Novo lar
República para moradores de rua recebe os primeiros hóspedes, em Esteio
Esteio é o segundo município do Estado a receber uma república para moradores de rua. Inaugurado neste mês, o local já tem dois hóspedes
Quartos amplos com vários beliches, sala com alguns confortáveis sofás e uma TV. Armários fartos, com pacotes de arroz, feijão, massa, entre outros alimentos. Um freezer cheio de carnes e outros congelados. Esta é a casa preparada pela prefeitura de Esteio, em parceria com a Central Única de Favelas do Rio Grande do Sul (Cufa-RS), para receber 20 pessoas em situação de rua.
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Inaugurada no final de outubro, a república Junto recebeu o primeiro morador na segunda-feira passada, dia 12. O espaço tem capacidade para receber 20 pessoas, sendo 15 homens e cinco mulheres.
Segundo a representante institucional e coordenadora de projetos da Cufa-RS, Ivanete Pereira, até chegar na porta de entrada da república, os moradores de rua passam por um processo criterioso. Primeiro, eles são abordados pelas equipes do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas). Aceitada a proposta de morar na república, os inquilinos iniciam um processo de desintoxicação — nos casos em que há envolvimento com drogas ou álcool — e acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
— A desintoxicação costuma ocorrer dentro de 20 dias. Se for avaliado que a pessoa está em condições, já pode ir morar na república. Durante o tempo que ficam morando na casa, as pessoas recebem acompanhamento ambulatorial por meio da rede pública de saúde de Esteio — explica Ivanete.
Responsabilidade
Apesar de parecer um ambiente para relaxar, a ideia da república é recriar nas pessoas em situação de rua o senso de responsabilidade, garante a representante da Cufa-RS. Além de receberem apoio na busca por emprego, os hóspedes passam por reuniões de convivência onde aprendem seus direitos e deveres dentro da casa. Os serviços de preparo de alimentos e limpeza do espaço ficam por conta dos próprios usuários.
— Nosso objetivo é reconstruir e reintroduzir esses seres humanos de volta na sociedade por meio do diálogo e do apoio — diz Ivanete.
Durante o um ano e meio que têm para viver na residência coletiva — esse é o tempo concedido a todos os moradores que chegam no local —, os hóspedes contam com atendimento dos educadores e técnicos da Cufa-RS que trabalham na unidade. Além disso, recebem acompanhamento ambulatorial por meio da rede pública de saúde de Esteio.
Segundo a prefeitura de Esteio, além do espaço cedido para a Cufa-RS, serão repassados à república R$ 532,3 mil pelo período de um ano. Os valores devem ser aplicados nas despesas do projeto. A república para moradores de rua de Esteio não é a primeira do Estado. Além dela, a Cufa-RS administra outra residência coletiva em Porto Alegre. A instituição funciona nos mesmo moldes da criada na cidade da Região Metropolitana.
"Terei para onde voltar no final do dia"
Conforme a ideia proposta pela Cufa-RS, a intenção do local é ser mais que um espaço de convivência, é ser uma chance de recomeço. E é isso que Márcio Gonçalves, 40 anos, está buscando. Atualmente, além de Márcio, outro homem também vive na república.
— Cada dia na rua é uma batalha. Mas aqui vou ter um lugar para dormir com segurança. Vou sair para trabalhar e saber que tenho para onde voltar no final do dia — comemora Márcio, que trabalha informalmente em uma lancheria.
Vindo de Giruá, no interior do Estado, ainda na adolescência, ele revela que sempre enfrentou dificuldades para formar uma família. Tem um filho de 11 anos que costuma ver quinzenalmente. Porém, é um homem sozinho. Sempre circulou por abrigos e albergues de Porto Alegre e outras cidades do país, como Rio de Janeiro e São Paulo, de onde retornou em 2016.
Desde então, divide sua vida entre a Capital e cidades próximas, como Esteio, onde costumava ir ao Centro de Referência Especializado à População em Situação de Rua (Centro POP). Lá, são oferecidos banhos e refeições, além de atendimento com assistentes sociais.
— No Centro POP me convidaram para passar por um processo de desintoxicação que levou dois meses. Depois disso, recebi o convite para morar na república — conta ele.