Pedido de socorro
Por falta de professor, mãe aciona o Ministério Público, que cobra providências do Estado
Sem aulas na Escola Estadual Marechal Mallet, rotina de Felipe é no videogame e na televisão
Cansado de ver os filhos em casa durante o ano letivo, um grupo de mães da Escola Estadual Marechal Mallet, na Vila Jardim, Zona Norte da Capital, desistiu de esperar pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e buscou o Ministério Público para ajudar a resolver a falta de professores em sala de aula.
E a resposta do MP, ainda que não seja definitiva, foi imediata: ontem, foi instaurado um inquérito civil público e a 1ª Coordenadoria Regional da Educação (Cre) receberá da promotora regional da educação, Danielle Bolzan Teixeira, um ofício requisitando esclarecimentos sobre o caso.
- Cansei. Não dá mais para esperar. Já estamos quase no final de abril - reclama a dona de casa Edneia Maria Hainzenreder Bozi, 44 anos, mãe de Felipe Hainzenreder Bozi, 13 anos, aluno do segundo ano.
Edneia e outras duas mães denunciaram o problema no Ministério Público porque a turma de Felipe, que é um aluno especial, teve apenas duas semanas de aula. E com docentes substitutos.
- Na semana passada, decidi fazer alguma coisa. Se em todas as escolas nas quais falta professor os pais fizessem uma comissão e denunciassem o problema, a coisa iria andar - diz a mãe.
Só no videogame e na tevê
Sem aulas no turno da tarde, a rotina de Felipe, que é bem agitada por conta dos tratamentos - é portador de neuropatia sensitiva motora do tipo 6, doença que afeta a parte neurológica -, fica mais tranquila. Na escola, ele tem apenas o atendimento uma vez por semana na sala de recursos.
Se o gremistão está com vontade de voltar aos estudos?
- Sim! - responde.
E a mãe completa:
- Ele gosta de ir para o colégio, aprender, conviver com os colegas. Agora, fica só assistindo à tevê, jogando videogame - lamenta Edneia.
Promessa de solução
Embora não saiba informar desde quando existe a demanda de três professores para séries iniciais, a coordenadora-adjunta da 1ª Cre, Lúcia Wendland, afirma que a coordenadoria esperava resolver a situação a partir do remanejo de docentes de outras escolas (que tivessem carga-horária disponível).
Como não foi possível, optou pela contratação emergencial de três professores. Só após as formalidades, entre dez e 12 dias, devem apresentar-se.
- Estamos fazendo isso em nome das crianças.
Lúcia diz que a Cre foi informada ontem da falta de professor da Ciências e Inglês.
Risco é a perda de interesse
A vice-diretora da Escola Marechal Mallet, Cláudia Ohlweiler, confirma a falta de três professores de séries iniciais desde o início do ano letivo. Além deles, faltam um de Inglês e um de Matemática.
Conforme Cláudia, a falta de docentes gera o risco de que os alunos percam o estímulo:
- Muitos alunos não tiveram jardim de infância, e acabam perdendo o gosto pela escola.
Blitz do DG apontou faltas
Entre 27 de fevereiro e 3 de abril, o Diário Gaúcho fez uma blitz nas escolas estaduais e municipais de Capital. O balanço: o ano letivo começou com déficit de 158 docentes, escancarando uma deficiência crônica na educação.
Apesar de o governo dizer que só soube ontem do caso da Marechal Mallet, o déficit lá já havia sido relatado na primeira reportagem, em 7 de março: faltavam um professor de Inglês e um de Artes. Em 15 de março, seguia a lacuna. Na na semana passada, abriu vaga na Matemática, embora o de Artes tenha chegado à escola. Na blitz, a reportagem não foi informada da falta dos três professores das séries iniciais.