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Vale do Caí

Montenegro: uma cidade de luto

29/09/2012 - 11h49min

Atualizada em: 29/09/2012 - 11h49min


Nas casas, no comércio e nas ruas de Montenegro não se fala de outra coisa. Uma semana depois da explosão que causou quatro mortes e deixou duas vítimas em estado grave, a tragédia na Masisa continua pautando as rodas de conversa. Moradores estão em estado de choque, familiares, amigos e colegas desolados e a empresa e a polícia apuram as causas da explosão.

Desde o incêndio que causou o vazamento de gás na Doux Frangosul e pôs moradores vizinhos da empresa em pânico há dez anos, nenhum outro acidente havia chocado a população de Montenegro, município com cerca de 60 mil habitantes no Vale do Caí, como o da Masisa, que completa uma semana neste sábado. A fábrica de produção de painéis de madeira MDP, localizada na ERS-124, suspendeu as atividades por tempo indeterminado.

A explosão causou a morte de quatro operários e deixou outros dois gravemente feridos. O sétimo ferido foi liberado.

Em praças, esquinas e mesas de bar moradores buscam explicações para o que aconteceu. O prefeito Percival Souza de Oliveira (PMDB) pensa na tristeza dos parentes:

- Imagine como as famílias recebem uma notícia destas. Foi um choque grande na cidade, abalou a todos.

Vagner e Cristiano seguem internados

Na sexta-feira, Vagner Costa da Silva, 29 anos, e Cristiano Flores de Souza, 29 anos, seguiam internados na CTI do Hospital Unimed Vale do Caí, em Montenegro.

Ambos estão em coma induzido e respiram com a ajuda de aparelhos. Vagner, operador de produção, teve cerca de 80% do corpo queimado.

Cristiano, mecânico de manutenção, está com queimaduras em 50% do corpo. Além da idade, Vagner e Cristiano têm outra coisa em comum: são pais de dois filhos, com seis e nove anos de idade.

Nas mãos de Deus

A dor que eles sentiram na pele chamuscada pelo fogo é amenizada pelo tratamento. Já o abalo emocional, visível na expressão e no olhar de pais, mulheres, filhos e irmãos parece não ter fim. Duas vezes por dia, eles se concentram na recepção do hospital à espera dos boletins médicos. Na falta de um diagnóstico que garanta a sobrevida dos doentes e atenue a angústia, familiares buscam o apoio da religião.

Na sexta, enquanto o pai de Vagner, Romário da Silva, 55 anos, e o irmão do operador, Fábio Costa da Silva, 37 anos, caminhavam sem rumo pelo pátio do hospital, a esposa do paciente internado, Rosimeri Bonoto, rezava pela saúde do marido num culto da Igreja Pentecostal Assembleia de Deus. No alto da entrada do prédio, que fica ao lado do hospital, a mensagem indicava o que eles mais precisam neste momento: ombro amigo.

- Estamos buscando Deus, porque a gente sabe que a situação é bem grave - balbuciou Fábio.

Gritos, correria e tristeza

O estrondo que cuspiu labaredas no ar e tingiu o céu com uma fumaça escura não sai da memória dos colegas.

Muitos como o auxiliar de produção João Vargas, 40 anos, ajudaram a socorrer as vítimas.

- Ajudei a combater o fogo com outros colegas e vi alguns feridos deitados. Foi horrível - lembra João.

Moradores lamentam

À beira do Rio Caí, o empresário aposentado Pedro Vianna, 67 anos, o transportador autônomo Luiz Valdeni Flores, 70 anos, e o motorista aposentado Mauro Tarântula, 57 anos, lamentavam a fatalidade que vitimou pessoas jovens. Três vítimas tinham 18, 26 e 32 anos. O quarto operário morto, 61 anos.

- São jovens que perderam a vida trabalhando - comentou Pedro.

Luiz conta que, no dia do incidente, a comoção foi geral:

- Todo mundo tem um parente ou um amigo que conhece pessoas que trabalham lá.

A investigação

- O acidente é investigado pela Polícia Civil e por uma consultoria especializada contratada pela empresa.

- Levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego revela que a Masisa não tinha um plano de prevenção para acidentes como o da explosão.

- Após a análise do levantamento, os fiscais apontaram que o acidente pode ter sido causado por diferentes falhas.

- A empresa está realizando uma análise dos vídeos do dia do acidente, mas é possível que a explosão tenha danificado as imagens.

Os mortos

Thiago de Freitas Monteiro
Idade: 32 anos
Cargo: operador líder
Cidade: Guaíba
Tempo de trabalho na Masisa: três anos e sete meses

Lucas Mateus Teixeira
Idade: 26 anos
Cargo: operador de produção
Cidade: Montenegro
Tempo de trabalho na Masisa: três anos e três meses

Dirceu Peixoto dos Santos
Idade: 61 anos
Cargo: auxiliar de serviços gerais
Cidade: Montenegro
Tempo de trabalho na Multipolo (empresa prestadora de serviços de limpeza na Masisa): cinco meses

Marcos Vinícius da Paz
Idade: 18 anos
Cargo: auxiliar de serviços gerais
Cidade: Triunfo
Tempo de trabalho na Multipolo: seis meses


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