Incentivo à leitura
Projeto no Pop Center disponibiliza livros para comerciantes e frequentadores
Iniciativa no centro popular de compras de Porto Alegre ocorre há cerca de um mês. São mais de 200 obras para escolher distribuídas em casinhas nas duas passarelas do espaço
Entre romances, biografias, aventuras e ficção, mais de 200 livros estão disponíveis para quem visita o Pop Center – shopping popular com 800 lojas, que recebe mais de 30 mil pessoas por dia, localizado no Centro Histórico de Porto Alegre. O projeto Pop Saber, que está em funcionamento há cerca de um mês, foi inspirado em uma ideia semelhante que existe no Rio de Janeiro, na calçada de Ipanema.
Nas casinhas vermelhas e brancas, posicionadas nas duas passarelas do espaço, quem se interessar pode retirar livros e levar para casa. Há exemplares de grandes autores, como Graciliano Ramos e Simone de Beauvoir, além de autores infantis, como Lourenço Cazarré. As obras surgiram do acervo pessoal dos funcionários da administração e também da Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães. Depois de ler, o livro pode ser devolvido, assim como outros exemplares podem ser doados para o projeto.
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Um dos impactados pela iniciativa é o senegalês Mor Cisse, 23 anos, desde 2013 no Brasil. Em sua terra natal, o idioma oficial é o francês. Para aprender o português, o comerciante de produtos eletrônicos considera a leitura importante. Ele conta que entende o que as pessoas falam e consegue responder, porém, precisa praticar mais:
– O português é uma língua muito difícil para mim, então o livro é uma forma de aprender e praticar mais, para aprender as gírias, os verbos. Eu quero pegar e levar para casa, ver como escrevem por aqui.
Diretora institucional do Pop Center, Elaine Deboni acredita que o espaço de 20 mil metros quadrados deve ser usado para o bem.
– Temos que aproveitar esse público, para fazer coisas positivas para eles. Queremos que eles saiam daqui melhores em todos os sentidos – afirma Elaine.
Quando deparou com o projeto na capital carioca, a diretora lembrou-se de uma frase.
– “A melhor maneira de protestar é com a educação”, eu concordo muito com isso. Trabalho no meio de um público que é carente de educação. Então, se a gente puder fazer algo a mais, não apenas a obrigação do comércio, a gente quer colocar em prática – conta Elaine.
Há três anos, o comerciante Eroflim Ribeiro, 38 anos, trabalha no local. Da sua loja de calçados, consegue observar a casinha de livros. Essa proximidade despertou a curiosidade do seu filho de sete anos, Maurício. Nos sábados, pai e filho estão na loja. Neste momento, Maurício busca os livros, que levam para casa para ler nos finais de semana. Na segunda-feira, a obra é devolvida, para que outras pessoas possam aproveitá-la.
– O último que levamos era “Como Perder o seu Cliente em 14 Lições”. Foi muito bacana a gente interagir juntos. O livro serve para mim, como comerciante, e para o meu filho, que um dia poderá cuidar do meu negócio – conta Eroflim.
O vendedor Halan Vieira, 16 anos, surpreendeu-se com a iniciativa. Ele brinca que, primeiro, não sabia se poderia levar as obras para casa ou apenas ler no local. Halan afirma que não está mais estudando, tendo o Ensino Fundamental completo. No próximo ano, ele pretende retornar ao Ensino Médio e frequentar a escola.
– Com o projeto, vejo como é importante ler e estudar. Por isso, vou voltar. Eu espero que as pessoas se informem, procurem, leiam e levem para casa, assim como tragam outros exemplares para cá – relata o vendedor.