Bom Jesus
Guerra do tráfico: acompanhamos a polícia em uma das áreas mais violentas de Porto Alegre
O Diário Gaúcho mergulhou por duas horas, na noite de segunda-feira, na região que sofreu com pelo menos 300 tiros no final de semana
Às 22h15min desta segunda-feira, sob uma iluminação irregular em determinados pontos, um efetivo da BM composto por cerca de 50 homens do 11º BPM e do BOE de Santa Maria entrou em uma região conhecida nas últimas semanas pela violência.
Por ruelas de chão batido que pareciam cada vez mais estreitas à medida que avançava, uma das equipes que integravam a Operação Avante entrava fundo na região do Bairro Bom Jesus, Zona Leste da Capital. Estavam preparados, se necessário, para um confronto pesado: levavam fuzis, pistolas e escopetas. O Diário Gaúcho os acompanhou.
Mas não encontraram resistência do crime naquela noite. Das portas e janelas que se abriram para aqueles PMs, oito policiais em duas caminhonetes Blazer, surgiram moradores para os quais a presença da BM era comemorada e acompanhada. As crianças, muitas na rua mesmo nesse horário, pareciam especialmente atraídas pelas fardas,e curiosas.
- A polícia é amiga das crianças? - pergunta, rindo, uma menina.
- Ai, filha, claro que é - responde a mãe, na Rua 28, junto a um aterro, onde quatro rapazes foram revistados e liberados.
Foto: André Ávila
Se a presença da PM era boa ali? A mãe da criança não hesita.
- Está muito certo eles fazerem isso. Precisam aparecer sempre. A coisa está feia por aqui, olha o que aconteceu esses dias - disse a moradora.
Ela se referia ao assunto do bairro desde o final de semana: uma invasão armada no sábado que matou dois homens. Disparos vitimaram o comerciante Carlos Jesus de Almeida Ávila, 69 anos, e o pintor José Carlos Santos da Silva, 48 anos. Pelos menos 300 tiros foram disparados, segundo a polícia.
Em três momentos da ação de segunda, os PMs tiveram a companhia de um helicóptero que chamava ainda mais a atenção da comunidade. Celulares voltados para o alto tentavam fotogravar a aeronave, que jogava seu facho de luz à frente das viaturas.
Seguindo um trajeto de curvas fechadas e estreitas, as caminhonetes pareceram perdidas em pelo menos dois momentos. Derrapando, acelerando, venciam subidas de rali. Mas, ao chegarem a uma via asfaltada e mais ampla, revelavam ter adotado um atalho desaconselhável para novatos na região.
Sem mandados judiciais para entrar em qualquer casa, a ação consistia na abordagem aleatória de pedestres, carros e motos encontrados pelo caminho. Na Rua José Madrid, um taxista foi parado. Um ônibus com passageiros esperou a conclusão da abordagem para seguir caminho.
- É isso aí mesmo. Tem de fazer isso - se limitou a dizer um morador da rua que abriu a porta da garagem para acompanhar a movimentação em frente.
Foto: André Ávila
Passados 10 minutos da meia noite de terça, após cinco abordagens sem presos, a equipe deu por encerrada a investida no interior do bairro na Rua Dr. Murtinho.
- Outras equipes da operação apreenderam um revólver calibre 38. Também houve uma prisão por tráfico e apreensão de quantidade de droga já embalada - comentou o capitão do BOE Fábio de Souza.
No total, somando as ações nas zonas leste, norte e sul, a quinta edição da Operação Avante na segunda-feira prendeu cinco pessoas, três por porte ilegal de arma, uma por tráfico e outra era foragida. Quatro armas foram recolhidas, além de quantidade de droga e de dinheiro sem procedência com os suspeitos.
* Diário Gaúcho