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Chumbo grosso

Traficantes investem em alto poder de fogo no Rio Grande do Sul

Fuzis e submetralhadoras multiplicam violência de conflitos entre gangues. Número de apreensões no primeiro trimestre deste ano mostra capacidade das quadrilhas em manter arsenais abastecidos

02/05/2015 - 04h01min

Atualizada em: 02/05/2015 - 04h01min


Carlos Ismael Moreira
Carlos Ismael Moreira
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Wondracek avalia que, apesar da dificuldade em conter a entrada de armas, principalmente pelas fronteiras, o trabalho interno das polícias têm obtido bons resultados em recuperar esse material.

O subcomandante da Brigada Militar, coronel Paulo Stocker, afirma que, como nos últimos cinco anos a quantidade de apreensões é estável, e o número de abordagens realizadas pela BM tem aumentado, é possível fazer uma leitura de queda na circulação de armas entre os criminosos. Para retirar o armamento pesado das ruas, o coronel ressalta que a corporação tem intensificado o serviço de inteligência com foco no tráfico de drogas que, segundo Stocker, responde por 90% da circulação de fuzis e submetralhadoras.

- A posse dessas armas se dá basicamente para proteção de território e disputa entre rivais - diz o subcomandante.

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Há duas semanas, a menina Laura Machado de Machado, de sete anos, foi vítima de um desses conflitos. Uma bala de fuzil entre as mais de cem disparadas atingiu a cabeça de Laura, que morreu na hora, enquanto ela dormia dentro de casa, no loteamento Campos do Cristal, bairro Vila Nova.

Conforme o diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Emerson Wendt, além de resguardar de domínios, as quadrilhas usam fuzis e submetralhadoras como instrumento de domínio social.

- É uma forma de impor medo na comunidade. Alguns alugam para outros grupos ou utilizam para cometer crimes, como ataque a bancos, e gerar capital para o comércio de droga - detalha Wendt.

Segundo o diretor de investigações do Denarc, delegado Leonel Carivali, o valor de um fuzil contrabandeado pode variar entre R$ 30 mil e R$ 50 mil, e o de uma submetralhadora, entre R$ 15 e R$ 20 mil. O alto custo e o caráter restrito desse armamento mostram o poder financeiro e de articulação de alguns bandos.

- Não é qualquer grupo que tem como retirar esse dinheiro que financia a droga para comprar armas. Por isso, essas apreensões causam grande desfalque nas quadrilhas - diz Carivali.

Em março, o Denarc conseguiu localizar um arsenal que já havia ganho status de lenda em Porto Alegre. A Operação Mito recolheu, de uma só vez, dois fuzis 5.56, três submetralhadoras 9mm, duas espingardas calibre 12 e duas pistolas .380 em uma casa na Vila Santa Terezinha.



PF aposta em cooperação internacional para inibir contrabando

Cristiane Bazilio / Diario Gaúcho
Em 13 de março, Denarc apreendeu arsenal de traficantes na Vila Santa Terezinha

O acirramento dos conflitos entre traficantes na Capital expôs o poder bélico das quadrilhas. Para proteger territórios, investir contra rivais ou simplesmente para sustentar o domínio de medo sobre comunidades, os bandos do Estado tem se valido de chumbo grosso. Nos três primeiros meses de 2015, Polícia Civil e Brigada Militar já apreenderam oito fuzis e cinco submetralhadoras. Em relação ao primeiro semestre do ano passado, houve ligeira alta (veja o gráfico abaixo). O cenário mostra que, apesar das apreensões, as quadrilhas mantém sua capacidade de reabastecer seus arsenais.
O chefe da Polícia Civil, delegado Guilherme Wondracek, afirma que o principal risco é o potencial ofensivo deste tipo de armamento nas mãos dos criminosos.

- São tiros  que atravessam um automóvel, paredes, coletes balísticos. O confronto dentro da cidade se torna extremamente perigoso, mas a polícia está preparada - garante.

Apreensões de janeiro a março em 2014 e 2015 | Create infographics

Apreensões nos últimos cinco anos | Create infographics

A entrada do armamento de grosso calibre no Estado, tanto na análise da Polícia Civil quanto da Brigada Militar (BM), tem uma porta principal: a fronteira. Para impedir o fluxo de contrabando bélico, a Polícia Federal (PF) aposta na cooperação internacional.

