Educação aos pedaços
Sem professor, a aula é de jogo de cintura na rede pública da Capital
DG apresenta hoje a segunda matéria da série que investiga o déficit de professores no início do ano letivo na rede pública da Capital. Em 87 colégios, havia 45 ausências
Unir turmas, levar os alunos para a biblioteca, propor jogos. Essas são algumas alternativas encontradas pela direção do Instituto Estadual Rio Branco, na Capital, para ocupar os estudantes de sete turmas do ensino médio que estão desde o início do ano letivo sem professor de Física. E o problema vai além, incluindo Matemática e Português.
- Não podemos deixar os alunos na rua, é um perigo em todos os sentidos. Temos que criar alguma coisa. Isso não é problema do aluno, é nosso e da secretaria. E a nossa parte estamos fazendo. Já fizemos estudo de quadro três vezes - afirma a diretora Elsa dos Anjos Costa.
Desde o período de férias, ela e o vice-diretor Jocemir João Chiodi tentam preencher as lacunas do quadro de professores na escola e levar à 1ª Coordenadoria Regional de Educação (Cre), sem sucesso.
Mistura de conteúdos
Na quarta-feira, por exemplo, uma turma de primeiro ano do ensino médio, que teria aulas de Física, foi atendida pela professora de Geografia, que lecionava para o segundo ano.
Na sala com 50 estudantes, dois conteúdos diferentes estavam propostos: um lado do quadro tratava de crescimento demográfico e, do outro, cartografia.
- É difícil. Perdi 15 minutos só para organizar a turma, buscamos classes. Não é uma aula que dê proveito, é só um quebra-galho - lamenta a professora de Geografia Vera Lúcia Aurélio de Aguiar.
Paloma Bene, 17 anos, aluna do primeiro ano, se sente prejudicada porque além da falta das aulas de Física, não há professores para atender nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa.
- Às vezes, nos dão atividades extras para não sairmos ainda mais cedo - diz Paloma.
De acordo com a direção, se a 1ª Cre autorizar a ampliação de carga-horária dos professores contratados que já atuam na escola, a falta nas duas disciplinas estará resolvida.
- No início, parece ser bom ir embora mais cedo, mas na verdade não é porque teremos que recuperar o conteúdo depois, e aí será muita matéria - observa Alexandre Santos da Silva Júnior, 17 anos, aluno do segundo ano.
O que diz o Estado
Titular da 1ª Cre, Antônio Quevedo Branco afirma que todo o setor de recursos humanos está envolvido em buscar soluções para a falta de professores. Há falta, com maior frequência, em Português, Química, Inglês e Artes.
Segundo ele, cabe à direção de cada escola verificar a carga-horária ocupada em sala de aula por seus professores e identificar aqueles que podem cumprir as horas que restam atendendo outras turmas.
Com esse levantamento em mãos, a direção deve ir à 1ª Cre. Há, também, a possibilidade de ampliar a carga-horária dos contratados.
Para o coordenador, o fato de os alunos não estarem tendo aulas de algumas disciplinas neste início de ano letivo não é um problema:
- Sempre se recuperou pedagogicamente e didaticamente, sem prejuízo.
O que diz a prefeitura
A blitz do Diário inclui, a partir de agora, as escolas municipais também. No entanto, a reportagem tem encontrado resistência nas equipes diretivas, que preferem não informar a situação. De 21 escolas municipais consultadas, quatro delas (Jardim Camaquã, Vila Mapa 2, Tio Barnabé e Dom Luiz de Nadal) se negaram a atender à solicitação.
A diretora de recursos humanos da Secretaria Municipal da Educação (Smed), Zuleica Beltrame, explica que os pedidos de aposentadoria (a vaga só é aberta quando é publicada a situação) e as exonerações são as causas das ausências. O caso das demissões, de acordo com a diretora, não é possível prever.
Zuleica destaca que, mensalmente, estão ocorrendo nomeações de professores. Inclusive, há a posse provisória, situação na qual o docente assume antes de realizar todos os exames, para dar agilidade ao processo - que pode levar uma semana até dois meses. Zuleica assegura que os alunos não são dispensados:
- São situações provisórias. E a situação é razoavelmente tranquila. Estão chegando nomeados todos os dias.
Blitz nas escolas
Segunda etapa da ronda em colégios estaduais e municipais da Capital. Ligações feitas entre os dias 5/3 e 14/3:
45 ausências em 24 escolas
63 colégios estavam com equipe completa
87 estabelecimentos de ensino foram consultados no total
Hoje começa a terceira etapa da checagem
Onde estão faltando
A reportagem do Diário Gaúcho entrou em contato com 87 escolas estaduais e municipais de Porto Alegre. Destas, 24 apresentaram faltas, totalizando 45 professores.
