o Sebrae, buscar renda extra para sustentar a criança ou adaptar sua rotina para conciliar o trabalho com os cuidados com a criação são dois cenários que as mulheres enfrentam ao se tornarem mães.
— Vem de encontro com o empreendedorismo feminino. É muito grande o número de mulheres que deixam de empreendedor porque têm filhos pequenos — afirma Roberta.
Cursos e geração de renda
Ainda entre as necessidades citadas no estudo do Sebrae está a especialização no ramo de atuação e a divulgação do negócio online, nas redes sociais. O espaço também atende a essas demandas. Segundo Roberta, os frequentadores podem fazer cursos e gravações.
— Neste ambiente mais neutro, além de receber pessoas, elas podem fazer vídeos para internet, que inclusive foi um pedido delas e, por isso, compramos ring lights (iluminadores para fotografia). Conforme surjam necessidades, vamos adaptando. Elas têm muito conhecimento, e esse espaço aqui serve para que elas possam também se experimentar como orientadoras e sair da produção — explica Roberta.
É a ideia de Tatiane Morais, de 46 anos, que produz sabão em barra à base de óleo de cozinha reciclado e está há três meses no grupo das empreendedoras.
— Seria um bom espaço para ministrar oficinas para mulheres da própria periferia. Esse é meu objetivo, reciclar e ensaiar a produção — explica Tatiane, que participou como expositora no ExpoFavela, que ocorreu em setembro.
Assim como Tatiane, para Adriana, que trabalha na produção de doces e salgados para festas e eventos corporativos, capacitar mulheres é um dos objetivos:
— Um dos meus projetos é dar aula de confeitaria para mulheres, principalmente à noite, que é um horário que elas poderiam vir. E a ideia é de que seja aqui.
O projeto foi desenvolvido pela arquiteta popular Karol Almeida, moradora da Restinga. Ela já fazia parte da associação e atua como colaboradora de projetos para as empreendedoras.
— Surgiu essa oportunidade, e o espaço tinha um grande potencial. Também era uma vontade pessoal. Como não tenho escritório na Restinga, pensei como seria legal um lugar para atender fornecedores, clientes e compartilhei com a Roberta. Projetei, fiz um orçamento e veio um doador super especial, que ajudou muito nesse projeto — explica Karol, que está à frente do Kopa Coletiva Arquitetura Popular.
A ideia saiu mais rápido do papel que Karol imaginou. O investimento para a reforma, de R$ 35 mil, foi feito pelo Instituto Mari Johannpeter, que dará nome à biblioteca. Já os custos da manutenção do local, como aluguel, luz e água, são pagos por meio das mensalidades.
Coworking Social da Restinga
- /// Endereço: Estrada do Barro Vermelho, 340, bairro Restinga, Porto Alegre
- /// Funcionamento: das 13h às 17h30min (podendo expandir conforme a necessidade)
- /// Contatos: WhatsApp: (51) 99239-5989