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Crise na Segurança

Briga entre facções deixa 10 feridos e dois mortos em Porto Alegre

Tiroteios em dois pontos diferentes da cidade teriam somado cerca de mil tiros na noite deste sábado

21/02/2016 - 09h59min

Atualizada em: 21/02/2016 - 17h36min


Vanessa Kannenberg
Vanessa Kannenberg
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Cartaz em frente a mercado exibe comoção pela morte do dono do local

A disputa por pontos de tráfico de drogas é apontada pela Brigada Militar como a causa de pelo menos dois tiroteios na noite deste sábado, na Vila Cruzeiro do Sul, bairro Santa Tereza, e no bairro Bom Jesus. O suposto confronto entre facções deixou dois mortos que não tinham nenhuma relação com a criminalidade e pelo menos 10 feridos.

O serviço de inteligência da BM ainda rastreia quem são os envolvidos, já que os feridos foram levados para pelo menos quatro lugares: hospitais São Lucas da PUCRS, Cristo Redentor e de Pronto Socorro (HPS)., além do posto de saúde da Vila Bom Jesus. Os casos serão apurados pela 1ª DHPP e a suspeita é de que os ataques tenham sido praticados pelo mesmo grupo criminoso.

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Entre os mortos está o dono de um mercado da Rua Ernestina Amaro Torelly, identificado como Carlos Jesus de Almeida Ávila, 69 anos. Ele foi atingido por um disparo na cabeça quando tentava se refugiar dos tiros correndo para dentro do seu mercado.

Em frente ao Super Ávila, um cartaz com a palavra "luto" exibe a indignação e a comoção dos moradores. Entre os poucos que aceitaram comentar o assunto com a reportagem, um homem, que mora há 52 anos no bairro e prefere não se identificar, diz que o tiroteio ocorreu no final da tarde, quando o comerciante se preparava para fechar o mercado. Para ele, Ávila foi baleado por engano.

– Ele é tranquilo, conheço desde criança, não estaria envolvido – diz o morador. – Um carro e uma moto chegaram atirando. E vem mais por aí. Já estamos com toque de recolher (no bairro Jardim Carvalho e Bom Jesus) há um mês, desde que decapitaram um guri. Depois das 21h, tu não vê ninguém na rua.

Outra testemunha anônima conta que estava em casa quando o tiroteio começou e que se escondeu na tentativa de escapar do fogo cruzado:

– Nunca vi nada parecido com isso. Parecia cena de filme de bangue-bangue, não parava nunca o barulho dos tiros – relata o morador.

Segundo ele, a comunidade está "órfã" após a morte do comerciante, pois Ávila estava sempre disposto a ajudar os vizinhos, como um "paizão". O morador ainda conta que Ávila era casado e tinha um casal de filhos.

O outro assassinado pelo ataque que, segundo a Polícia Civil, teria resultado em até 300 tiros de fuzil .223 e pistolas 9mm e .380 foi o pintor José Carlos Santos da Silva, 48 anos. Na tentativa de escapar dos tiros na Rua Original, ele se viu encurralado e foi alvejado por pelo menos 12 tiros. O pintor ainda foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

Segundo moradores da região, ele morava em Osório e visitava uma amiga no bairro.

Rua Ernestina Amaro Torelly foi palco do principal tiroteio deste sábado

Facções x Bala da Cara

As informações ainda são desencontradas e, devido ao medo da população, muitas testemunhas não dão detalhes à polícia. O medo de represálias e de novos tiroteios levou o Comando de Policiamento da Capital (CPC) a reforçar as equipes ainda durante a madrugada. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (BOE) fazem patrulha principalmente no bairro Jardim Carvalho, onde teria ocorrido o principal confronto.

– Pelo relato dos agentes, foram mais de mil tiros disparados. Parte deles seria de fuzil 5.56 (de uso restrito das forças policiais) – afirma o comandante interino do 20º BPM, major Dagoberto Albuquerque da Costa.

A segunda vítima morta ainda não foi identificada pela Brigada.

– Ao que tudo indica, facções se uniram contra os Bala na Cara(facção originada no Bairro Bom Jesus). Uma abriu fogo contra a outra em função da tomada de ponto de drogas. Essa é a principal pauta deles – afirma Costa.

Para o comandante interino do CPC, tenente-coronel Carlos Alberto Andrade, uma das saídas para conter a violência na região é controlar a entrada de armas.

– Precisamos de uma medida mais drástica, temos que desarmar esse pessoal. E não estamos conseguindo. Temos que ter controle maior de entrada de armas nas vilas, se não o número de mortos não vai parar de subir – afirma Andrade.


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