Impasse
Ocupação de família em área pública atrasa melhorias na Vila Erechim
Apesar de ter mais de R$ 2 milhões destinados a posto de saúde e creche, obras não saem do papel
A Vila Erechim, no Bairro Nonoai, na Zona Sul de Porto Alegre, poderia ter um posto de saúde mais qualificado e com o dobro do tamanho e ainda uma creche para atender a pelo menos 120 crianças, não fosse um impasse entre um morador do bairro e a prefeitura da Capital.
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Desde 2013, a comunidade tenta tirar do papel um projeto que inclui a ampliação da Unidade Básica de Saúde Alto Erechim, que atende a cerca de 4,6 mil pessoas, e a construção de uma escola de educação infantil no terreno de 1.902 metros quadrados. Porém, não há nenhuma previsão de início das obras.
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A inércia do projeto ocorre por conta de uma família que mora em um terreno na Rua Ney Cabral, que pertence à prefeitura. Logo atrás da unidade de saúde, um cavalo em uma carroça, móveis sendo consertados e um homem com as mãos sujas de terra mostram que aquela área tem dono. Erno da Rosa, 63 anos, mais conhecido como Caverna, reside com a esposa e 14 filhos no espaço há mais de 30 anos.
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- Há muitos anos, existia um clube de mães onde fica o posto. As mulheres me chamaram para que eu fosse o caseiro e cuidasse desta parte da terra, para que não fosse invadida. Foi isso que eu fiz durante todos esses anos. Já expulsei invasores três vezes e o posto nunca foi assaltado - defende-se.
Projeto x proposta
De acordo com o presidente da Associação Comunitária Mestre Macedinho, no Bairro Nonoai, e delegado do Orçamento Participativo da Região Centro-sul, Joice Silvello, 55 anos, antigamente o posto de saúde ficava em outra parte do bairro e, para poder ter mais qualidade, mudou-se para a Rua Ney Cabral.
Os moradores conseguiram incluir nos Orçamentos Participativos de 2014 e 2015 R$ 633 mil para a construção da escola infantil e R$ 1,5 milhão para reforma e ampliação da UBS Alto Erechim. A verba estaria disponível para uso na prefeitura.
Segundo Joice, há dez anos foi realizado um projeto de ampliação da estrutura e criação da creche, e desde então é solicitado que a prefeitura retire o morador do local público. Erno, o morador da área, conta que chegou a receber uma proposta da prefeitura para mudar-se para um apartamento.
- Como iriam ficar meus animais, daí? Já cheguei a ter 300 bichos (a maioria galinhas), mas, quando o pessoal disse que não podia, me desfiz de todos. Mas o cavalo, por exemplo, me ajuda a sobreviver - fala Erno, que trabalha com reciclagem.
Natural de Horizontina, ele afirma que só sai do terreno se a prefeitura lhe disponibilizar uma verba para que consiga voltar a viver na cidade natal.
Reunião para solucionar
Segundo a prefeitura, a Gerência Distrital à qual pertence a US Alto Erechim tem conhecimento da verba destinada no OP.
Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, Erno se instalou numa das esquinas da área da unidade de saúde, que no total corresponde a uma quadra. "Chegou sozinho e foi agregando gente da família e bichos. Foram feitas várias tentativas de removê-lo. Houve até a oferta de um terreno por parte do Demhab, mas ele não aceitou", informa a SMS, em nota.
Está prevista para amanhã uma reunião na Procuradoria Geral do Município, para decidir qual recurso jurídico será utilizado para remover o ocupante do terreno e liberar a área para a construção da creche.