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Mais crédito

Especialistas temem aumento do endividamento com ampliação de empréstimos com desconto em folha

Condição do governo para ampliar o consignado de 30% para 35% da renda é que esses "5%" adicionais sejam utilizados no cartão de crédito

15/07/2015 - 19h16min

Atualizada em: 15/07/2015 - 19h16min


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Ninguém tem enfrentado mais dificuldade para pagar as contas em dia do que os idosos - e o quadro pode piorar com a ampliação do limite para crédito consignado (descontado em folha), em vigor desde o início da semana.

- Sob o ponto de vista da taxa menor de juros do consignado, a medida é positiva. Mas pela maior fatia de comprometimento da renda, ela pode levar mais facilmente à inadimplência - avalia Júlio Leandro, superintendente da Serasa Experian.

A condição do governo para ampliar o consignado de 30% para 35% da renda é que esses "5%" adicionais sejam utilizados no cartão de crédito. O problema é que os idosos já enfrentam dificuldades para pagar dívidas.

A fatia de devedores com 61 anos ou mais passou de 11,8% para 12,2% do total em maio, conforme a Serasa Experian. A diferença indica que 600 mil desses consumidores entraram na lista de inadimplentes de um ano para outro. Outro levantamento, do SPC Brasil, confirma o movimento. Em maio, o calote aumentou mais que a média justamente entre pessoas de 65 a 84 anos (9,1%) e de 84 a 94 anos (10,18%).

Vantagem está no juro menor

O receio de especialistas é que, ao permitir que este endividamento cresça, o governo reduza a parcela "livre" da pensão para o pagamento de outras dívidas e para compra de produtos importantes para o dia a dia, como medicamentos e alimentos. Afinal, é uma linha de crédito que não se pode postergar o pagamento, porque vem descontado do salário.

- Apesar de 5% parecer pouco, como a inflação alta, logo o custo com comida e remédios sobe. Aí, os 65% restantes não valerão a mesma coisa. É melhor pensar sempre com uma margem maior de folga devido à atual alta persistente de preços - avalia Jó Adriano da Cruz, membro da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).

O diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, reconhece que trocar uma dívida que possa terminar no rotativo por outra com desconto em folha é um bom negócio em razão dos juros. A taxa do crédito consignado ronda os 27,2% ao ano, um dos mais baixos do país, enquanto do rotativo do cartão de crédito (quando se paga o mínimo da fatura, financiando o restante) pode passar de 360,6% ao ano - um dos mais altos do mundo.

Uma série de fatores colocam os idosos em posição frágil no pagamento de dívidas. Primeiro, há um dificuldade natural em compreender o peso de todos empréstimos e as condições de pagamento. Além disso, muitas vezes os velhinhos "emprestam" o nome para algum parente (muitas vezes endividado) tomar crédito ou abrir crediário. E - sabe-se como terminam essas coisas -, quando o orçamento do parente aperta, o vovô acaba sendo o último a receber.


1. Como o pagamento do cartão será comprovado?

O texto da medida provisória (MP) não deixa claro como será feita a comprovação de que o valor de 5% a mais da parcela se destina ao pagamento de faturas em atraso ou de renegociação de divididas do cartão. Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Samy Dana, porém, como a MP sinaliza que cabe à instituição financeira fazer essa comprovação, o mais provável é que o cliente do cartão faça um empréstimo consignado para pagar essa dívida por meio da portabilidade bancária.

2. Quais os riscos do crédito consignado?

Especialistas ressaltam que, apesar de ser ter juro menor do que outras opções de empréstimos pessoais, a taxa anual de 30% dessa linha é um custo considerável. E acrescentam que, ao comprometer 35% da renda (como permite a nova regra), o usuário da linha de crédito estará tirando 5% de sua receita mensal destinada, por exemplo, para comida, remédio ou aluguel.

Apesar de parecer pouco, em curto espaço de tempo, ele voltará a necessitar de empréstimo para as contas do dia a dia. Além disso, os especialistas explicam que os 65% da renda que hoje são suficientes podem não ser nos próximos meses, já que os índices de inflação seguem em alta.


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