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Fábrica de solidariedade

Projeto oferece aulas de futsal e novas oportunidades a 600 crianças em Novo Hamburgo

Os contemplados são atendidos sempre no contraturno da escola

17/08/2018 - 08h30min


Felipe Bortolanza
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Carlos Macedo / Agencia RBS
São 600 alunos cadastrados, com idades entre oito e 16 anos

Os números impressionam. Mas as histórias são melhores. E inspiradoras. Tanto a do clube quanto a de pessoas envolvidas numa iniciativa que atende crianças e adolescentes está prestes a completar 15 anos em Novo Hamburgo. Esta fábrica de solidariedade chama-se União Jovem do Rincão (UJR). Neste período, o projeto Futsal Social, que mobiliza dezenas de profissionais, já atendeu milhares de meninos e meninas em situação de vulnerabilidade.

Neste ano, as aulas de futebol de salão (duas vezes por semana) ocorrem em seis ginásios de bairros periféricos da cidade, totalizando 600 alunos de oito a 16 anos, sempre no contraturno da escola – instituição determinante para a seleção dos contemplados. A prefeitura de NH e a faculdade Feevale são parceiros neste trabalho, que conta ainda com verbas de empresas por meio da Lei de Incentivo ao Esporte. E tamanho é o impacto nas comunidades, que o projeto da UJR foi um dos seis no Brasil escolhido para receber patrocínio do canal a cabo Sportv.

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O Diário Gaúcho visitou o clube e conta algumas histórias que simbolizam a importância de conviver num rincão que é fanático por transformar a vida da gurizada no Vale do Sinos.

Dudu, o ala que virou o jogo
O menino que conduz a bola com rapidez e habilidade, mesmo entre meninos maiores do que ele, é bem mais do que um promissor ala para o futsal de Novo Hamburgo. Eduardo da Silva, aos 12 anos, morador do bairro Roselândia, é um dos símbolo de como o projeto social transforma a vida de famílias:

- Aprendi muito aqui, tio. A jogar bola e a me comportar. Meu pai tá felizão comigo!

Carlos Macedo / Agencia RBS
Eduardo, 12 anos, melhorou na escola após entrar no projeto

Há três anos, essas sensações pareciam impossível de se realizar. Dudu chegou aos nove e dava bem mais trabalho para os monitores e professores da UJR do que os goleiros adversários.

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- Ele tinha histórico de dificuldades de aprendizagem e de relacionamento com os colegas na escola. Demos carinho, atenção, mas sem deixar de cobrar disciplina - revelou o psicólogo Nikolas Ruschel Petry, que começou no projeto em 2014, como estagiário.

Entusiasmado com as aulas, Dudu se orgulha de sua evolução como atleta e estudante. Conta que seu caderno está cada dia mais caprichado. E que tem deixado as brigas de lado.

- Não resolve, né? É bem melhor só brincar - conclui Dudu.

O menino mora com o pai, Milton, a mãe, Tereza, e os irmãos Jonas, 23 anos, e Vitória, 18 anos. Milton, que trabalha numa fábrica de calçado da cidade, conta, todo orgulhoso:

- Ele parece outro piá, hoje. Está mais tranquilo. Antes, o colégio me chamava a toda hora. Está mais ocupado em fazer amigos do que comprar brigas!

Douglas, o aluno que virou treinador
O projeto social tem como principal objetivo disponibilizar uma atividade extraescolar. Desenvolver talentos natos do futsal é uma consequência de quem desenvolve melhores aptidões com a bola. Douglas Weiss foi aluno do projeto quando tinha 14 anos. As atividades no núcleo do Boa Saúde foram tão importantes na vida dele que o futsal tornou-se o norte de sua vida:

- Gostava muito de jogar bola. Mas chegou uma hora que percebi que meu dom não me garantiria um sucesso profissional. Então fui estudar Educação Física.

Carlos Macedo / Agencia RBS
Douglas foi aluno e, atualmente, treina as categorias sub-15 e sub-17

Hoje, aos 28 anos, ele é o "professor" Douglas. Na UJR, foi monitor, auxiliar e hoje é treinador das categorias sub-15 e sub-17.

- Dentro do projeto, aprendi mais do que futsal. Aqui se vive a solidariedade, a preocupação com o bem de quem precisa de atenção. Me enxergo nesta gurizada - exalta Douglas, formado na Feevale com bolsa de estudo viabilizada pelo clube.

Ele já fez três cursos de técnico e pretende seguir investindo nesta profissão. Pela forma como conduz o trabalho e pela maneira carinhosa que a gurizada o saúda, Douglas é um profissional realizado:

- É muito bom perceber que a criança nos enxerga como referência para o bom caminho.

Zeca, o craque da retaguarda
Poucos, na UJR, conhecem José Luis Brochier. Mas é só falar em Zeca que todos sabem quem é: é o gestor geral do Futsal Social. Pós-graduado em Educação Física, ele está no projeto desde o início. Depois de tanto tempo no árduo trabalho de abraçar crianças que, algumas vezes, nem a família e a escola mais davam atenção, Zeca continua entusiasmado com a missão do clube:

- Fazemos um papel decisivo na vida de crianças. Ao possibilitar um convívio sadio e esportivo, tudo melhora na rotina delas.

Carlos Macedo / Agencia RBS
José Luis, o Zeca, acredita na missão do clube

Além de incentivar a prática esportiva, a UJR se preocupa também com o encaminhamento profissional dos mais velhos, seja no incentivo para fazer cursos e na indicação para vagas de jovem aprendiz em empresas da região.

Após inaugurar o sexto núcleo do projeto, Zeca conta que a ideia é ampliar as opções de atendimento, com oferecimento de algo que atraia mais as meninas, como dança.

- Lutamos muito, a cada ano, para encontrar ou manter patrocinadores que deem o sustento para nossas iniciativas. Há filas de crianças que ainda não podemos atender...

Carlos Macedo / Agencia RBS
Dinheiro vem de parcerias com empresas

Como funciona
/// Desde 2004, a UJR mantém o projeto Futsal Social, que atende alunos da rede pública de ensino de NH, entre oito e 16 anos. São seis locais: Rincão, Roselândia, Santo Afonso, Boa Saúde, Redentora e Canudos. São duas aulas por semana, de 75 minutos cada.

/// A seleção dos meninos e meninas é feita em parceria com as escolas. As turmas se renovam a cada ano, conforme o número de vagas que se abrem. No início das atividades, cada aluno ganha um kit completo de uniforme, incluindo chuteira.

/// São três critérios, pela ordem: vulnerabilidade, necessidade social e gosto pelo esporte. Ao todo, 22 profissionais atendem à gurizada, entre professores, pedagogos, psicólogo, nutricionista, serviço social e administrativo.

/// A prefeitura e a Feevale são parceiros da UJR. Há ainda uma série de empresas patrocinadoras, através da Lei de Incentivo ao Esporte. É deles que vêm o dinheiro para sustentar o projeto.


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