Opinião
Carlos Etchichury fala sobre gaúcho que grava momentos importantes do pai, vítima de Alzheimer
Editor-chefe do jornal conta como são os cuidados com sua mãe, que tem Alzheimer, e elogia o carinho de Miro Nunes, filho de um portador da doença, que filma momentos importantes da vida do pai
É impossível não se emocionar com a história de Nelson Nunes da Silva, que, aos 84 anos, luta contra os sintomas do Alzheimer, e dos filhos dele, contada com rara sensibilidade pela repórter Ana Karina (página 3 desta edição).
No momento em que perceberam que Nelson sofria com a perda da memória recente, um dos sintomas iniciais da doença, Miro Nunes, 48 anos, um dos sete filhos de Nelson, começou a filmar momentos importantes da vida do pai. Sempre que Nelson é traído pelas lembranças, o que acontece com frequência, Miro o tranquiliza mostrando os vídeos. Para a repórter Ana Karina, Miro justificou da seguinte forma os registros:
– O paizinho sempre cuidou da gente com muito amor. É o momento de retribuirmos tudo que ele fez por nós.
Eu sei bem o que a família Nunes está vivendo. Aos 63 anos, minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer. A funcionária pública independente, uma gigante de 1m60cm, a mulher que criou três filhos e cuidou de dois dos seus quatro netos até o primeiro ano de vida deles, era incapaz de tomar um ônibus sozinha.
Alzheimer
O diagnóstico definitivo nos foi dado há oito anos, numa tarde ensolarada de janeiro. Embora minha mãe também estivesse na consulta, o neurologista olhava para mim e para Adriana, minha irmão do meio, para falar sobre a doença. Com fôlderes nas mãos onde se podia ler Alzheimer em letras garrafais, o especialista nos orientava acerca das dificuldades que enfrentaríamos. Foi o dia mais triste da minha vida.
Os primeiros anos foram terríveis – para dona Vânia, que não compreendia o que estava se passando, e para nós, os filhos, atordoados com uma doença degenerativa, agressiva e sem cura.
Com o passar do tempo, os almoços de domingo já não eram mais feitos por ela. As tarefas domésticas mais prosaicas, como varrer o apartamento ou lavar a louça, tornaram-se impossíveis de realizar. Hoje, ela alimenta-se com dificuldades, comunica-se apenas com sorrisos e caminha a passos lentos, mas continua em casa, sob a atenção de quatro cuidadoras. São os seus anjos da guarda. Como acontece com os Nunes, esta doença terrível só fez aumentar o nosso amor pela dona Vânia.