Polícia



Boletim de Ocorrência - Arquivo do Crime

Caso das Mãos Amarradas

18/05/2015 - 22h26min

Atualizada em: 18/05/2015 - 22h26min


No dia 24 de agosto de 1966, timidamente, a imprensa lembrava o suicídio do presidente Getúlio Vargas, ocorrido exatamente 12 anos antes. Alheio a esse fato, um pescador levou um susto ao avistar um corpo boiando no Rio Jacuí, nas proximidades de Porto Alegre. Era de um homem e estava com os pés e as mãos amarrados às costas.

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Nem imaginava o humilde pescador que aquela cena assustadora seria o começo de um dos mais rumorosos casos de prisão, tortura e morte relacionados ao período da ditadura militar no Brasil, iniciado dois anos antes. O corpo, identificado no IML, era do sargento do Exército Manoel Raimundo Soares.

Natural de Belém do Pará, Manoel aos 17 anos mudou-ser para o Rio de Janeiro e, em 1955, entrou para o Exército. Por ter posições políticas consideradas "avançadas" e "perigosas" pelas Forças Armadas, mesmo antes do período de ditadura, ele foi transferido para o Mato Grosso em 1963. Em abril do ano seguinte, já no pós-golpe, ele teve prisão decretada e passou a viver na clandestinidade, no Sul do país. Por aqui, fez parte de grupos de esquerda que lutavam pelo retorno do presidente João Goulart, o Jango, deposto pelos militares. 

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Ao longo dos anos, após o encontro do cadáver, o calvário do sargendo foi sendo reconstituído. Ele foi preso no dia 19 de março de 1966, em frente ao Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre, pela Polícia do Exército (PE). Passou períodos no quartel da PE, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), um dos órgãos de repressão da ditadura, e na Ilha do Presídio, no Guaíba, que recebia presos políticos. Em todos esses locais, foi torturado.

Apesar de inúmeras negativas do regime, não restava dúvidas de que Manoel fora uma das vítimas da ditadura. Em 1973, sua viúva, Elizabethe Challup Soares, ingressou com ação judicial, requerendo da União ressarcimento das despesas com funerais e indenização por danos morais. A sentença final, em um processo arrastado e com vários recursos, só saiu em 2005. Ela morreu cinco anos depois, sem receber a reparação fixada em R$ 222 mil. Recebia, na época, uma pensão mensal de R$ 1,5 mil.


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