Amor que nutre a vida toda
Leite materno previne doenças e pode deixar bebê mais inteligente
Estudo comprova que, quanto mais duradouro o período de amamentação na infância, maiores os níveis de inteligência
O bebê nasceu, e, junto com ele, um novo mundo de sentimentos e desafios. Entre os mais marcantes, a amamentação. O leite materno é tudo que o bebê precisa para matar a sede e a fome, crescer e ficar protegido contra muitas doenças, nos primeiros meses de vida. E as vantagens não são apenas para os pequenos. A amamentação pode ter resultados benéficos para o corpo da mãe, após a gestação. Sem falar que o aleitameto estreita o laço entre a mulher e seu bebê.
Até aqui, nada de muito novo. Novidade, mesmo foi trazida por um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), publicado na revista científica The Lancet, no último dia 18. Uma pesquisa conduzida desde 1982, com mais de 3,5 mil recém-nascidos, concluiu que os efeitos benéficos do aleitamento podem ser sentidos na vida adulta, especialmente no nível intelectual.
O estudo comprova que, quanto mais duradouro o período de amamentação na infância, maiores os níveis de inteligência e renda média na vida adulta até os 30 anos. Segundo a pesquisa, as crianças que foram amamentadas até 1 ano de idade têm quociente de inteligência (QI) mais elevado _ 0,9 a mais que as que não receberam leite materno. E não é só isso. Quem mamou no peito também ganha mais: o salário é cerca de R$ 341 mais alto dos que não foram amamentados até o primeiro ano de vida. Isso porque, segundo os especialistas, o leite materno tem uma composição única e, graças aos ácidos graxos de cadeia longa, são fundamentais no desenvolvimento do cérebro.
Outra descoberta do trabalho diz respeito à prática da amamentação entre as classes sociais. No Brasil, mulheres com maior renda e escolaridade amamentam os filhos por menos tempo.
Levantamento do Ministério da Saúde realizado em todas as capitais, no Distrito Federal e em outros 239 municípios brasileiros, somando informações de aproximadamente 118 mil crianças, mostra que o tempo médio do período de Aleitamento Materno no país cresceu um mês e meio. Passou de 296 dias, em 1999, para 342 dias, em 2008. O estudo também revelou um aumento do percentual de mulheres que realizam o Aleitamento Materno Exclusivo em crianças menores de quatro meses. Em 1999, era de 35%, passando para 51% em 2008. Outro resultado importante está relacionado com o aumento, em média, de um mês na duração do Aleitamento Materno Exclusivo (AME) nas capitais e Distrito Federal. Em 1999, a duração do AME era de 24 dias e, em 2008, passou a ser de 54 dias - ou seja, mais que dobrou.
Aleitamento cresceu nos últimos sete anos
Em 2008, 41% das mães brasileiras amamentavam exclusivamente nos primeiros seis meses de vida do bebê. Atualmente, o Ministério da Saúde trabalha na elaboração de novo estudo e, observando a tendência de crescimento, estima um aumento, nos últimos sete anos, de 10,2% no número de crianças sendo amamentadas exclusivamente até seis meses. Estudos mostram que o leite materno é capaz de reduzir em 13% as mortes por causas evitáveis em crianças menores de cinco anos. Mais do que é evitado pela vacinação ou pelo saneamento básico, segundo a OMS.
_ O papel do Ministério da Saúde com a promoção de campanhas educativas e outras ações desenvolvidas em nível nacional, inclusive com o estímulo à adoção da iniciativa Hospital Amigo da Criança e da criação dos bancos de leite, é fundamental nesse processo. Isso se transforma em algo concreto, que é o aumento da prevalência de amamentação no Brasil, reconhecido, inclusive, fora do país _ comenta o pesquisador Bernardo Horta, um dos responsáveis pelo estudo da UFPel.
Tantas vantagens tornam o ato de amamentar ainda mais fundamental para a vida do seu bebê. Nas próximas páginas, você confere informações importantes sobre o aleitamento materno.
No começo, pode ser difícil
Amamentar é um ato bonito, mas não é tão simples quanto pode parecer. São muitas as mães, especialmente as de primeira viagem, que sentem dificuldades nesta etapa. É preciso paciência e perseverança para que esse momento se torne agradável para mamãe e bebê.
Foi assim que aconteceu com a funcionária pública Ravele Bueno Goularte, 29 anos. Ela, que é mãe de Pedro, 7 meses e meio, teve dificuldade nos primeiros dias. Mesmo com bastante informação sobre o assunto, demorou para se acostumar.
