Papo Reto
Manoel Soares e o uso da palavra "guerreiras"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Nós temos o hábito de chamar as mulheres que estão sobrecarregadas com a família, trabalho e tudo mais de guerreiras. Mas a verdade é que esse elogio é muito cruel e injusto. Falamos de pessoas que sacrificaram suas vidas para cobrir ausências de homens, do poder público, da família e por aí vai.
Mulheres que perderam a juventude e a saúde em uma jornada que não tem nada de poético ou belo. Nas homenagens que fazemos nas redes sociais é bonito e rende muitas curtidas, mas com certeza elas trocariam esses aplausos por uma vida mais feliz, com menos dor e sacrifício. Fora que nós, homens, camuflamos nosso machismo nesses elogios, porque depois que rotulamos elas como guerreiras, cabe a elas guerrear, cabe a elas viver esse martírio sem direito a renúncia.
Ela tem que gostar de ser mãe, tem que deixar de comer para dar aos filhos, tem que renunciar sua sexta-feira, abrir mão da experimentação sexual, tem que ser a “Santa Guerreira” que impusemos a ela.
Esses títulos só servem para camuflar o fato de que tratamos essas mulheres como burros de carga e jogamos sobre os ombros delas nossas irresponsabilidades e falhas. Para piorar, quando essas mulheres abrem mão desse título e agem como um ser humano que precisa viver e cuidar de si mesma ao invés de ficar tampando furo que deixamos, chamamos elas de irresponsáveis, desnaturadas ou coisa pior.
Ainda acho que o pior xingamento que podemos dar a essas mulheres é chamá-las de guerreiras. O maior elogio seria podermos chamá-las de livres, livres para inclusive dizer que não querem esse título de guerreiras, que não aceitam cobrir falhas, que querem que cada um faça sua parte de fato, pois a pior prisão para uma mulher é escravizá-la em si mesma.