Odontologia
Tempo médio de espera por próteses dentárias via SUS na Capital é de 424 dias
Único Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) da Capital que distribui próteses fica na Zona Norte. Por isso, pacientes de outras regiões não podem obter o acessório via SUS
O sorriso é o nosso cartão de visita. O batido ditado resume bem como mostrar os dentes para cumprimentar alguém ou expressar felicidade é um exercício importante. Entretanto, há quem se prive desta ação, e não é por escolha própria.
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Em Porto Alegre, por exemplo, a fila de espera por procedimentos odontológicos acumula 5.948 requerimentos. Deste total, quase 41% — 2.438 pedidos — são para a obtenção de próteses odontológicas. Com o tamanho da fila, o tempo médio de espera para receber o acessório também sobe. No caso das próteses, a média é 424 dias para casos gerais. Ou seja, o paciente que solicitar uma prótese precisa de quase um ano e dois meses de paciência.
Além disso, só quem mora na Zona Norte pode ter acesso ao acessório via SUS. E isso não é novidade. O Diário mostrou essa situação em 2015, mas o problema ainda segue. A limitação ocorre porque, dos seis Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) da Capital, somente o que funciona no Hospital Conceição, na Zona Norte, é habilitado para entregar próteses dentárias. Assim, quem não é referenciado para aquela região consegue atendimento no local.
Com a demora e a "regionalização" da entrega, quem necessita de prótese precisa pagar. Em um dos casos mostrados na reportagem de 2015, por exemplo, a líder comunitária Nelzi Alves, 61 anos, acabou recebendo o acessório por doação de um dentista.
Desistência
Porém, quem não tem a mesma sorte acaba desistindo da espera. Foi o que aconteceu com o pedreiro desempregado Jorge Henrique Bertott Soares, 39 anos. Sua jornada começou em 2005, quando recorreu à unidade de saúde da Lomba do Pinheiro, onde morava.
Depois de algumas consultas, as constantes respostas dizendo que estava em uma lista de espera para conseguir a extração de dentes estragados e a colocação de próteses o fizeram desistir. Lidou com o problema como pôde, mas sem ir ao dentista, e a situação acabou piorando. Há mais de dois anos, ele está sem emprego. Sabe que a condição bucal está entre os motivos que o impedem de arranjar um trabalho.
— Eu chego assim nas entrevistas e já vejo que a aceitação diminui. É muito difícil conseguir algo pelo SUS. A gente entra na fila, mas não sabe quando vai sair dela, aí acaba por desistir — confessa Jorge, que, atualmente, divide a casa com a esposa, dois enteados e um casal de filhos pequenos, no bairro Rubem Berta.
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A coordenadora de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Caroline Schirmer, diz que a prefeitura pediu, no ano passado, autorização do Ministério da Saúde para produzir mais próteses, e em diferentes pontos da cidade, universalizando o acesso de quem precisa.
— Atualmente, o CEO do Conceição consegue entregar até 60 próteses por mês. Com a liberação do Ministério da Saúde, que esperamos que aconteça neste ano, queremos produzir, no mínimo, 300 próteses por mês — projeta a coordenadora.
Prazos
Mesmo que a prefeitura espere a liberação do governo federal para 2019, ainda não há uma previsão definitiva para que a produção de próteses aumente e chegue em pacientes que moram em outros pontos da cidade.
Outra especialidade que é atendida somente no CEO do Hospital Conceição é a disfunção temporomandibular (DTM). A anomalia pode ser causada por diversos fatores e, normalmente, causa dores crônicas no paciente. Apesar de só 248 solicitações aguardarem atendimento na Capital nesta especialidade, o tempo médio de espera por atendimento é de 482 dias — cerca de um ano e três meses.
— Isso ocorre porque o número de atendimentos disponibilizados por mês para essa especialidade é muito pequeno. Além disso, tem a limitação de termos referência em DTM somente no Conceição — justifica a coordenadora da SMS.
Melhorias no tratamento de canal
Na lista de espera atualizada mensalmente pela SMS, outro gargalo que chama atenção é a endodontia, conhecida popularmente como tratamento de canal. São 1.896 solicitações de atendimento, com tempo médio de espera em 104 dias. Segundo Caroline, o tratamento de canal sempre foi uma fila com grande demanda, ainda mais pela falta de servidores.
— Depois de cinco anos sem novas chamadas, nomeamos 10 profissionais no ano passado. Destes, três foram deslocados para Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) para atuar especificamente na área da endodontia — explica Caroline.
Alguns pacientes já foram beneficiados pelo acréscimo de novos dentistas focados no tratamento de canal. A jovem Lisandra Queiroz Viana, 19 anos, precisou procurar atendimento via SUS depois que ficou sem trabalho, no ano passado. Moradora da Lomba do Pinheiro, ela foi encaminhada para o CEO do bairro Bom Jesus, também na Zona Leste, onde fez o tratamento de canal.
— Foi bem rápido. No mesmo dia do atendimento fui encaminhada para Bom Jesus e fiz o tratamento. Ainda tenho algumas consultas de rotina lá — conta Lisandra.
Espera
Já a autônoma Marisélia dos Santos, moradora da Restinga, na Zona Sul, não teve a mesma sorte. Necessitando do tratamento de canal para sanar a dor em dos dentes, ela aguarda há mais de um ano pelo encaminhamento, já que a unidade de saúde da Vila Chácara do Banco, onde mora, não tem dentista.
— Vou de vez enquanto ao posto saber como está o encaminhamento, mas dizem que não tem previsão. Fui orientada a esperar a ligação em casa — conta Marisélia.
Conforme a coordenadora de saúde bucal da SMS, o que também agravou a situação da demora na endodontia foram problemas com a empresa responsável pela manutenção dos equipamentos odontológicos da rede municipal. Caroline diz que a prefeitura, inclusive, está contratando uma nova responsável por esses serviços, que deve assumir a gestão das manutenções no próximo mês. Mesmo com essas mudanças, a curto prazo, ainda não há uma prazo para que a fila diminua consideravelmente.
— O nosso foco são as próteses. Temos muitas decisões judiciais em relação a isso (entregar próteses para pacientes de outras regiões). E essas situações prejudicam quem mais precisa, pois a decisão judicial se baseia na análise um caso específico, sem levar em conta todos os demais. Por isso, precisamos universalizar a entrega o mais rápido possível — projeta Carolina.