Porto Alegre
Casal que vendia trufas para conseguir se casar sela união no civil, prepara festa e cerimônia religiosa
Ana Cristina e Douglas tiveram sua história contada no DG em 2017. Agora, subirão ao altar com a renda obtida da venda de doces em paradas de ônibus da Capital
Mais de um ano depois de começar a vender trufas para pagar os gastos do casamento, Ana Cristina Dias e Douglas Ribeiro, ambos com 28 anos, estão prestes a realizar seu sonho. O primeiro passo para oficializar o compromisso da auxiliar de serviços gerais e do pedreiro foi dado na tarde desta sexta-feira, no casamento do civil realizado no Cartório de Registro Civil da 4ª Zona, em Porto Alegre.
— Chegando perto da hora, a gente vai ficando mais ansioso. Já convivemos há dez anos, mas, mesmo assim, dá um frio na barriga oficializar nosso relacionamento. A Ana chorou quando me viu vestido de noivo — admite o pedreiro.
Após a reportagem do Diário Gaúcho, em outubro do ano passado, que contou a história dos noivos, os pombinhos ficaram conhecidos como "o casal da Fapa". As paradas de ônibus da saída da Faculdade Porto-Alegrense (Fapa) eram o principal ponto de venda do doce. Com um cartaz escrito "Nos ajude a casar" e uma cesta com chocolates, o casal amoleceu o coração de muita de gente.
— Algumas pessoas até pagavam mais do que o valor da trufa, só para nos ajudar — lembra a noiva.
Produzindo e vendendo trufas juntos, eles vão conseguir realizar a festa de casamento e a cerimônia na igreja, ambas no dia 26 de maio, mesmo dia do aniversário de 29 anos de Ana Cristina. Serão 240 convidados recepcionados após a celebração na Paróquia São Cristóvão.
— Agora que está caindo a ficha do tamanho que será a festa. E tudo é pensado e organizado por nós dois. Estamos a mil, cada qual querendo fazer mais. É muito detalhe para ver — diz Ana Cristina.
Os dois comemoram cada item que conseguiram comprar com a venda de trufas.
— Chegamos a vender 75 trufas por dia. Conseguimos encomendar as lembrancinhas, comprar as roupas dos filhos, o buque e a coroa que vou usar. Também vai ser possível, com esse dinheiro, pagar um pouco do valor da janta e da bebida, que é o mais caro — avalia Ana.
Ainda faltam a contratação do DJ e da filmagem e o casal aperta o orçamento e corre contra o tempo para deixar tudo pronto até o dia 26.
Com os preparativos do casamento em sua reta final, o casal deixou de vender na parada de ônibus da Fapa, mas segue comercializando para colegas de trabalho. Ana Cristina e Douglas, que trabalham o dia inteiro, vendiam as trufas à noite, das 21h às 22h30min.
— Trabalhávamos, chegávamos em casa cansados e íamos na parada da Fapa porque é perto de onde moramos. Valeu a pena — lembra Ana.
Douglas ainda tem pego serviços extras aos finais de semana e feriados para incrementar a renda da festa:
— No começo, tínhamos muitas dificuldades, não foi fácil, algumas portas se fecharam e algumas pessoas até nos julgaram, mas não nos abalamos, corremos muito atrás para que tudo isso saísse do papel, abrimos mão de muita coisa. Com tudo isso, pudemos perceber o quanto somos capazes de realizar nossos sonhos, basta estarmos juntos.
O casal têm quatro filhos — três meninos, de 11, nove e dois anos, e uma menina de cinco — que entrarão na frente dos pais na igreja.
— Eles estão ansiosos como a gente. Nunca imaginei que fossemos um dia casar — confessa a noiva.