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Educação aos pedaços

Sem professor, a aula é de jogo de cintura na rede pública da Capital

DG apresenta hoje a segunda matéria da série que investiga o déficit de professores no início do ano letivo na rede pública da Capital. Em 87 colégios, havia 45 ausências

15/03/2013 - 07h53min

Atualizada em: 15/03/2013 - 07h53min


Na mesma sala, Vera Aguiar dá aula para 50 alunos de duas turmas diferentes

Unir turmas, levar os alunos para a biblioteca, propor jogos. Essas são algumas alternativas encontradas pela direção do Instituto Estadual Rio Branco, na Capital, para ocupar os estudantes de sete turmas do ensino médio que estão desde o início do ano letivo sem professor de Física. E o problema vai além, incluindo Matemática e Português.

- Não podemos deixar os alunos na rua, é um perigo em todos os sentidos. Temos que criar alguma coisa. Isso não é problema do aluno, é nosso e da secretaria. E a nossa parte estamos fazendo. Já fizemos estudo de quadro três vezes - afirma a diretora Elsa dos Anjos Costa.

Desde o período de férias, ela e o vice-diretor Jocemir João Chiodi tentam preencher as lacunas do quadro de professores na escola e levar à 1ª Coordenadoria Regional de Educação (Cre), sem sucesso.

Mistura de conteúdos

Na quarta-feira, por exemplo, uma turma de primeiro ano do ensino médio, que teria aulas de Física, foi atendida pela professora de Geografia, que lecionava para o segundo ano.

Na sala com 50 estudantes, dois conteúdos diferentes estavam propostos: um lado do quadro tratava de crescimento demográfico e, do outro, cartografia.

- É difícil. Perdi 15 minutos só para organizar a turma, buscamos classes. Não é uma aula que dê proveito, é só um quebra-galho - lamenta a professora de Geografia Vera Lúcia Aurélio de Aguiar.

Paloma Bene, 17 anos, aluna do primeiro ano, se sente prejudicada porque além da falta das aulas de Física, não há professores para atender nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa.

- Às vezes, nos dão atividades extras para não sairmos ainda mais cedo - diz Paloma.

De acordo com a direção, se a 1ª Cre autorizar a ampliação de carga-horária dos professores contratados que já atuam na escola, a falta nas duas disciplinas estará resolvida.

- No início, parece ser bom ir embora mais cedo, mas na verdade não é porque teremos que recuperar o conteúdo depois, e aí será muita matéria - observa Alexandre Santos da Silva Júnior, 17 anos, aluno do segundo ano.

O que diz o Estado

Titular da 1ª Cre, Antônio Quevedo Branco afirma que todo o setor de recursos humanos está envolvido em buscar soluções para a falta de professores. Há falta, com maior frequência, em Português, Química, Inglês e Artes.

Segundo ele, cabe à direção de cada escola verificar a carga-horária ocupada em sala de aula por seus professores e identificar aqueles que podem cumprir as horas que restam atendendo outras turmas.

Com esse levantamento em mãos, a direção deve ir à 1ª Cre. Há, também, a possibilidade de ampliar a carga-horária dos contratados.

Para o coordenador, o fato de os alunos não estarem tendo aulas de algumas disciplinas neste início de ano letivo não é um problema:

- Sempre se recuperou pedagogicamente e didaticamente, sem prejuízo.

O que diz a prefeitura

A blitz do Diário inclui, a partir de agora, as escolas municipais também. No entanto, a reportagem tem encontrado resistência nas equipes diretivas, que preferem não informar a situação. De 21 escolas municipais consultadas, quatro delas (Jardim Camaquã, Vila Mapa 2, Tio Barnabé e Dom Luiz de Nadal) se negaram a atender à solicitação.

A diretora de recursos humanos da Secretaria Municipal da Educação (Smed), Zuleica Beltrame, explica que os pedidos de aposentadoria (a vaga só é aberta quando é publicada a situação) e as exonerações são as causas das ausências. O caso das demissões, de acordo com a diretora, não é possível prever.

Zuleica destaca que, mensalmente, estão ocorrendo nomeações de professores. Inclusive, há a posse provisória, situação na qual o docente assume antes de realizar todos os exames, para dar agilidade ao processo - que pode levar uma semana até dois meses. Zuleica assegura que os alunos não são dispensados:

- São situações provisórias. E a situação é razoavelmente tranquila. Estão chegando nomeados todos os dias.

Blitz nas escolas

Segunda etapa da ronda em colégios estaduais e municipais da Capital. Ligações feitas entre os dias 5/3 e 14/3:

45 ausências em 24 escolas

63 colégios estavam com equipe completa

87 estabelecimentos de ensino foram consultados no total

Hoje começa a terceira etapa da checagem

Onde estão faltando

A reportagem do Diário Gaúcho entrou em contato com 87 escolas estaduais e municipais de Porto Alegre. Destas, 24 apresentaram faltas, totalizando 45 professores.
REDE ESTADUAL

Brigadeiro Francisco de Lima e Silva (Rua Tunísia, 60, Jardim Itati): dois das Séries Iniciais

Imperatriz Leopoldina (Avenida Itajaí, 241, Petrópolis): dois de Matemática

Rio Branco (Avenida Protásio Alves, 999, Santa Cecília): um de Física, dois de Português e um de Matemática

