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Puxadinho Copa

Falta de areia pode atrasar obras na Capital

Sem o produto fundamental em construções, pode haver atraso de pequenas reformas até o cronograma de trabalhos de mobilidade urbana. Preço disparou

21/05/2013 - 07h11min

Atualizada em: 21/05/2013 - 07h11min


A primeira consequência da decisão da Justiça Federal de proibir temporariamente a extração de areia do Rio Jacuí - principal ponto de coleta no Estado - foi sentida nos últimos dias: o preço disparou. A segunda pôde ser vista ontem: na Capital, estoques de grandes distribuidoras estão por terminar, o que vai onerar o puxadinho de uma casa e até as obras da prefeitura.


Valor pode chegar a R$ 100


Alguns lojistas aumentaram o valor do metro cúbico (m³) de R$ 34 para R$ 50, reajuste de 44,5%. Nos próximos dias pode dobrar, chegando a R$ 70. No Vale do Taquari, no final de semana, o m³ passou de R$ 50 para R$ 100.


A medida da Vara Federal Ambiental de Porto Alegre tomada após denúncias de extração ilegal afetou diretamente três mineradoras, que abastecem 95% do mercado gaúcho.


"Obras serão paralisadas"


Em Porto Alegre, cidade que virou um imenso canteiro de obras para a Copa de 2014, a falta de areia é mais uma pedra no caminho.


Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon), Paulo Vanzetto Garcia, "obras serão paralisadas".


- Vemos isto com bastante preocupação. Mesmo com areia de outras fontes, com valor mais alto, não vão conseguir abastecer o mercado - afirma o dirigente.


Prefeitura prefere aguardar


Ouvida pela reportagem, a prefeitura não quis se manifestar sobre a hipótese de atraso no cronograma das dez obras de mobilidade urbana em andamento. Até ontem à noite, a Secretaria de Gestão não havia recebido nenhum comunicado oficial das construtoras.


Outras obras, como a reforma do Beira-Rio, tocada pela Andrade Gutierres, e a construção de unidades do Minha Casa, Minha Vida, gerenciadas pelo governo federal em parceria com os municípios, também podem ser afetadas.


Estoques estão acabando


Localizada sob a ponte da Ilha da Pintada, a distribuidora Depósito da Ilha tinha ontem cerca de mil m³ de areia pátio. A dona, Lúcia Miranda, não sabe o que fazer. No Bairro Humaitá, a ArealSul, que vende de 8 mil a 10 mil m³ de areia por mês, tinha só 300m³.


- Estou atendendo apenas construtoras cadastradas, mas não sei até quando. Se tivermos de buscar em outras regiões, o preço vai encarecer - revelou o diretor da ArealSul, Leonardo Paiva.


Via terrestre encarece


Uma alternativa é buscar a areia em rios de outras regiões e até de outros Estados, mas isto encareceria o preço por causa do frete. A draga de sucção da Depósito da Ilha transporta 370m³ por viagem (equivale a 61 caminhões).


A suspensão temporária do trabalho preocupa empregados. Mestre Fluvial e piloto da draga, Leandro Marcelino Leopoldo, 52 anos, admite um temor:


- Estamos apavorados. Além do salário, ganhamos comissão de cerca de R$ 1 mil por viagem.


Compare


- Draga como a da Depósito da Ilha tem 45m de comprimento, 9m de largura e 3,20m de altura.


- Transporta 370m³ por viagem.


- Se essa quantidade vier por rodovias, serão necessários entre 14 carretas ou 61 caminhões do tipo tombadeira.


Jorge já pagou mais


Saiu caro o montinho de areia em frente à casa do motorista Jorge da Rosa, 50 anos, no Bairro Humaitá, Zona Norte da Capital. A residência na Rua Frederico Mentz passa por uma reforma, e a notícia de uma possível falta do produto no mercado foi suficiente para assustá-lo.


- Há 20 dias, paguei cerca de R$ 40 (o m³). Cheguei a usar areia fina, que é mais barata, mas o resultado não fica bom. No piso, em vez de cimento, vou colocar pedras - disse Jorge.


Projeto parado na Fepam


No olho do furacão devido à participação de servidores na Operação Concutare, que revelou cobrança de propina para liberação de licenças ambientais, a Fepam surge novamente como vilã deste processo.


O presidente do Sinduscon, Paulo Vanzetto Garcia, lembra que até hoje o órgão não deu parecer sobre o projeto de manejo da areia do Rio Guaíba, que seria uma alternativa à exploração feita pelas mineradoras no Jacuí. Segundo Paulo, o projeto está parado há quatro anos na Fepam.


- O responsável por esta decisão judicial é o governo do Estado, que não fiscaliza - disse o dirigente.


A reportagem entrou em contato com a Fepam, mas até o fechamento desta edição não havia recebido resposta.


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