Porto Alegre
Entidades da Ilha dos Marinheiros suspendem atividades em função da obra da nova ponte do Guaíba
Juntas, as associações optaram, por construir uma nova estrutura, mas o terreno ainda precisa ser definido e comprado
O ano de 2019 se encerrou marcando também o fim de um ciclo para entidades sociais e culturais da Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre. Localizadas em um terreno onde passará nova ponte do Guaíba, quatro organizações precisaram suspender temporariamente as atividades por conta da necessidade de desocupação das casas, que serão demolidas para que as obras avancem. Com isso, a Cooperativa de Mulheres Resgatando a Dignidade, o Clube de Mães da Ilha Grande dos Marinheiros, a Associação Caminho das Águas e a Biblioteca do Arquipélago fecharam as portas e trabalham para tentar construir um novo espaço coletivo.
Os livros da Biblioteca do Arquipélago foram retirados e levados para sede do Cirandar – uma organização não governamental que desenvolve ações sociais e administra a biblioteca – em novembro. Logo em seguida, vieram a greve das escolas estaduais e o fim do ano letivo nas municipais, que paralisaram por completo as atividades dentro da ilha.
– Essa biblioteca foi construída em 2014, marcando o primeiro grande investimento do Plano Municipal do Livro e da Leitura (PMLL). Em 2017, com a notícia da construção da nova, veio a indicação de que seria criado um assentamento que acolheria moradores e entidades. Mas, na metade de 2018, chegou a informação de que não haveria mais o assentamento e o recurso adotado para as famílias seria a compra assistida.
A partir daí, iniciaram-se os diálogos com a prefeitura para debater o destino das entidades – explicou a coordenadora-geral do Cirandar e voluntária, Carolina Drügg, 39 anos.
Projeto
Conforme Carolina, a prefeitura ofereceu alternativas, mas todas demandavam investimentos que a organização não dispunha e, por fim, não se chegou a um acordo. Em outubro de 2019, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que gere a obra, destinou um recurso indenizatório para as entidades. Este valor, segundo a voluntária, ainda está em negociação, pois a própria prefeitura entrou com recurso no DNIT para também ser ressarcida pela casa que abrigava o Cras Ilha. Sendo assim, os valores destinados às entidades estão sendo reavaliados.
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As associações envolvidas optaram, então, por construir uma nova estrutura, chamada de Centro Comunitário e Cultural Irmão Antônio Cecchin, que ainda carece da compra e definição do terreno.
– As entidades optaram por permanecer juntas no mesmo espaço, reafirmando a importância do trabalho coletivo e sua resistência histórica. Não tínhamos mais como manter o local aberto (biblioteca), já existe pouca coisa ao redor, as pessoas foram embora. Mas não queremos perder o vínculo com a comunidade, queremos que as pessoas que aqui permaneceram tenham acesso aos livros, às atividades culturais, por isso, nossa ideia é construir no lado da ilha que em que as famílias ficaram – disse Carolina.
Referência
A biblioteca atendia cerca de 400 crianças por mês e tinha um acervo com 1,5 mil livros, além oficinas de teatro, contação de histórias, empréstimo de livros, entre outras ações.
– É muito forte ver essa biblioteca fechada, esse chão que hoje está ali empoeirado acolheu muitas rodas de histórias. Em 11 anos de existência do Cirandar, é o primeiro espaço a se fechar. Há um sentimento de esperança, mas também de luto – finaliza Carolina.
A Associação Caminhos da Água, ONG que assessora os galpões de triagem para reciclagem, também precisou parar o trabalho no ano passado. É a direção que está à frente das negociações da verba indenizatória. Segundo o coordenador, Leonel de Carvalho, 57 anos, o compromisso com a construção do Centro está firmado em ata com a Justiça e a obra garantida para este ano. O projeto do Centro Comunitário está sendo elaborado voluntariamente por um arquiteto.