Papo reto
Manoel Soares admite ser um idiota
"Na verdade, quando somos idiotas, nos livramos da esperteza mesquinha que nos cerca"
Um dia desses, ouvi que sou um idiota. Tudo porque estava perto de um dos caras mais ricos do país, fiquei amigo e não tentei tirar nada dele. A pessoa que me deu o título acima disse a seguinte frase: "A bola tava quicando, você foi idiota de não morder."
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Comecei a pensar nos que agiram como idiotas na história. Cristóvão Colombo, por exemplo, foi idiota: pegou uma rota errada para as Índias e chegou ao continente americano, definindo o destino de milhões de pessoas. Jesus Cristo tinha poder suficiente para, com um peteleco, destruir todos os queriam a sua morte, mas, dentro dessa lógica atual de esperteza, ele agiu como idiota.
Colunista faz agradecimento aos leitores
Me lembro que tinha nove anos e a televisão mostrava a imagem de um idiota parado em frente a uma fileira de tanques de guerra. Aquele homem desconhecido que, em Pequim, entrou para história por sua idiotice. Assim como Mandela, que passou 27 anos preso por uma crença, sacrificando sua família. Isso é coisa de idiota, também?
Os espertos não promovem alguém na empresa que é melhor que eles por medo de roubar seu lugar. Os idiotas, sim. Os idiotas esquecem com facilidade quem pisa na bola com eles e viram vítimas de aproveitadores da bondade.
Na verdade, quando somos idiotas, nos livramos da esperteza mesquinha que nos cerca. Ser idiota é também ser livre. Quando estamos apaixonados, ficamos com cara de idiotas, rimos à toa como idiotas. Quando brincamos com um bebê, agimos como idiotas. Os idiotas não são reféns da certeza nem dos seus erros, podem pedir desculpas sem se constranger. Esperteza, em alguns casos, está a poucos milímetros da maldade. A idiotice é um fruto da pureza. Se ser idiota for isso mesmo, quero morrer idiota. Afinal, conheço um monte de espertos que choram, cumprem pena e lamentam a esperteza que têm.
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