Seu Problema é Nosso
Ano novo e vida nova para Patrique, o "menino de titânio"
Após reportagem, o guri de Alvorada, que sofria com escoliose severa, conseguiu realizar a cirurgia necessária para pôr fim ao problema de saúde
Este ano, a virada será o marco de um verdadeiro recomeço para o estudante Patrique Dávila, 15 anos, morador do bairro Jardim Algarve, em Alvorada, cuja história foi mostrada pelo Diário Gaúcho na edição de 11 de junho. O guri, que nasceu com escoliose – doença caracterizada por uma curvatura anormal da coluna para um dos lados do tronco, causada pela rotação das vértebras –, lutava desde a infância para conseguir realizar seu maior sonho: uma cirurgia que daria fim às dores e aos incômodos causados pelo problema de saúde.
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E, depois de tantos anos pedindo o estranho presente ao Papai Noel, ele finalmente o recebeu, em dose dupla: nos dias 25 de outubro e 7 de novembro, Patrique passou por duas operações e está pronto para começar uma vida nova.
— Não sinto mais dores para caminhar e, agora, consigo ficar bastante tempo em pé. Antes, não conseguia, porque sentia dor. Estou me sentindo muito melhor e, a cada dia que passa, sinto uma melhora diferente. Estou muito feliz — comemora o guri que, se não passasse pelo procedimento, poderia acabar perdendo os movimentos em alguns anos.
Cirurgia
À época da reportagem, a família havia criado uma vaquinha online para custear uma cirurgia particular – pois já aguardava desde 2015 pelo procedimento via SUS, no Hospital Universitário (HU), em Canoas. Após a publicação da matéria, a arrecadação, que contava com R$ 2,6 mil, rapidamente saltou para a quantia de R$ 27,8 mil, com a contribuição de 366 apoiadores.
Porém, a ajuda definitiva veio de outra forma, quando uma clínica da cidade de Passo Fundo, especializada neste tipo de cirurgia, viu a história de Patrique e contatou o jornal, manifestando o desejo de auxiliar no caso. O Diário Gaúcho fez a ponte entre a família e o hospital que, por conseguinte, acertou os trâmites legais com a Secretaria Municipal de Saúde de Alvorada – onde o menino vive –, que prestou todo o suporte para que o sonho de Patrique se tornasse realidade.
A partir daí, foram cinco idas ao município do interior do Estado para fazer consultas, exames e, por fim, as duas operações.
— Nos primeiros dias, senti bastante dor, mas depois ficou só um desconforto. Agora, já estou quase 100% — comenta Patrique.
Para a irmã dele, a estudante Patrícia Dávila, 32 anos, ainda é difícil de acreditar que, finalmente, o sofrimento do irmão menor teve fim:
— Fico olhando pra ele e nem parece que é verdade. Em março, começamos a função da vaquinha e vamos fechar o ano com o Patrique já operado, faceiro. Nossa vida mudou e eu agradeço ao Diário Gaúcho, porque tudo o que conseguimos de ajuda foi através do jornal.
"Um novo menino": de titânio
Desde que teve alta, no dia 11 de novembro, a vida de Patrique mudou completamente. Hoje, o guri, que deixava de frequentar os passeios a parques aquáticos organizados pela escola – por sentir vergonha de tirar a camiseta –, está praticando natação e até se tornou famoso em Alvorada, conhecido como "menino de titânio", em alusão às placas do metal que agora fazem parte de sua coluna.
— Eu não andava sem camisa nem em casa. Agora, perdi a vergonha — diz Patrique.
Segundo a irmã, Patrícia, não foi só a postura do guri que mudou:
— Ele está muito feliz, é um novo menino. A autoestima dele mudou, pois antes chegava nos lugares com vergonha, pensando que veriam as costas dele. Hoje, ele está dono de si, chega faceiro e sorrindo. Pra gente (família), a vida também ficou mais leve, pois nenhum problema se compara ao que iria acontecer se o Patrique não fizesse a cirurgia.
Agora, o menino de titânio só pensa em uma coisa: bater uma bolinha.
— O que mais quero é poder jogar futebol. O doutor disse que ainda não podia, mas esses dias dei uns chutinhos na bola — brinca o guri, que finalmente vai poder levar a vida como qualquer outro de sua idade.
Hospital Universitário: histórico de decepções
Desde 2015, Patrique aguardava a realização da cirurgia no Hospital Universitário (HU), em Canoas. Contudo, o tratamento nunca avançou, pois, para dar continuidade, ele precisava fazer exames específicos, mas os equipamentos do hospital estavam estragados. Diante da demora, em 2018, Patrícia procurou a ouvidoria do HU, quando foi informada de que o nome do irmão não constava mais na lista.
À época da reportagem, a Secretaria de Saúde de Canoas informou que Patrique havia sido retirado da lista de espera porque o município deixou de ser referência de Alvorada para a especialidade, mas não houve explicação sobre o porquê de a família nunca ter sido avisada do ocorrido. Contudo, como o menino era atendido desde 2015 no hospital, uma nova consulta foi marcada para o dia seguinte à publicação da reportagem, em 12 de junho.
Consulta
De acordo com a irmã, Patrícia, o atendimento foi mais uma decepção em relação ao hospital.
— Achei que fossemos chegar lá e o médico iria saber do caso do Patrique, mas não sabia nada. Além disso, disse que talvez nem fosse mais operável, que não valia mais a pena correr atrás e que teríamos que refazer os exames. Mas, adivinha, a máquina continuava quebrada — relata Patrícia.
Desde esta consulta, a família não recebeu nenhum tipo de contato por conta do hospital. Contatada pela reportagem, a prefeitura de Canoas, responsável pela gestão do HU, não se manifestou sobre o caso.
Produção: Camila Bengo