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Crise na Segurança

"Meu pai pensava em sair daqui", diz filho de comerciante morto em tiroteio

Comerciante há cerca de 40 anos no Bairro Bom Jesus, Carlos Ávila, 69 anos, era como um paizão na comunidade, mas temia a violência crescente

21/02/2016 - 14h21min

Atualizada em: 21/02/2016 - 14h30min


Eduardo Torres
Eduardo Torres
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O filho, Roberto Ávila, 32 anos, ainda nem era nascido quando o comerciante Carlos Jesus de Ameida Ávila, 69 anos, montou um mercado na Rua Ernestina Amaro Torelly, Bairro Bom Jesus, na Zona Leste de Porto Alegre. Na comunidade, não havia quem não conhecesse o "seu Ávila". Pois nem ele escapou do alvo da criminalidade. Foi uma das vítimas do intenso tiroteio que abalou o bairro na noite de sábado.

Tiroteio foi registrado em gravação:

– Estão todos em choque ainda, porque o pai era querido por todos, nunca fez mal a ninguém. Cansava de ajudar a qualquer um que precisasse. Era um guerreiro pela paz na nossa comunidade – conta o filho, que ajudava o pai no comércio.

Como antigo morador do bairro, o comerciante viu mudar também o perfil da criminalidade. E isso o preocupava.

– Meu pai pensava em sair daqui. Me disse mais de uma vez que a violência agora estava demais, fora do controle. Talvez fosse a hora de ir embora – lembra Roberto.

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Carlos, que passou os últimos oito meses em uma batalha contra o câncer, foi surpreendido quando os atiradores passaram pela rua disparando. Ele acabara de estacionar a caminhonete que usava para buscar produtos na Ceasa e entrava no mercado. Ainda tentou correr e se proteger, mas um disparo lhe atingiu a cabeça. A esposa, que estava próxima, passou mal e precisou ser hospitalizada.

A morte registrada com uma placa em sinal de luto em frente ao mercado repercutiu também nas redes sociais. As comunidades do bairro no Facebook relatam a indignação dos moradores. E diversos desabafos contra a violência.

Desabafo de uma moradora contra a violência no bairro

– Ele viu se criarem boa parte dos guris que foram para caminhos errados. Tentou aconselhar, levar para a igreja. Acho que o meu pai fez tudo o que pôde para o bairro não ficar como está – desabafa o filho.

O comerciante será sepultado na manhã desta segunda, no Cemitério João XXIII.

De acordo com os investigadores da 1ª DHPP, pelo menos 15 homens fortemente armados invadiram o bairro por volta das 20h de sábado em pelo menos três carros e sete motos. Depois dos tiros na Rua Ernestina Amaro Torelly, houve confronto entre os becos da Rua Original. E ali, tombou o pintor José Carlos Santos da Silva, 48 anos.

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