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Chora, Cavaco

Renato Dornelles sobre o cancelamento dos desfiles: "Um tempo que não volta"

Colunista relembra a infância e lamenta as mudanças ocorridas no Carnaval de Porto Alegre

23/02/2018 - 07h00min

Atualizada em: 23/02/2018 - 15h35min


Lauro Alves / Agencia RBS
Clima de melancolia em um Sambódromo vazio, nesta semana

Os acontecimentos, ou melhor, os não acontecimentos desta semana e as notícias relacionadas ao Carnaval me fizeram relembrar minha infância, minha adolescência e minha juventude. Lembrei dos dias de desfiles na Avenida Borges de Medeiros, na João Pessoa, na Perimetral...

Minha mãe, Neusa Nunes, inicialmente com os quatro filhos, comigo como caçula, e a partir de 1975 já com minha irmã mais nova completando a família, seguia cedo para a Avenida como forma de garantir um bom lugar nas arquibancadas. O mesmo ocorria com tios e tias, primos e primas. Ah, e os meus avós, tanto do lado dos Nunes, quanto dos Dornelles, também eram entusiastas do Carnaval. Sem contar meu pai, Sadi Dornelles, o seu irmão, Nelsinho,  e a sua irmã, Coralina, que, desde o seu tempo de guris, no bairro Santana, foram ligados a Bambas da Orgia.

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Eram quatro dias de pura alegria. Havia noite para o concurso de tribos, outra para cordões de sociedade, uma para escolas de samba e a última para as vencedoras receberem seus prêmios. E havia ainda os coretos nos bairros. Por conta deles, os componentes de escolas de samba, cordões de sociedade e tribos desfilavam suas fantasias com orgulho, durante os quatro dias, por praticamente toda a cidade.

Mas como tudo o que é bom, alegre e saudável parece ter prazo de validade em nossa sociedade, tive o desprazer de acompanhar mudanças na nossa festa popular. O Carnaval nos bairros foi gradativamente sendo extinto. Centralizados em uma única passarela (depois da Perimetral foram para a Augusto de Carvalho), os desfiles sofreram um duro golpe com sua expulsão do Centro, na transferência para o Porto Seco (longínquo para quem parte do Centro e a uma distância oceânica para os moradores da Zona Sul). 

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Nos últimos anos, já não se via mais pessoas fantasiadas pelas ruas. Aliás, o período de uso dessas vestimentas ficou limitado ao tempo de concentração, desfile e dispersão das escolas de samba (menos de duas horas).

Por um conjunto de fatores, surgidos ao longo dos anos, entre os quais o preconceito, em 2018 não teremos nem mesmo os reduzidos momentos de alegria dos mais recentes anos. Imagino a decepção da costureira e do aderecista, que se enchem de orgulho ao ver o fruto de seu trabalho ser enaltecido durante o desfile, da baiana e do componente da velha guarda, que representam a própria história do Carnaval, do ritmista que voluntariamente toca o seu tamborim, repinique, surdo ou caixa, do mestre-sala e da porta-bandeira, que com orgulho ostentam e apresentam o Pavilhão da entidade, e do menino humilde, que como eu na minha infância, conta os dias para desfilar ou ver sua escola passar.



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