Sem professores
Alunos de escola da Restinga, em Porto Alegre, completam 26 semanas de cadernos vazios
Situação permanece a mesma em escola municipal onde a falta de professores de português e matemática prejudica 240 alunos
Os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Carlos Pessoa de Brum, no bairro Restinga, na Capital, chegaram a 26ª semana de aula deste ano sem professores de português e matemática. O cenário não mudou desde que o Diário Gaúcho denunciou, em 30 de agosto, que 60 alunos do 6º ano estavam sem matemática e outros 180, dos 7º e 8º anos, sem português. No lugar destas matérias, os alunos têm aulas extras de ciências, história e artes.
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Com a publicação da reportagem, o titular da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Porto Alegre, Adriano Naves de Brito, determinou uma série de remanejos para sanar as faltas – que também ocorrem em outras disciplinas, como língua estrangeira e geografia. Entre as trocas, pediu que a professora de ciências assumisse as turmas de matemática do 6º ano e que a responsável pela biblioteca assumisse as turmas de português.
Em resposta, a direção da escola argumentou que a professora de ciências não tem habilitação para dar aulas de matemática e que entrará de licença gestante nesta semana. Também apontou que a titular da biblioteca possui delimitação de tarefas e desde 2005 não pode assumir uma turma. A direção explicou, em ofício, que desta forma “a solução encaminhada pela Smed” não é possível de ser aplicada.
Na tarde de segunda-feira (10), ao enviar novo ofício para a escola, a Smed indicou uma nova profissional para atender as turmas de português. A professora citada, porém, tem um atestado de delimitação de atribuição de agosto deste ano que a impede de exercer atividades em sala de aula. Por outro lado, a Smed afirma que o processo de delimitação ainda está tramitando e que não consta no sistema de Recursos Humanos da secretaria.
Quanto à professora de ciências indicada para dar matemática, e que está grávida de 38 semanas, a Smed admitiu, ontem, que terá que indicar uma outra profissional para atender os estudantes. Porém, até o final da tarde, não tinha como precisar uma data de quando um novo professor seria enviado à escola.
– O que mais nos surpreende é que, até agora, a Smed não chamou a direção para, juntos, discutirmos uma solução. Estamos fazendo isso só por meio do jornal – afirma a vice-diretora Adriana Braga.
"Estamos perdendo as esperanças"
Mãe de dois alunos da escola e integrante do conselho escolar, a dona de casa Bianca Duarte Oliveira, 34 anos, tem poucas esperanças de que novos professores cheguem para suprir as faltas:
– Por mais que cheguem agora, os alunos não vão conseguir recuperar o ano. Eles passaram já mais tempo sem professor do que com. Esse prejuízo vai vir no final do ano. A realidade da escola toda é essa: estamos perdendo as esperanças. Não querem nos ajudar.
Um levantamento feito pela Associação dos Professores Municipais de Porto Alegre mostra que, em apenas 13 escolas municipais da Zona Sul, faltam 107 professores. Em toda a cidade, este número saltaria para em torno de 300. Há 10 dias, porém, a Smed informou à reportagem que, atualmente, existe a falta de 35 professores de 40 horas na rede municipal.