Planeta Moto
O grande cacique fazedor de chuva: uma aventura de 36 mil quilômetros
Bancário aposentado, morador de Porto Alegre, Valcir da Silveira cruzou 16 países sobre duas rodas, em uma jornada entre a Argentina e o Alaska
"Uma moto, um mapa, um passaporte, algumas roupas, um punhado de moedas, muita coragem, uma alma inquieta, sonho. Nasce um guerreiro!".
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São estas as primeiras palavras escritas no certificado recebido pelo bancário aposentado Valcir Alberto Couto da Silveira, 65 anos, morador do Bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre, ao completar neste ano um desafio desejado por motociclistas do mundo inteiro.
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A bordo de uma Harley Davidson Heritage Classic 2011, Valcir cruzou as Américas, de Ushuaia, na Argentina, ao Alaska, nos Estados Unidos. Pela aventura completa, conquistou o documento, emitido pelo clube de motociclismo Fazedores de Chuva, de Itajaí, em Santa Catarina, e o título de Grande Cacique Fazedor de Chuva.
Foto: Tadeu Vilani / Agência RBS
- O desafio liga as três américas em duas rodas, perfazendo no mínimo cinco países, com fotos e relatos entre Ushuaia, Argentina, e Prudhoe Bay, no Alaska, nos Estados Unidos, podendo ser feita por fases, ou em uma só vez, que foi o nosso caso. Cruzar tantos países, tantas cidades. O título me leva à elite do motociclismo mundial - comemora, orgulhoso, Valcir.
"Emocionante"
Ao todo, o bancário aposentado cruzou mais de 500 cidades e 16 países em 38 mil quilômetros de estradas, entre 1º de abril e 23 de julho de 2015. Planejada durante um ano, a viagem contou com a parceria de outros dois amigos também apaixonados por motos, José Lopes, de São Paulo, e José Maria de Alencar, de Belém do Pará.
Um dia depois de concluir a viagem, Valcir sofreu um susto logo no início do retorno. Acidentou-se sozinho numa rodovia ainda no Alaska, ficando nove dias em tratamento num hospital americano devido à batida na cabeça - que teve menor impacto porque que Valcir usava capacete. A moto precisou voltar de navio. Valcir, de avião.
Fotos: Arquivo pessoal
- As nossas mulheres ficaram em casa. Nossa ideia era chegar ao Alaska entre 1º de julho e 10 de agosto. Conseguimos chegar ao destino final em 23 de julho. Foi um momento emocionante. Uma aventura para ficar na nossa história. Registrei tudo em fotos e na minha memória.
O diário de Valcir
A saída - 1º/04/2015
"Para chegarmos ao Ushuaia tivemos que enfrentar o ripio (pedra miúda), o que provavelmente em bem pouco tempo estará extinto, pois as obras nas pistas estão a todo vapor, tanto que hoje indo de Cerro Sombrero a San Sebastian, temos apenas uns 70km de ripio, ao passo que de San Sebastian a Porvenir ainda pegamos 140km de ripio o que deixa a pilotagem muito perigosa, principalmente com motos custon que são desenvolvidas para rodar mais no asfalto e pistas regulares."
Epueyn, Argentina
"Recebemos a comunicação da Policia Camineira, que controla as rodovias, que havia acontecido a erupção do vulcão Calcabuco e que deveríamos ficar por ali, já que as estradas estavam intransitáveis, com muita fuligem e pouquíssima visão, como tínhamos reserva com patrocínio em Bariloche no Design Suítes Bariloche Hotel, argumentamos que iríamos perder as reservas e os valores pagos, desta forma fomos instruídos para termos muito cuidado, e cautela, e fomos liberados sob nossa responsabilidade.
Acabamos ficando esperando a abertura das estradas até Vila Angustura, em Bariloche, por três dias. Depois deste prazo, alteramos nossa rota, por motivos da conservação das motos e segurança, por Mendoza, o que nos propiciou a passagem pela RN 237, uma belíssima rodovia, e a passagem por Uspallata outra belíssima estrada RN 7, para mim as duas mais belas rodovias na Argentina."
Ibaguê, Colômbia
"Os 83kms de Serra entre Armênia e Ibaguê, sem sombras de dúvidas, foram a parte mais perigosa da viagem. Levei cinco horas de morto na pior estrada já enfrentada."
