Seu Problema é Nosso
Medicamentos seguem em falta para pacientes de Canoas
Desde novembro do ano passado, a falta de medicamentos é uma preocupação diária para moradores de Canoas. A prefeitura não tem previsão de entrega
Desde novembro, o comerciário desempregado Jorge Passos Lucas, 42 anos, sofre com a falta de medicamentos na Farmácia Sudeste, no bairro Niterói, em Canoas. Pelo menos cinco remédios, para tratamento de convulsões, ansiedade e pressão alta, não estão disponíveis.
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O Diário Gaúcho já relatou a situação, em 13 de março. Na ocasião, a prefeitura de Canoas garantiu que os medicamentos estariam disponíveis nas semanas seguintes. Porém, o problema segue.
— Estive lá (na farmácia), e só dizem que não tem. Eu, de muletas, tenho que andar até lá, toda semana, só para ver se consigo (os medicamentos). Faça sol ou chuva, fico lá esperando — relata Jorge, que tem problemas de mobilidade, entre outras sequelas, devido aos cinco Acidentes Vasculares Cerebrais Isquêmicos (AVCI) sofridos.
Medo
Ele sofre convulsões todos os dias, as quais são amenizadas pelo uso de carbamazepina e ácido valproico. Além disso, o comerciário desempregado toma amitriptilina, substância utilizada para tratar ansiedade. Sem os remédios, ele teme sofrer outro AVC.
— Se não tomo os medicamentos, as convulsões ficam mais fortes. No outro dia, fico “derrubado”, não consigo andar direito e meu sono é afetado — conta Jorge.
Custos
Com receio de piorar, ele obriga-se a comprar os medicamentos. Além de carbamazepina, ácido valproico e amitriptilina, utiliza também tartarato de metropolol, para controle de pressão alta, e omeprazol, para tratamento de problemas gástricos — ambos, também, em falta. Ao todo, o morador do bairro Niterói, que recebe um salário mínimo (R$ 998) de auxílio do INSS, gasta cerca de R$ 400 mensais.
— Pago pensão, tenho que me alimentar e pagar despesas de água e luz. Não sobra nada. Deixo de tomar algum remédio, às vezes, para comprar comida. Estou em dia com meus impostos e não tenho retorno — relata Jorge.
Paralisia
A situação também afeta o comprador aposentado Cláudio Antônio Pinheiro, 77 anos, desde janeiro. Sua esposa, a doméstica aposentada Maria Elisa Pinheiro, 68 anos, faz uso contínuo de carbamazepina, ácido valproico e amitriptilina.
— A entrega era normal. Faltava um mês ou outro mas, na outra semana, já havia reposição. Estive na prefeitura e fiz a reclamação, ficaram de dar retorno, e nada. Se ela não toma os remédios, um lado do corpo fica paralisado — relata o aposentado, que afirma gastar cerca de R$ 150 mensais devido à falta de entrega dos medicamentos pelo SUS.
Sem previsão de normalização
A prefeitura de Canoas informou que vem enfrentando, há meses, o atraso das entregas por parte das distribuidoras de medicamentos. A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirma que busca “alternativas jurídicas” para acelerar a reposição do estoque e que será lançada, nos próximos dias, uma licitação para a contratação de outros laboratórios.
A pasta assegura que trata a questão como “prioridade”. No entanto, nenhuma previsão de datas foi informada. A SMS garante ter entregue o ácido valproico conforme a promessa de março — diferente do informado por Jorge e Cláudio. Sobre a carbamazepina, a pasta informou que houve “problemas para a entrega”.
Produção: Ásafe Bueno