Oswaldo Aranha (Rua Parque dos Nativos, 545, Vila Ipiranga): um de Matemática e um de Ciências

General Daltro Filho (Avenida América 145, Auxiliadora): um de Matemática

Jeronimo de Ornelas (Rua São Miguel, 487, Aparício Borges): um de Matemática, um de Ciências e um de História

Olegário Mariano (Rua Olinda, 99, Floresta): um de Séries Iniciais

Cristo Redentor (Rua Zeca Netto, 149, Cristo Redentor): dois de educação especial

Paraíba - Ciep (Rua Adão Pinheiro da Silva, 490, Aberta dos Morros): um de Português

Professora Maria Thereza da Silveira (Rua Furriel Luiz Antônio de Vargas, 135, Mont' Serrat): um de Séries Iniciais

Onofre Pires (Beco do David, 269, Lomba do Pinheiro): um de Português e um de Artes

Medianeira (Rua Gomes Carneiro, 45, Medianeira): um de Matemática

Otávio Mangabeira (Rua Silvio Silveira Soares, 2711, Camaquã): um de Ciências, um de Séries Iniciais, um de Espanhol

Pedro Américo (Estrada Chapéu do Sol, 1680, Belém Novo): um de História

Desiderio Torquato Finamor (Av. Bento Gonçalves, 7500, Agronomia): um de Inglês

Iba Ilha Moreira (Rua 1, s/n, Cefer): um de Português e um de Educação Física

Poncho Verde (Rua Petronio Portela, 1100, Rubem Berta): um de Português e um de Inglês

Jardim Vila Nova (Rua Fernando Pessoa, 380, Vila Nova): um de Português e um de Matemática

David Canabarro (Rua Lidia Moschetti, 200, Jardim Leopoldina): um de Matemática

REDE MUNICIPAL

Campos do Cristal (Beco Império, 75, Vila Nova): um de sociohistória

São Pedro (Rua Beco da Taquara, 1190, Lomba do Pinheiro): um de Séries Iniciais e um de Inglês

Wenceslau Fontoura (Rua Irma Inês Favero, Mario Quintana): um para Séries Iniciais

Afonso Guerreiro Lima (Rua Guaíba, 203, Lomba do Pinheiro): um de Português, três de Séries Iniciais e um de Línguas Adicionais (Francês)

Jean Piaget (Av. Major Manoel José Monteiro, 1, Rubem Berta): um de Ciências e um volante (qualquer turma)

Das primeiras 50 faltas, 26 reposições

Na reportagem publicada no dia 7 de março, entre os 74 estabelecimentos consultados, havia 50 professores faltando em 22 escolas. O Diário Gaúcho voltou a fazer contato com estas escolas e constatou que foram repostos 26 professores (ou as escolas fizeram remanejo dos que já atuavam na escola, estenderam carga horária, por exemplo).

Porém, naquele grupo de colégios, ainda faltam 26 ou 27 professores. Isso porque houve mais três baixas e, em uma escola, a diretora não quis revelar se recompôs seu quadro.

Na campeã em faltas (seis) na primeira reportagem, boas notícias. A Escola Técnica Estadual Senador Ernesto Dornelles, no Centro, para a falta de um professor de Matemática, foi feita ampliação de carga horária de um professor que já estava na escola. O mesmo ocorreu com Literatura e Design. E dois de Inglês já chegaram. Falta apenas Prótese Dentária.

Houve casos em que o Diário Gaúcho serviu de alerta a docentes que estão no mercado. Ao saber de vagas, eles procuraram colégios em busca de emprego.

Atualização do quadro

Presidente Costa e Silva (Medianeira): continua a faltando de Inglês

Gonçalves Dias (Passo D'Areia): Geografia reposto, falta um de séries iniciais

Dr. Gustavo Armbrust (Itu Sabará): quadro ficou completo com cinco reposições

Itália (Itu Sabará): Química reposto, falta o de Física

Jerônimo de Ornelas (Aparício Borges): chegou o de Ciências, faltam os de Matemática e História

Marechal Mallet (Vila Jardim): ainda sem um de Inglês e Artes

Professor Oscar Pereira (Cascata): Falta um de Séries Iniciais. Chegaram os três de Português e o de Artes

Padre Rambo (Partenon): à procura de um de Física. Biologia e Química já assumiram

Rafaela Remião (Lomba do Pinheiro): seguem faltando História e Geografia

Padre Balduíno Rambo (Partenon): continuam sem um de Artes e um de Português

Alberto Torres (Vila Nova): chegou o que faltava, Matemática

Professora Lilia Mazeron (Maria Goretti): dois de Português e dois para Educação Infantil já chegaram

Ana Neri (São Sebastião): segue faltando um de Matemática e um de Inglês

Aurélio Reis (Jardim Floresta): ainda falta Matemática

Camila Furtado Alves (Floresta): à procura do de Português

Itamarati (Jardim Barão do Cahy): falta Inglês

Irmão Pedro (Floresta): à procura de Informática e Português

Almirante Barroso (Arquipélago): Matemática e Geografia chegaram

Leopolda Barnewitz (Cidade Baixa): continuam em falta Artes e Inglês

Protásio Alves (Azenha): segue a busca por Informática, Sistema Operacional e Redes

Rio Grande do Sul (Centro): faltava um professor para séries iniciais. A escola negou-se a informar a situação atual.


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