Seu problema é nosso
Saiba por que está faltando Ritalina nas farmácias do Rio Grande do Sul
Pacientes alertam que o medicamento utilizado para tratamento do déficit de atenção está em falta tanto na rede pública, quanto nas farmácias privadas
Incerteza. Esta é a palavra que resume o sentimento enfrentado há três meses pela secretária Juliana Teresinha Lopes Garcia, 55 anos. Moradora do bairro Campo Novo, na zona sul da Capital, ela não sabe quando poderá receber de novo, por meio da Farmácia de Medicamentos Especiais do Estado, o remédio que sua filha necessita.
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Com acentuado déficit de atenção, a auxiliar administrativa Débora Lopes Garcia, 21 anos, faz uso da substância cloridrato de Metilfenidato, popularmente conhecida pelo nome comercial Ritalina. A substância, um estimulante leve do sistema nervoso central, é essencial no tratamento do problema da filha de Juliana.
— Não se encontra em lugar nenhum, nem na farmácia do Estado, nem em farmácias privadas — relata a secretária.
Juliana recorda que não foi informada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES- RS) sobre a falta. Ela só descobriu a situação em uma visita à Farmácia do Estado, no Centro de Porto Alegre. Depois disso, ir ao local se tornou algo constante. E a falta de respostas também virou rotineira:
— Na Farmácia (do Estado), não sabem dizer quando vai ter de novo. Nem uma previsão é dada. Tenho que passar lá dia sim, dia não. Só assim para, ao menos, ter alguma noção de como está o caso.
Opção
Amanhã, Juliana levará a filha para uma nova consulta com o neurologista que a acompanha. Na falta da Ritalina, a continuidade do tratamento tem se dado com outro medicamento, a Lisdexanfetamina.
O problema é que a substância não é fornecida pela rede pública, e cada caixa com 30 comprimidos de 70mg custa cerca de R$ 300, explica a mãe de Débora. Mas o desafio não termina aí. Depois de adquirir a opção indicada pelo médico, ela leva o remédio até uma farmácia de manipulação. Lá, os 30 comprimidos de 70mg são divididos em 60 cápsulas de 35mg:
— É uma loucura. Mas é o único jeito de aproveitar melhor. Assim, cada caixa dura dois meses.
Enquanto aguarda algum posicionamento ou previsão oficial, Juliana segue em busca de alternativas para o tratamento da filha, já que o remédio que deveria receber do Estado está indisponível:
— Só quero entender por que está em falta.
SES diz que "está disponível em estoque"
A SES-RS foi questionada pela reportagem sobre a falta do cloridrato de Metilfenidato na Farmácia de Medicamentos do Estado. A secretaria explicou que o Estado distribui oito variações da substância — com diferenças de gramagem ou composição — e que não poderia informar quais delas estão em falta.
A pasta garantiu apenas que, segundo sua área técnica, "a medicação com mais demanda ainda está disponível em estoque". Porém, não foi informada qual a gramagem ou composição da medicação citada.
Fabricante confirma problemas no abastecimento
Em nota, o laboratório Novartis, que produz o cloridrato de Metilfenidato sob o selo das marcas Ritalina e a Ritalina LA no Brasil, informou que, "apesar de todos os seus esforços em manter o fornecimento regular dos dois medicamentos de acordo com a regulação brasileira, o mercado enfrenta situações pontuais de desabastecimento".
Ainda conforme a nota, "a empresa notificou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a situação e tem tomado providências para regularizar a comercialização dos medicamentos o mais rápido possível".
A expectativa da Novartis é de que a normalização na distribuição de ambas as apresentações de Ritalina ocorra até o final deste mês.
Na rede privada
Informalmente, a reportagem entrou em contato com farmácias de Porto Alegre, do Litoral Norte, do Interior e de Santa Catarina, questionando sobre a falta da Ritalina e da Ritalina LA nas unidades. O desabastecimento foi confirmado e, em alguns pontos, a situação se estende há quase seis meses.
Anvisa orienta pacientes
A Anvisa confirmou que foi informada pela Novartis sobre a descontinuação temporária da fabricação e/ ou importação de Ritalina. Em nota, a agência diz que o laboratório justificou a situação como "de curto prazo" e ocorrida "devido a uma demanda maior do que a prevista".
Segundo a Novartis informou à Anvisa, "trata- se de uma situação sazonal, causada pelo processo de obtenção da cota de importação regulamentar e processo de importação da substância".
Aos pacientes afetados, a orientação da Anvisa é procurar seu médico responsável. Assim, o profissional poderá prescrever um medicamento alternativo à Ritalina.
*Produção: Alberi Neto