Crime na praia
Polícia investiga participação de assessor de ex-secretário da Segurança
Crime teria ligação com tiroteio na Stuttgart
Acionada pela Delegacia de Tramandaí, a Corregedoria-Geral da Polícia Civil ajuda a apurar a morte do megatraficante Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, 35 anos. Na tarde de domingo, o criminoso estava em Tramandaí e foi alvejado por um grupo rival, fortemente armado. Tiros de fuzil e de pistolas calibre 9mm foram disparados a cerca de 100m da orla, levando horror a veranistas. A ousada ação, produto da guerra do tráfico, ganho contornos ainda mais impressionantes: o policial civil Nilson Aneli, chefe de segurança do secretário Ayrton Michels até o ano passado, esteve na residência. Em depoimento, pelo menos duas pessoas presas na casa disseram que ele atuava também como segurança de Xandi. É o que a Corregedoria investiga.
- Vamos esclarecer a ligação dele com os feridos, com a vítima, com o caso como um todo. Por enquanto, não há motivo para afastá-lo de suas funções ou para tomar qualquer medida desse tipo, pois nada está confirmado e o próprio policial compareceu voluntariamente à delegacia para depor. A investigação começou há pouco - disse o titular da Corregedoria, delegado Paulo Grilo, que ontem esteve pessoalmente na luxuosa residência para tentar encontrar provas.
Horas depois do assassinato, que teve ainda uma mulher atingida de raspão na barriga e um homem alvejado nas costas, o policial civil compareceu à DP de Tramandaí e prestou depoimento. Disse que só foi à residência para ver o sobrinho - justamente o homem baleado - e que chegou depois de toda a confusão.
- Levamos o caso à Corregedoria. Tudo será investigado - informou o delegado Paulo Perez.
Aneli é comissário de polícia, está na ativa e, oficialmente, lotado na SSP. Antes de atuar na secretaria, teve passagem pelo Grupo de Operações Especiais. No ano passado, era figura constante em praticamente todos os eventos em que o secretário estava. No caso de domingo, ao menos até ontem, ele era tratado como testemunha.
- Estava sempre dez passos à frente do secretário, cuidando da segurança dele. Linha de frente total - assegurou um delegado.
O homem baleado na coluna foi transferido para o Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre. Ontem, o boletim médico divulgado dizia que seu estado "inspira cuidados". A mulher alvejada foi liberada logo após receber atendimento.
Suspeitos identificados
Paralelamente à ação, o delegado Paulo Perez tenta identificar os atiradores que mataram Xandi e a mando de quem agiram.
- Temos suspeitos identificados. Estamos buscando mais dados. A hipótese mais forte é de que o crime tenha relação a outro ocorrido na casa noturnaStuttgart, em Porto Alegre, no final do ano passado. Acreditamos que os dois grupos que se desentenderam na ocasião voltaram a entrar em conflito _ afirmou o delegado.
O crime na danceteria ocorreu na madrugada de 3 de novembro. Após briga generalizada e dezenas de tiros, 16 pessoas ficaram feridas e Tiago Querubim Silveira, 19 anos, foi morto. O crime ainda é investigado, mas a polícia não tem mais dúvida de que se trata de duelo entre o grupo liderado por Xandi e outro que tem como base o Beco do Cafuncho, no Bairro Lomba do Pinheiro. Tiago tinha antecedentes por tráfico e, apesar de ser morador da Vila Cruzeiro, onde Xandi comandava a venda de drogas, a polícia suspeita que o rapaz era coligado ao grupo da Lomba do Pinheiro, chefiado por um homem conhecido como Tereu.
O tiroteio ocorreu durante um show de funk, produzido e patrocinado por Xandi.
PM denuncia conduta de comissário
Ouvido pelo Diário Gaúcho, um PM que compareceu ao local minutos após o crime assegurou que policias militares foram barrados por Aneli, que já estava já dentro da residência, apresentou suas credenciais de comissário e os impediu de entrar. Ao constatarem o homicídio e o tiroteio, os brigadianos pediram reforços e quatro viaturas cercaram a residência. Pelos fundos, um soldado prendeu um rapaz que tentava fugir com uma pistola calibre 9mm. A partir daí, mesmo a contragosto do comissário, PMs invadiram a residência.
- Quando percebemos, o policial civil tinha ido embora a pé e largado o carro dele na frente da casa - contou o PM, que deve ser convocado pelo delegado Paulo Perez a prestar depoimento.
- Uma pistola desse calibre é capaz de transfixar quatro corpos colocados um atrás do outro. Um fuzil, então, é muito mais perigoso. Poderia ter ocorrido uma tragédia bem maior - lembrou o delegado.