- Temos fortalecido o trabalho de colaboração com as polícias dos países vizinhos, em especial o Uruguai, com mecanismos de troca de informações junto à Interpol - afirma o delegado Farnei Franco Siqueira, da Delegacia Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF no RS.

Os métodos para camuflar fuzis e submetralhadoras variam desde compartimentos secretos em veículos até a desmontagem da arma para trazer uma parte de cada vez. Segundo Franco, muitos atravessadores se valem da legislação mais permissiva de outros países.

- Determinados fuzis que aqui são considerados de assalto, em alguns locais no exterior são classificados como esportivos ou de caça - explica Franco.

O delegado ressalta que o Uruguai, de onde partia o maior volume de contrabando, adotou recentemente regras para aumentar o controle sobre a venda de armas. Em setembro do ano passado, o país cisplatino também assinou o Tratado sobre o Comércio de Armas (ATT, na sigla em inglês) _ acordo internacional criado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo Franco, essas medidas, aliadas a parceria com a PF brasileira, têm obtido bons resultados e a tendência para o restante do ano é de queda no volume de armamento pesado a serviço do crime no Rio Grande do Sul.

Há duas semanas, agentes da Direção Nacional de Informação e Inteligência Policial (DNIIP) do Uruguai prenderam três policiais uruguaios e dois comerciantes de Rivera (que faz fronteira com Santana do Livramento), suspeitos de envolvimento no contrabando de armas para o Brasil. As investigações apontam que, entre 2013 e 2015, mais de 300 armas automáticas teriam sido traficadas pelos policiais, que trabalhavam numa das jefaturas (delegacias) de Rivera. As pistolas 9 mm e submetralhadoras eram adquiridas em lojas de armas (armerias) de forma legal e, depois, contrabandeadas para território brasileiro.

Casos recentes

24 de abril
Um fuzil AR-15 calibre 5.56 foi apreendido em Viamão,  na Vila São Lucas

10 de abril
Na Lomba do Pinheiro, Zona Leste de Porto Alegre, houve apreensão de um fuzil calibre 5.56 de fabricação canadense com dois carregadores municiados e mira noturna, além de uma pistola 9mm. A ação ocorreu após prender dois homens com outra pistola 9mm e dois carregadores em uma lotação no Centro.

7 de abril
Duas pistolas 9mm, uma metralhadora artesanal, duas espingardas _ calibres 12 e 44 _ e um fuzil 7.62 foram encontrados em um apartamento na Rua Professor Augusto Osvaldo Thiesen, em um condomínio no bairro Rubem Berta.

20 de março
No bairro São Lucas, em Viamão, foi localizado um fuzil calibre 5.56, de fabricação americana. No mesmo dia, em Alvorada, foram apreendidas duas pistolas 9mm. Uma delas, de fabricação austríaca, conta com compensador de recuo, que dá mais estabilidade e precisão no momento do tiro.

13 de março
Na Vila Santa Terezinha, antiga Vila dos Papeleiros, na Capital, foram apreendidos dois fuzis calibre 5.56 (um de origem checa e outro americano), três metralhadoras 9mm (duas argentinas e uma brasileira), duas espingardas calibre 12 e duas pistolas .380.

4 de fevereiro
Um adolescente de 14 anos foi apreendido com um arsenal, numa área invadida conhecida como Império, na Avenida Plínio Kroeff, bairro Rubem Berta, na Zona Norte. Ele estava com uma submetralhadora 9mm, duas espingardas (calibres 12 e 22) e uma pistola 9mm Glock.

1º de janeiro
Dois fuzis e uma espingarda calibre 12, munições de variados calibres, coletes à prova de balas, cordel e cerca de 10kg de explosivos. Todo esse material foi apreendido logo no primeiro dia do ano em uma casa no Bairro Rio Branco, em Canoas, com duas mulheres suspeitas de integrar uma quadrilha que explodiu uma agência bancária em General Câmara, na Região Carbonífera, durante a festa da virada do ano.


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