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Retratos do Desperdício

Em Alvorada, obras de pavimentação de 14 ruas estão paradas desde 2018

Moradores reclamam que, antes dos trabalhos começarem, as condições das ruas eram melhores

12/07/2019 - 05h00min


Jeniffer Gularte
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Andréa Graiz / Agencia RBS
Rua Barão do Cerro Largo: camada de asfalto nunca chegou

A Rua Barão do Cerro Largo, no bairro Intersul, em Alvorada, é ruim até para andar a pé. Os carros já desistiram de tentar trafegar. A via é deserta de veículos. De chão batido, a rua começou a receber obras de pavimento em fevereiro de 2017, mas a obra foi interrompida há nove meses. Ela foi alargada, recebeu meio-fio e foi colocado brita e cascalho. A camada de asfalto nunca chegou, enquanto a buraqueira e as valas tornaram o que era ruim, ainda pior.

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A obra, que é mais um exemplo de desperdício de dinheiro público em obras que não terminam, está incluída em um levantamento do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul (TCE-RS). O relatório é baseado na consulta de municípios e órgãos do governo gaúcho feita entre fevereiro e março deste ano. Das 75 obras paradas em 36 municípios gaúchos, quatro estão em Alvorada. Destas, três dizem respeito a pacotes de pavimentação de ruas. A quarta é o Centro de Esportes Unificados (CEU das Artes), da Vila Figueira, que parou com 90% da obra pronta e já foi tema de reportagem do Diário Gaúcho no final de maio. 

Os três pacotes de ruas incluem pavimentação em 14 vias que começaram e foram interrompidas. Na Barão do Cerro Largo, Mauro Borges dos Santos, 51 anos, proprietário de um minimercado, diz que as suas vendas despencaram 70% desde que a obra parou. Uma valeta se abriu na lateral da pista, bem em frente ao seu estabelecimento, o que impede que qualquer veículo tente estacionar no local. Ele preencheu o buraco com cascalhos de tijolos, mas a clientela não arrisca parar o próprio veículo ali. A via tem tantas crateras que está intransitável:

— Não para um carro aqui na frente porque ninguém trafega nessa rua. Ontem (terça-feira) mesmo, um carro pequeno tentou passar e saiu com o para-choque destruído. Quando era chão batido, tinha lama, mas, ao menos, era possível cruzar com o carro. Hoje, nem isso mais. 

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Reclamações de todos os lados

Além da Barão do Cerro Largo, a reportagem visitou outras três vias que fazem parte do mesmo pacote de obras: as ruas Guaíba, Tupi e Manoel Bernardes. O contrato para pavimentar estas quatro vias prevê investimento de R$ 2 milhões — recursos do BNDES com contrapartida da prefeitura —, dos quais R$ 964 mil já foram desembolsados. 

Nas quatro vias visitadas, as reclamações se combinam em um ponto: em todas elas, os moradores reclamam que antes de a obra começar, a via, mesmo que de chão batido, era mais transitável que agora. 

Na Rua Guaíba, no bairro Formosa, só parte da via foi preparada para receber pavimentação. O trecho que ganhou camada de brita e cascalho também tem buracos e valas nas laterais. O metalúrgico Paulo Sérgio de Fraga, 50 anos, conta que, com o passar dos meses, a brita foi sumindo e a buraqueira aparecendo:

— Quando era estrada de chão, ao menos passavam uma patrola de tempos em tempos. Hoje, tem muita poeira, está mais perigoso e, para andar de motocicleta, que é meu caso, todo cuidado é pouco. 

A situação se repete também na Rua Tupi, do bairro Salomé, e na Rua Manoel Bernardes, no Intersul. Nelas, as obras avançaram até o momento de receber a camada de asfalto, onde o trabalho parou.

Prefeitura garante retomada em breve

A auditora pública externa do TCE, Andrea Mallmann, explica que há dois prejuízos em paralisar obras como estas: o primeiro é o financeiro, já que o poder público, ao retomar a obra, especialmente no caso de pavimentações, possivelmente terá que investir valores para refazer parte do trabalho que já estava pronto e se perdeu com o tempo. O segundo, diz respeito ao prejuízo social da população, que é privada de utilizar a obra. 

Segundo o secretário de Obras de Alvorada, Liberto Mendes, a obra das quatro ruas visitadas pelo DG pararam pois a empresa não teve capacidade financeira para dar continuidade aos trabalhos. Ele afirma que uma nova licitação já foi feita e que só falta a homologação da empresa vencedora. A previsão é de que as pavimentações sejam retomadas no máximo, até agosto. Liberto reconhece que a paralisação deverá encarecer a obra para o município: 

— Para nós, isso é um desgaste porque deu muita chuva, a base do asfalto foi aberta e terá que ser recolocada a brita. Teremos que investir mais dinheiro que o previsto nelas. Ainda assim, estamos contentes que as obras estão para recomeçar — afirma. 

Ficha da obra

O que é: pavimentação das ruas Barão do Cerro Largo, Guaíba, Tupi e Manoel Bernardes. Outras 10 vias também estão com obras paradas em Alvorada: ruas Piratini, Estados Unidos, Catumbi, Murilo Furtado, General Vitorino, Baobá, Jatobá, Tramandaí, Três e Wenceslau Escobar
Quando parou: outubro de 2018
Valor já investido: R$ 964.768,71
Valor da obra e origem do recurso: R$ 2.017.363,94, do BNDES com contrapartida da prefeitura




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