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Porto Alegre

Violência no Rubem Berta: "Volto do trabalho sem saber se vou chegar"

Moradores relatam que, a partir das 19h30min, permanecer na rua é um risco

01/04/2015 - 18h35min

Atualizada em: 01/04/2015 - 18h35min


Eduardo Torres / Diário Gaúcho
Estopim foi um duplo homicídio na última quinta

Os anúncios de toque de recolher, que assombraram as ruas dos bairros Rubem Berta e Mario Quintana no final do ano passado, voltaram a fazer parte da rotina dos moradores da Cohab Rubem Berta desde o final de semana passado. O estopim teria sido as mortes de Luís Antônio Oliveira dos Santos, 48 anos, e Alexandre da Silva Alves, 39 anos, na manhã da quinta-feira passada.

Moradores relatam que, a partir das 19h30min, permanecer na rua é um risco.

- Está muito complicado para todos nós. São homens com armas grandes circulando entre os blocos. Eu volto do trabalho à noite, sem saber se vou chegar - desabafa um morador, que pediu para não ser identificado.

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Segundo testemunhas, no sábado, um tiroteio impediu a circulação de moradores pela região. Depois, os boatos multiplicaram o medo.

- Diziam que iriam invadir as casas de todo mundo para tomar conta daqui - conta uma moradora.

A Cohab Rubem Berta é um dos palcos da guerra envolvendo traficantes do Loteamento Timbaúva e da Vila Safira, ambas no Bairro Mario Quintana. Segundo a polícia, a região teria pontos de tráfico dominados pelo bando que atua na Safira.

- O confronto é o mesmo do ano passado, mas demonstra uma velocidade impressionante dessa quadrilha do Timbaúva em arregimentar novos soldados. A maioria dos envolvidos nos crimes do ano passado estão presos. Agora tentamos identificar quem está agindo - afirma a delegada da 5ª DHPP, Jeiselaure Souza, que investiga os homicídios na região.

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No crime da manhã de quinta passada, que aconteceu junto ao campinho no coração da Cohab, a Brigada Militar agiu rápido e conseguiu prender os suspeitos quando fugiam, no Loteamento Timbaúva. Dois foram autuados em flagrante e um adolescente apreendido. Segundo a delegada, os dois homens vitimados eram usuários de drogas e estariam traficando na Cohab.

Escola nega toque de recolher

Na tarde de terça-feira, boa parte dos alunos da Escola Municipal Grande Oriente, que fica junto à Cohab, saiu mais cedo da aula. Na região, espalhou-se a informação de que estariam seguindo um toque de recolher.

- Nós funcionamos normalmente nos últimos dias. Até o horário final. Dentro da escola este assunto nem chegou - garante o vice-diretor da escola, Geraldo Vargas Afonso.

O comandante do 20º BPM, major Arnaldo Hoffmann Neto, também garante que não tem informação de qualquer toque de recolher, mas admite que o clima é tenso na região.

- Não podemos negar que a situação está violenta. Estamos diante de quadrilhas de traficantes disputando um território. Sem dúvida, tiroteios podem acontecer. Nós aconselhamos os moradores a tomarem cuidado - diz.

Ele garante que desde o sábado o policiamento está reforçado na região.

Silêncio emperra investigações

O maior inimigo das investigações sobre homicídios e tiroteios na região, de acordo com a polícia, é o silêncio. Mesmo que o clima tenso, a circulação de homens armados ou um suposto toque de recolher seja assunto corrente entre os moradores, a delegada Jeiselaure assegura que, desde sexta-feira, nenhuma ligação foi feita à polícia com denúncias.

- Nós precisamos que as pessoas denunciem e identifiquem quem são os criminosos. O anonimato é garantido, mas precisamos de informações. O silêncio acaba deixando a investigação de mãos atadas - diz a delegada.

Denúncias podem ser feitas pelo 190 ou 181.

A guerra do tráfico

*Entre outubro e novembro do ano passado, 13 pessoas foram mortas na região.

*Eram crimes decorrentes do confronto entre quadrilhas de traficantes do Loteamento Timbaúva e da Vila Safira, no Bairro Mario Quintana.

*Entre os tiroteios, diversas vezes os moradores foram submetidos a toques de recolher impostos pelos criminosos.


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