Seu Problema é Nosso
Em Gravataí, comunidade da Morada do Vale é prejudicada pela falta de médicos
De acordo com a prefeitura, atualmente, há apenas uma profissional atendendo na Unidade de Saúde da Família (USF) Águas Claras
Há, pelo menos, três meses, a comunidade do bairro Morada do Vale, em Gravataí, que depende do atendimento prestado na Unidade de Saúde da Família (USF) Águas Claras, tem de pensar duas vezes antes de ficar doente. Isso porque, desde a saída dos profissionais do programa Mais Médicos, no início do ano passado, ficou difícil ver médicos pelos corredores da Unidade — que antes contava com quatro profissionais.
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De acordo com o zelador aposentado Alois João Kovalisk, 77 anos, um novo profissional chegou a atender na USF. Contudo, "não durou muito".
— Estamos sem clínico e sem pediatra. Quando os cubanos foram embora, veio outro médico — muito bom, inclusive —, mas ficou pouco tempo. Isso já faz uns três meses — relata o aposentado, que sente saudade da época em que o posto contava com quatro médicos.
De acordo com a prefeitura, atualmente, há apenas uma profissional atendendo na Unidade — responsável pela equipe um. As demais equipes (dois, três e quatro) ficaram sem médico desde abril, agosto e fevereiro de 2019, respectivamente. A família de Alois está cadastrada na equipe três e, com isso, tem o atendimento prejudicado.
"Não está fácil"
De acordo com Alois, a informação que recebe ao ir até a unidade é de que só há enfermeiras disponíveis para o atendimento. O idoso afirma que é orientado a marcar consulta na unidade Morada do Vale I — a mais próxima da sua. Porém, diz que nunca conseguiu concluir nenhuma marcação. Com prótese nas duas pernas, marca-passo, ponte safena e sofrendo de dores na coluna e dificuldades para respirar, ele precisa consultar rotineiramente, a fim de monitorar sua condição de saúde.
— Tenho de estar sempre me cuidando, mas estamos nesse impasse. A gente vai no posto e mandam marcar no outro, pelo 0800 (teleagendamento). Aí, demora umas duas horas na linha pra conseguir ser atendido e nunca tem ficha. Agora, preciso consultar, porque me surgiu um problema de pele, mas não está fácil a coisa — conta Alois.
Familiares dependem do posto
Além de Alois, sua esposa, filha e neta também precisam do serviço prestado pela USF Águas Claras, motivo que deixa o aposentado ainda mais aflito com a falta de médicos. Sua filha, a auxiliar de produção desempregada Cristina Julhão de Souza, 40 anos, já não pode levar a pequena Amanda Julhão Vargas, dois anos, neta de Alois, para consultar ali. Diante do problema, ela prefere levar a menina em hospitais. Contudo, preocupa-se com a situação dos pais, já idosos, que necessitam de atendimento próximo à residência.
— Antes, levava a Amanda ali e era uma mão na roda, porque é perto de casa. Agora, está bem difícil, porque a gente precisa e não tem como. Me preocupo mais com meus pais, que são idosos e, pra eles, é mais difícil. Está muito ruim assim — desabafa Cristina.
Novos médicos até o fim do mês
A prefeitura de Gravataí, por meio de sua assessoria, explicou que a falta dos profissionais decorre da retirada do município do programa Mais Médicos, da insuficiência de candidatos aprovados em concursos anteriores e da rejeição de maior parte dos candidatos que se possuía em cadastro reserva. Além disso, afirma que está impedida judicialmente de utilizar ferramentas como terceirização ou contratação emergencial para suprir a falta de concursados. Quanto a isso, o município garante que tem recorrido junto ao poder Judiciário.
Em relação à previsão de normalização, a prefeitura informou que pediu a nomeação de 42 médicos, aprovados em concurso realizado em dezembro. Após a data em que a nomeação ocorrer, os aprovados possuem 15 dias para a posse e até dez dias para iniciarem suas atividades. A expectativa do município é de que os médicos estejam nos postos de saúde até o final do mês e que haja a "ocupação de todos os horários e consultórios em todas as Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família".
Produção: Camila Bengo