Após fechamento do Restaurante Popular
Almoço de graça passa a ser servido no Tesourinha, mas apenas para moradores de rua
Quem ainda não tiver cadastro, pode realizar no local para receber a refeição
Começou nesta segunda-feira (13) a operação da prefeitura para suprir o fechamento do Restaurante Popular de Porto Alegre, que encerrou as atividades na quinta-feira passada (9). Graças a uma parceria oferecida pela Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra), as pessoas em situação de rua que almoçavam no estabelecimento, com sede no bairro Floresta, conseguirão continuar se alimentando – agora, sem pagar nada. Na parceria, que deve se estender pelos próximos três meses, a Adra fornecerá os voluntários para o trabalho na cozinha, enquanto a prefeitura comprará os alimentos.
Entretanto, diferentemente do Restaurante Popular, o modelo provisório não é aberto ao público. O almoço, preparado em uma carreta equipada com cozinha trazida de São Paulo, é fornecido de graça, mas somente aos moradores de rua cadastrados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte (SMDSE).
Desde o início da manhã desta segunda, os moradores de rua já faziam fila ao lado do Ginásio Tesourinha, onde a carreta da Adra estacionou no domingo. Depois de ser preparado na cozinha do veículo, o almoço foi servido em uma sala do ginásio. A capacidade do local é de 74 pessoas.
Segundo a SMDSE, serão servidas, ao menos, 170 refeições por dia – o número pode variar de acordo com a quantidade de pessoas cadastradas. Nesta segunda, quem chegava ainda sem cadastro podia ser atendido em um guichê montado na carreta. Por isso, duas filas se formaram.
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Atendimento
Jorge Luís Ferreira, 54 anos, veio da Lomba do Pinheiro. No bolso, trazia uma nota de R$ 5. Ele ainda não tinha a informação de que o almoço seria servido gratuitamente.
– Guardo R$ 30 todos mês, dá para almoçar todos os dias – explicou, antes de conhecer o novo modelo.
Depois de efetuar o cadastro, Jorge ganhou um ticket que dava acesso ao almoço. O prato era composto por arroz, feijão, carne e saladas, cardápio semelhante ao que era disponibilizado no Restaurante Popular. Apesar de viver na rua há mais de duas décadas, Jorge conta que, atualmente, está passando um período na casa de sua irmã, no bairro da Zona Leste.
Na fila dos já cadastrados, o jornaleiro Paulo Águas, 41 anos, marcava presença. Ele sobrevive da venda do jornal Boca de Rua, veículo independente criado e comercializado por moradores de rua. Na semana passada, o Diário Gaúcho mostrou como o jornaleiro conseguiu almoçar no primeiro dia sem o Restaurante Popular. A opção mais barata encontrada por ele custava R$ 10, valor com o qual conseguiria almoçar dez vezes no bandejão, como era conhecido o antigo estabelecimento. Ontem, com o papel que dava acesso ao almoço gratuito em mãos, Paulo contou que a troca de endereço está chegando aos colegas de rua, mas garante que, "logo todos saberão da novidade".
– Do Floresta (bairro onde ficava o Restaurante Popular) para cá, é um pulo. A fome faz a gente caminhar – conta ele.
Frequentador do albergue municipal, Anildo de Quadros Rodrigues, 55 anos, gostou do novo modelo de atendimento. Segundo ele, no antigo restaurante, deixava de almoçar em alguns dias, por não ter R$ 1. Agora, espera conseguir repetir a refeição diariamente:
– O atendimento e a comida estão muito bons. Só a fila que está mais demoradinha – pontua Anildo.
Para além da comida
O modelo atual, com refeições gratuitas, é o mesmo que deve ser aplicado nos novos cinco restaurantes que o governo municipal prometeu abrir nos próximos meses. Os estabelecimentos ficarão em regiões distintas da cidade, visando descentralizar o atendimento. Além disso, a ideia é que, nestes locais, o atendimento vá além do almoço.
Ontem, no Ginásio Tesourinha, este trabalho teve início. Equipes da Adra prestavam atendimento psicológico, conversando com os frequentadores durante o horário de refeição. A intenção é traçar o perfil destas pessoas. Uma equipe médica também estava disponível para atendimentos básicos, como a verificação da pressão arterial ou do nível de glicose no sangue.
Segundo o Diretor-Geral de Direitos Humanos da SMDSE, Dari Pereira, a própria Adra pode ser a responsável pela gestão dos cinco novos locais.
– Não queremos mais apenas dar o prato de comida, mas também trabalhar para ressocializar estas pessoas – explica Dari.
Cadastro
/// Pessoas em situação de rua podem se cadastrar no restaurante provisório de segunda a sexta-feira.
/// O atendimento é no Ginásio Tesourinha, na Avenida Érico Veríssimo, s/nº.
/// O horário de almoço e atendimento ao público é das 11h30min às 14h30min.