Polícia



Dia Internacional da Mulher

Como uma promotora legal popular combate a violência doméstica

Há mais de 20 anos, Maria Guaneci ajuda mulheres que são vítimas de agressões dentro da própria casa.

08/03/2016 - 09h01min

Atualizada em: 08/03/2016 - 09h01min


Adriana Franciosi / Agencia RBS
Com outras promotoras legais populares, Guaneci exibe com orgulho cartaz de evento no dia 23 de março

A reação do então companheiro não sai da memória. Quando Maria Guaneci Marques de Ávila, moradora há 28 anos da Restinga, Zona Sul da Capital, levou para casa uma mãe e cinco filhos que não tinham para onde ir, ele não gostou.

- Eu percebi que tinha de vencer esse tipo de reação também. Mas a minha casa era o único lugar onde o companheiro dela não a procuraria - lembra Maria Guaneci.

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Vítima de violência doméstica, a mulher e as crianças fugiam do marido e pai agressor. Tinham apenas as roupas do corpo. Maria Guaneci tinha pouco espaço, mas arredou móveis, puxou colchões e ofereceu um lugar seguro para uma família refugiada. No dia seguinte, alimentados e com passagens compradas, foram de ônibus em segurança para o interior do Estado.

Acesso à Justiça

A história até hoje emociona a Promotora Legal Popular (PLP) Maria Guaneci, de
58 anos. Formada PLP em 1995 pela ONG Themis, ela conta mais de 20 anos em uma mesma missão na Restinga: orientar outras mulheres a ter acesso à Justiça e a serviços de proteção quando têm seus direitos ameaçados, o que muitas vezes ocorre dentro da própria casa.

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Hoje, são mais de 500 PLPs formadas pela Themis com essa missão em Porto Alegre. E o programa de formação foi implementado em 2015 em 14 municípios gaúchos e em 11 Estados.

Estação Themis

No curso de PLP, Maria Guaneci recebeu noções básicas de Direito, direitos humanos das mulheres, organização do Estado e do Poder Judiciário. São as ferramentas com as quais tenta tirar mulheres de uma violência doméstica que, muitas vezes, para a vítima já é rotina.

- Uma mulher grávida nos relatou que o marido a obrigou a dormir no chão da cozinha porque era gorda e feia. Ela não estava revoltada - lembra a PLP.

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A experiência de Maria Guaneci mostra que chegar a uma mulher vítima dessa violência é um trabalho de paciência. A abordagem nunca deve ser direta. Deve-se deixar a mulher à vontade para falar e buscar ajuda. A paciência parecida com a de um pescador após lançar a isca.

- Não é fácil uma mulher buscar ajuda. Esse agressor é, muitas vezes o homem que ela ama, o pai dos seus filhos, quem a sustenta. Ela precisa ser buscada, apoiada, acompanhada - conta Guaneci.

Hoje, Guaneci estará na estação Mercado da Trensurb, no Centro da Capital, com o Estação Themis em um estande divulgando informações sobre acolhimento e proteção a mulheres.

- O Dia da Mulher é importante, mas não é para comemorar. Temos muito o que fazer ainda - alerta Maria Guaneci.


"Ela precisa estar com raiva e dor"

Uma luta volta com força no horizonte de Guaneci: um posto de atendimento à mulher vítima de violência doméstica na Restinga, junto à 16ª DP, na Estrada João Antônio da Silveira. Ela afirma que a reivindicação é antiga. O posto seria um estímulo a mais a queixas de agressão.
  
- A mulher precisa estar com raiva e dor para prestar queixa. Porque quando eles passam, o medo volta e ela acaba não buscando ajuda - diz.


COMO DENUNCIAR

- Telefone Lilás: 0800 541 0803 ou dos serviços do Centro de Referência da Mulher. 

- Atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h na Travessa Tuyuty, nº 10 - Loja 4, esquina com Rua André da Rocha, no Centro Histórico de
Porto Alegre.

- Ou nas 21 Delegacias Especializadas no Atendimento a Mulher no Estado.

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* Diário Gaúcho


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