Panamá
"Visitamos as eclusas e todo o Canal do Panamá, além da cidade e a orla, considerada como a Dubay da América. Um lugar muito bonito e cinematográfico."
El Salvador
"Levamos quatro horas para sermos liberados na Aduana de San Salvador. Fazia 40ºC. Optamos pela liberação rápida - fizemos preenchimento de um formulário se comprometendo a sair do País em menos de 24h. Se não cumpríssemos, teríamos que pagar U$ 1,2 mil. Atravessamos El Salvador em 18h, quase sem pararmos."
México
"O curioso é que você não faz seguro, como em muitos dos países da América Central e do Sul. Faz um depósito calção de U$ 400, que lhe é devolvido, se não houver alguma ocorrência, quando de sua saída do país.
Durante o trajeto em que nos acercamos de Tamaulipas, fomos avisados que deveríamos entrar na rodovia 101 pela manhã, com os veículos abastecidos e não pararmos de forma nenhuma. Na bifurcação saindo da Rodovias 180 e entrando na 101 às 8h em Tamaulipas, encontramos carros da policia, aguardando os carros e motos que tem destino a Matamoros, a fim de formar comboios, já que neste trajeto certa de 180 kms, ocorrem muito assaltos a veículos que tentam chegar a Matamoros, divisa com os EUA. Conversamos com os policiais e como eles iriam sair somente quase duas horas depois, decidimos seguir sozinhos com três motos, fomos aconselhados a não pararmos para ninguém e trafegarmos juntos, desta forma seguimos sem qualquer problema. Mas foi tenso."
Bronsville - EUA
"Seguimos para Woodlands, onde tínhamos recepção na loja da Harley naquela cidade, e o Hotel The Woodlands Resort & Conference Center, onde ficamos por três dias, e fomos muito bem recepcionados pela loja e também pelo Resort, inclusive fomos noticias de uma revista de grande tiragem no local."
New Orleans - EUA
"Queríamos conhecer o berço do jazz. Lá, visitamos o Audubon Aquarium um dos mais importantes dos EUA, e visitamos o famoso, Bubba Gump, que gerou o filme Forrest Gump."
Naschville - EUA
"No dia de nossa chegada iriam se apresentar os Roling Stones, a cidade estava em polvorosa, todos os bares e restaurantes são com música ao vivo, com todo o tipo de cantor ou grupo, enfim, pode-se escolher o que ouvir."
Chicago - EUA
"Fizemos o grande sonho de todo o motociclista: percorremos a Rota 66, histórica rota americana, saindo de Chicago e até o Píer Santa Mônica, num percurso de 3.645 km. Ficamos nela durante 21 dias. A cada novo ponto, uma nova experiência. O Grand Canyon National Park, por exemplo, é um lugar inenarrável e de movimento intenso."
Santa Mônica - EUA
"Parada obrigatória para motociclistas, pois neste píer fica o final da Rota 66, um lugar muito bonito e muito frequentado por turistas, inclusive na entrada do Píer tem um restaurante, com estacionamento no subsolo, que é administrado por um brasileiro de Santo Ângelo, e todos os funcionários são brasileiros, manobristas, sinalizadores e cobradores."
Watson Lake - Canadá
"Deixamos nossas identificações no Sign Post Forest, onde as pessoas deixam placas com identificações de onde vieram. Calcula-se que hoje são mais de 100 mil placas do mundo inteiro deixadas no local."
Quase no fim
"De Fairbanks a Prudhoe Bay, no Alaska - nosso ponto final - usamos a James Dalton Hidhway. A estrada, também conhecida como AK11 com 667 kms, é a parte mais temida por motociclistas, pois se o tempo não estiver firme em pelo menos quatro dias não se consegue transitar nela, além disto tem que se ter muito cuidado. Anda-se por 400 kms até uma pequena cidade chamada Cooldfoot, que fica bem no meio do trajeto entre Fairbanks e Prudhoe Bay, é único ponto que tem dormitórios, são Hotéis contêineres, com conforto razoável."
Última parada - 23/07/2015
"Prudhoe Bay bem finalmente o fim da jornada Ushuaia Alaska depois de 36.038 kms e 114 dias, neste momento atingi o meu objetivo de conquistar o título de Grande Cacique Fazedor de Chuva."