REDE ESTADUAL
Brigadeiro Francisco de Lima e Silva (Rua Tunísia, 60, Jardim Itati): dois das Séries Iniciais
Imperatriz Leopoldina (Avenida Itajaí, 241, Petrópolis): dois de Matemática
Rio Branco (Avenida Protásio Alves, 999, Santa Cecília): um de Física, dois de Português e um de Matemática
Oswaldo Aranha (Rua Parque dos Nativos, 545, Vila Ipiranga): um de Matemática e um de Ciências
General Daltro Filho (Avenida América 145, Auxiliadora): um de Matemática
Jeronimo de Ornelas (Rua São Miguel, 487, Aparício Borges): um de Matemática, um de Ciências e um de História
Olegário Mariano (Rua Olinda, 99, Floresta): um de Séries Iniciais
Cristo Redentor (Rua Zeca Netto, 149, Cristo Redentor): dois de educação especial
Paraíba - Ciep (Rua Adão Pinheiro da Silva, 490, Aberta dos Morros): um de Português
Professora Maria Thereza da Silveira (Rua Furriel Luiz Antônio de Vargas, 135, Mont' Serrat): um de Séries Iniciais
Onofre Pires (Beco do David, 269, Lomba do Pinheiro): um de Português e um de Artes
Medianeira (Rua Gomes Carneiro, 45, Medianeira): um de Matemática
Otávio Mangabeira (Rua Silvio Silveira Soares, 2711, Camaquã): um de Ciências, um de Séries Iniciais, um de Espanhol
Pedro Américo (Estrada Chapéu do Sol, 1680, Belém Novo): um de História
Desiderio Torquato Finamor (Av. Bento Gonçalves, 7500, Agronomia): um de Inglês
Iba Ilha Moreira (Rua 1, s/n, Cefer): um de Português e um de Educação Física
Poncho Verde (Rua Petronio Portela, 1100, Rubem Berta): um de Português e um de Inglês
Jardim Vila Nova (Rua Fernando Pessoa, 380, Vila Nova): um de Português e um de Matemática
David Canabarro (Rua Lidia Moschetti, 200, Jardim Leopoldina): um de Matemática
REDE MUNICIPAL
Campos do Cristal (Beco Império, 75, Vila Nova): um de sociohistória
São Pedro (Rua Beco da Taquara, 1190, Lomba do Pinheiro): um de Séries Iniciais e um de Inglês
Wenceslau Fontoura (Rua Irma Inês Favero, Mario Quintana): um para Séries Iniciais
Afonso Guerreiro Lima (Rua Guaíba, 203, Lomba do Pinheiro): um de Português, três de Séries Iniciais e um de Línguas Adicionais (Francês)
Jean Piaget (Av. Major Manoel José Monteiro, 1, Rubem Berta): um de Ciências e um volante (qualquer turma)
Das primeiras 50 faltas, 26 reposições
Na reportagem publicada no dia 7 de março, entre os 74 estabelecimentos consultados, havia 50 professores faltando em 22 escolas. O Diário Gaúcho voltou a fazer contato com estas escolas e constatou que foram repostos 26 professores (ou as escolas fizeram remanejo dos que já atuavam na escola, estenderam carga horária, por exemplo).
Porém, naquele grupo de colégios, ainda faltam 26 ou 27 professores. Isso porque houve mais três baixas e, em uma escola, a diretora não quis revelar se recompôs seu quadro.
Na campeã em faltas (seis) na primeira reportagem, boas notícias. A Escola Técnica Estadual Senador Ernesto Dornelles, no Centro, para a falta de um professor de Matemática, foi feita ampliação de carga horária de um professor que já estava na escola. O mesmo ocorreu com Literatura e Design. E dois de Inglês já chegaram. Falta apenas Prótese Dentária.
Houve casos em que o Diário Gaúcho serviu de alerta a docentes que estão no mercado. Ao saber de vagas, eles procuraram colégios em busca de emprego.
Atualização do quadro
Presidente Costa e Silva (Medianeira): continua a faltando de Inglês
Gonçalves Dias (Passo D'Areia): Geografia reposto, falta um de séries iniciais
Dr. Gustavo Armbrust (Itu Sabará): quadro ficou completo com cinco reposições
Itália (Itu Sabará): Química reposto, falta o de Física
Jerônimo de Ornelas (Aparício Borges): chegou o de Ciências, faltam os de Matemática e História
Marechal Mallet (Vila Jardim): ainda sem um de Inglês e Artes
Professor Oscar Pereira (Cascata): Falta um de Séries Iniciais. Chegaram os três de Português e o de Artes
Padre Rambo (Partenon): à procura de um de Física. Biologia e Química já assumiram
Rafaela Remião (Lomba do Pinheiro): seguem faltando História e Geografia
Padre Balduíno Rambo (Partenon): continuam sem um de Artes e um de Português
Alberto Torres (Vila Nova): chegou o que faltava, Matemática
Professora Lilia Mazeron (Maria Goretti): dois de Português e dois para Educação Infantil já chegaram
Ana Neri (São Sebastião): segue faltando um de Matemática e um de Inglês
Aurélio Reis (Jardim Floresta): ainda falta Matemática
Camila Furtado Alves (Floresta): à procura do de Português
Itamarati (Jardim Barão do Cahy): falta Inglês
Irmão Pedro (Floresta): à procura de Informática e Português
Almirante Barroso (Arquipélago): Matemática e Geografia chegaram
Leopolda Barnewitz (Cidade Baixa): continuam em falta Artes e Inglês
Protásio Alves (Azenha): segue a busca por Informática, Sistema Operacional e Redes
Rio Grande do Sul (Centro): faltava um professor para séries iniciais. A escola negou-se a informar a situação atual.