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Moradores de Porto Alegre, Viamão e Alvorada relatam como é conviver com a buraqueira

Buracos são as reclamações mais frequentes ao Diário Gaúcho

18/11/2014 - 08h01min

Atualizada em: 18/11/2014 - 08h01min



O pedreiro Jorge Calixto da Silva, observa a rua Y, em más condições de conservação, na Vila Pinto, no bairro Bom Jesus, onde mora

"É um inferno, não aguento mais!"

Torna-se uma aventura chegar à casa da família Haas, moradora da parte mais baixa da Rua Caxias do Sul, no Bairro Santa Cecília, em Viamão. Antes de cruzar o portão principal é preciso atravessar uma barricada de tijolos, tábuas e plásticos, construída há dois anos entre a calçada e o meio-fio.
- É o que nos protege quando chove e desce toda a terra da parte alta da rua - comenta a dona de casa Lucia Maria Haas, 51 anos.
Lucia conta que a situação piorou há cerca de dez anos, quando a prefeitura passou a colocar saibro nas vias sem pavimentação do bairro.
- A cada chuva, sofremos em dobro: com as crateras abertas e com o barro que invade tudo - reclama.
Na parte alta, esquina com a Rua Condor, os valos que se abrem com as chuvaradas são o maior problema. A comerciante aposentada Marilene Botoumé, 63 anos, há 30 no bairro, conta que é comum ter um veículo perdido entre as crateras.
- Nosso carro arrebentou a suspensão duas vezes por conta dos buracos. O ônibus escolar já ficou atolado mais de uma vez. Cansamos de pagar do nosso bolso para a máquina passar e arrumar as ruas. É um inferno, não agüento mais - desabafa.

Lucia Maria Haas mora em Viamão

Fotos: Mateus Bruxel

Duas secretarias dividem função

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Pelo menos cem ligações relacionadas a reclamações sobre buracos nas ruas de Viamão são registradas todos os meses pelos canais de comunicação da prefeitura. Cerca de 1.200 km² de 1.497 km² de ruas não-pavimentadas estão em zona rural. Para dar conta das vias, duas secretarias dividem os trabalhos: de Obras e Serviços Públicos (Smosp) e Agricultura e Abastecimento (Seagri).

Viamão

Viamão buracos | Create Infographics

"Me sinto um abandonado!"

Nem mesmo a caliça espalhada pelo carroceiro André da Glória da Silva, 30 anos, é suficiente para abrir passagem no que ainda resta da Rua Bahia, no Loteamento Nova Alvorada, Bairro Umbu, em Alvorada.
Quem se atreve a cruzá-la de carro ou de moto corre o risco de ficar atolado, de cair em buracos ou no esgoto que escorre em meio à via de terra vermelha.
- Já que nunca uma máquina da prefeitura passou por aqui, coloco resto de obra para tentar minimizar o problema. Mas não adianta - diz André, morador da rua há seis anos.
Na semana passada, um entregador de gás tentou passar pela Bahia e se acidentou. André recorda de um carro da Brigada Militar que quase atolou durante uma perseguição.
- Nem a ambulância de resgate, que precisava socorrer uma moradora, conseguiu passar. Teve que dar uma volta de quase 1km para chegar na casa. Se a rua estivesse boa, eram 50m até a avenida _ comenta André.
Como quase não há movimentação de veículos no trecho, o mato começa a tomar conta da via. E a calçada, que seria a única passagem para os pedestres, está com a caixa de esgoto pluvial quebrada.
- Liguei há meses para a prefeitura e pediram para esperar. Me sinto um abandonado! - desabafa André. 

 André da Glória da Silva mora em Alvorada

Prefeitura reconhece problema

Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, um dos problemas históricos mais graves enfrentados pelo município refere-se à mobilidade urbana. Alvorada apresenta 350km de vias não pavimentadas contra apenas 150km asfaltados. As atividades de reparo são realizadas de forma preventiva e conforme constatação em vistorias periódicas.

Alvorada

Alvorada buracos | Create Infographics


"Estamos isolados"

Morador há 22 anos da Rua Y, na Vila Fátima Pinto, Bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, o pedreiro Jorge Calixto da Silva, 63 anos, resume a via:
- É uma rua com muitos buracos e um pouco de asfalto.
Cruzar a via de cerca de 200m é um desafio para pedestres e veículos. Há dez anos, quando a rua ganhou pavimentação, os moradores comemoraram o fim do barro. Porém, nunca mais a via recebeu manutenção. Hoje, sobram crateras que já fizeram dois caminhões  perderem o controle e derrubarem muros das casas.
- Estão esperando acontecer uma tragédia - diz uma moradora que pediu para não ser identificada.
Jorge revela que há cerca de um ano uma casa próxima foi consumida pelo fogo porque os bombeiros não conseguiram cruzar a via.
- Tinha chovido e os buracos viraram crateras com profundidade suficiente para engolir uma roda. Eles não conseguiram chegar - recorda.
Em diversas ocasiões, o lixo acumulou na frente das moradias porque o caminhão que recolhe não conseguiu cruzar a via.
- Mais de uma vez, já tive que deixar o meu carro na casa de parentes e vir a pé porque não conseguia entrar em casa. A sensação é de que estamos isolados - sintetiza Jorge.

Mais de 1 mil solicitações

Segundo a Smov, Porto Alegre possui 1.154km de vias asfaltadas, 776km de paralelepípedos ou pedras irregulares e 676km de ruas secundárias que não têm pavimento. Os pedidos referentes a buracos no asfalto chegam à Smov via 156, ou por meio de vistorias realizadas nas principais ruas e avenidas.
Levantamento da Central 156 indica que somente em julho foram emitidos 1.047 protocolos para conservação de vias (tapa-buraco). O órgão também expediu 952 protocolos de pedidos para conservação de ruas não pavimentadas.

Jorge Calixto da Silva mora na Vila Pinto, em Porto Alegre

Porto Alegre

Porto Alegre buracos | Create Infographics

 

Operação Tapa-Buraco - É realizada de forma contínua. A conservação emergencial consiste na colocação de massa asfáltica nos buracos que surgem nos pavimentos causados pela degradação progressiva do asfalto e agravado pela chuva. A conservação rotineira é efetuada tantos nos pavimentos de asfalto como nos calçamentos.
 
Capeamento
- É executado nas vias onde existe calçamento de paralelepípedos ou pedras irregulares com numerosos remendos de asfalto. Estes remendos foram executados para corrigir os afundamentos ou irregularidades. Após sucessivos consertos, a superfície torna-se muito irregular e surgem buracos. Desta forma, torna-se necessária a colocação de asfalto em toda a rua.
 
Revitalização asfáltica - É executada, em geral, em vias de grande circulação de veículos onde o asfalto está muito danificado. Consiste na fresagem (raspagem do asfalto danificado e irregular) para colocação de nova camada asfáltica, com previsão de durar até dez anos.


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