Empate no bolso
Preço da passagem do ônibus diminui, mas pão vai ficar mais caro
Farinha, matéria-prima essencial, deve começar a faltar no mercado devido a uma produção de trigo abaixo do esperado
Na semana que vem, a situação em Porto Alegre deve ser assim: ao passar na roleta, menos R$ 0,05. Ao entrar na padaria, mais R$ 0,05. Ou seja: a boa nova da passagem do ônibus, que deve cair de R$ 2,85 para R$ 2,80, será neutralizada pelo aumento no pão, que deve elevar, em média, o cacetinho de R$ 0,30 para R$ 0,35.
Isso porque a farinha, matéria-prima essencial, deve começar a faltar no mercado devido a uma produção de trigo abaixo do esperado.
Com a escassez, os moinhos gaúchos já anunciaram reajuste de 20% a partir de segunda. Como consequência, o fabricante aumentará o preço. E o cidadão deve começar a sentir acréscimo de 10% a 15% nos derivados, como pães, massas, bolos e biscoitos. E a inquietação está apenas começando.
- A gente está orientando o comerciante para que se prepare para quatro meses de crise - afirma o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação, Confeitaria, Massas Alimentícias e Biscoitos do Estado (Sindipan-RS), Arildo Bennech Oliveira.
- Ganho na quantidade
Dona da Padaria e Confeitaria da Maria, na Vila Cruzeiro, Maria de Fátima Galhardo, 42 anos, pagava R$ 38 pelo saco de 25kg de farinha em agosto passado. Agora, R$ 42. Mas o preço não mudou:
- Estamos aqui há três anos e, até hoje, o preço é R$ 0,10.
Marido e sócio dela, o padeiro Luiz Klein, 52 anos, diz que, para evitar prejuízo, é preciso ganhar na quantidade e na qualidade:
- Tem que ter jogo de cintura.
Clientela chia, mas...
Na planilha de Loreci Teresinha Federici, 42 anos, dona do Mercado Adonai, no Sarandi, o aumento da massa pronta de cacetinho chegou a 30% desde abril. Ela assa e vende 3 mil pães por dia:
- Negociamos com o fornecedor, mas tive de aumentar o preço.
Em um ano, o quilo foi de R$ 3,99 para R$ 5,49. Ela conta que, sempre que é preciso subir o preço, a clientela chia. Porém, retorna:
- Pão é imbatível.
Onda de aumentos
O consumo de farinha na Padaria e Confeitaria Bohne, no Bairro Bom Jesus, varia de 150kg a 200kg por semana. Assim, qualquer aumento pesa bastante. A dona, Marlene Bohnenberger, 43 anos, explica:
- Os cacetinhos (pré-prontos) tiveram aumento: o quilo passou de R$ 4,90 para R$ 5,50 (12%).
A constatação de Marlene é que o pãozinho não deixa de ser comprado, mas diminui o consumo de outros derivados ou produtos, como embutidos.
entenda a crise da farinha
- O Brasil não produz trigo para consumo interno. Depende, especialmente da Argentina.
- O país vizinho costuma exportar 7 milhões de toneladas. Mas, como a safra ruim, só enviou 3 milhões de toneladas. Na América do Sul, não há mais estoque de trigo disponível.
- Com isso, os moinhos têm estoque suficiente para, no máximo, 60 dias. Por isso, a partir de segunda, a farinha estará 20% mais cara.
- O consumidor deve perceber aumento de 10% a 15% em pães, massas, biscoitos e outros derivados nos próximos dias.
- Além disso, desde o final de 2012, já houve aumento de 60% a 70% nesses produtos, diluído ao longo dos meses, segundo o Sindipan-RS.
- De julho passado até agora, a tonelada de trigo aumentou quase 100%: entre R$ 450 e R$ 500 para R$ 900 a R$ 1 mil.
- A solução é trazer trigo dos EUA. Para completar o quadro, o dólar teve um aumento de 10%, tornando mais cara a importação.
- A situação só deve melhorar em novembro, quando começa a ser colhido o trigo no Rio Grande do Sul e no Paraná. A Argentina fará nova colheita em dezembro.