_ Eu não sabia se ele estava pegando (o seio) direito. Era dolorido. Mas, depois dos dois primeiros meses, virou uma coisa prazerosa. Sem falar que tem esse lado sobre criar vínculo com o bebê mesmo _ conta Ravele.
Hoje, a alimentação de Pedro já está mais diversificada, mas o "mamá" que ele toma é só o da mãe. Até mesmo na escolinha, a "merenda" é do peito: o leite materno congelado é aquecido na creche.
Taís Vieira, 33 anos _ psicóloga e mãe de Alicia, dois meses _ , sofreu com as fissuras no bico dos seios no início do aleitamento. Hoje, a hora de amamentar é pretexto para que Alícia relaxe e pegue no sono e ajuda até mesmo no alívio das cólicas.
_ Parece que esse é o nosso momento. É algo que a gente não controla, não sabe se tem leite suficiente. Mas tem que acreditar no teu corpo e tentar focar em dar certo _ conta Taís.
Vantagens para mamãe e bebê
A nutricionista Camila Lehnhart Vargas, consultora em amamentação, lembra que são inúmeros os benefícios para o bebê que se alimenta do leite materno. Ela destaca a melhora da digestibilidade, da imunidade do bebê e da prevenção de alergias.
A longo prazo, o leite da mãe pode reduzir os riscos de hipertensão, obesidade e de colesterol alto _ sem falar que a amamentação ajuda no desenvolvimento das mandíbulas e da arcada dentária da criança.
Para as mães, também há vantagens. Entre elas, a redução da hemorragia pós-parto, a prevenção de câncer de mama e de colo uterino a acelerarão da perda de peso após a gestação.
Não desistir sem tentar muito
Amamentar envolve muito o "querer", a persistência da mãe em amamentar seu bebê, além de uma série de fatores externos e físicos. Fisioterapeuta da UTI Neonatal do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), Cláudia Goulart atua em um grupo multidisciplinar de apoio para mães e bebês. Frequentemente, ela lida com crianças prematuras ou portadoras algum problema de saúde que dificulte o aleitamento materno. Sua missão é garantir que o recém-nascido receba alimento do peito de sua própria mãe no período de internação.
Ela ensina as mamães a estimular a "descida" do leite, bem como métodos para esgotar o alimento que será servido para a criança. Além disso, prepara as mulheres para o momento da amamentação propriamente dita.
_ O importante é que a mãe sinta vontade de amamentar. Ela tem de ter o desejo e é preciso respeitar sua vontade. E que se torne este momento algo prazeroso, que realmente beneficie o bebê e a mãe _ explica Claudia.
Ela lembra que, nos primeiros dias depois do nascimento, há muitas situações de dificuldade. As mães que passam por cesárea, por exemplo, podem demorar mais para que o leite desça. Além disso, nos primeiros dias de amamentação, a mãe também pode ter dor ou febre, e precisará de cuidados para que não perca o desejo de amamentar.
_ É preciso tentar todas as possibilidades antes de desistir _ defende Camila.
Nos casos em que a mãe não produz leite, a alimentação indicada para o bebê são as fórmulas lácteas, que são especificadas conforme a faixa etária e devem ser usadas até o primeiro ano de vida.
_ Mas as fórmulas são indicadas em último caso, depois de se esgotarem todas as tentativas. É sempre importante que as mães que queiram amamentar procurem orientação de profissionais antes de desistir _ diz a nutricionista.
No primeiro ano, o leite industrializado ou de vaca é contraindicado, já que não têm os nutrientes necessários:
_ O leite de vaca tem um potencial alergênico bem elevado, além de ter baixo teor de ferro. É uma proteína mais agressiva, por isso, não é indicada.
DICAS
Livre demanda _ Nos primeiros meses de vida, é importante deixar o seu bebê mamar no horário em que ele pedir e a quantidade que ele quiser.
Hidratação _ Além de alimentar, o leite materno hidrata a criança. Portanto, as mães precisam tomar pelo menos 2 litros de água por dia.
Cafeína _ A cafeína, por ser estimulante, pode atrapalhar o desenvolvimento do bebê. Tanto na fase da gravidez quanto da amamentação é importante evitá-la. A nutricionista Camila Lehnhart Vargas diz que pode-se consumir, no máximo, duas xícaras pequenas de café por dia.
Cerveja preta é mito _ Quem nunca ouviu falar que cerveja preta ajuda a produzir leite? Mas isso é um mito. A bebida contém álcool, e seu consumo não é recomendado durante a gestação e a lactação.
De olho nos excessos _ Sal e açúcar demais nunca são bom aliados, portanto fique de olho na quantidade a ser consumida. Adoçante também não é recomendado.