Para a gurizada
Para continuar incentivando a leitura mesmo sem aulas, professora de Canoas conta histórias em vídeos
Vestida como a Fada Antônia, Elisete costumava ler para grupos de crianças em biblioteca. Agora, segue com o trabalho, mas na frente da câmera
A leitura é essencial na formação da criança. Ajuda no desenvolvimento e, claro, estimula a imaginação. Viajar pelas páginas de um livro é rodar o mundo sem sair da poltrona. Porém, muitas crianças não tem esse costume em casa, somente na escola. E, muitas vezes, até no ambiente de ensino, esse estímulo é deixado de lado. Em Canoas, porém, foi criado um projeto para que o incentivo a leitura siga forte, mesmo em tempos pandemia, quando os pequenos estão afastados do espaço físico das salas de aula.
A iniciativa faz parte do projeto Cultura de Ponta a Ponta, da Secretaria Municipal da Cultura e Turismo (SMCT). Por meio do programa, periodicamente, os servidores produzem voluntariamente vídeos com programas culturais para que a comunidade acompanhe.
E na ala da leitura, quem domina é a professora Elisete Aliatti, 56 anos, integrante da diretoria de Linguagens Culturais da SMCT. Há cerca de 10 anos, ela usa a representação como forma de transmitir histórias aos pequenos. Quase sempre, rodando por escolas do município sob a fantasia da Fada Antônia. A personagem também dos livros, inspirado na obra A Fada Que Colecionava Manhãs, de Marô Barbieri.
– Sempre foi uma personagem que amei muito. Transferi ela do livro para a vida real, usando como representação para contar as histórias – explica Elisete.
Inspiração
No período pré-pandemia, a servidora municipal costumava fazer a contação de histórias sempre rodeada de crianças na sede da Biblioteca Pública João Palma da Silva, em Canoas. Mas, com o impedimento de aglomerações, imposto pelas medidas de distanciamento social, a rotina não pode mais ser como antes. Por isso, a gravação de vídeos para o Cultura de Ponta a Ponta foi a saída encontrada.
Com anos passando por escolas de Canoas e ouvindo as crianças cantarem em coro as músicas nas apresentações, Elisete precisou se acostumar com o silêncio na frente da câmera. Sozinha, ela é quem precisa dar conta do show do começo ao fim. Por isso, diz usar a memória da empolgação do público para se inspirar e manter o ritmo alegre na hora de contar as histórias no vídeo, imaginando o público do outro lado.
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– A leitura em si já emociona, mas trazer essas lembranças também ajuda a tornar o momento ainda mais especial – conta a Fada Antônia
Conforme o secretário da Cultura e do Turismo, Mauri Grando, além do convite à leitura, há vídeos para vários espectadores. Desde apresentar a história da cidade ou ainda fazer um tour por um dos museus do município, não faltam escolhas.
– O projeto preenche uma lacuna que é muito importante. Nesse momento difícil para todos, incluindo obviamente, a prefeitura, estamos fazendo isso com voluntários que já faziam esse trabalho, para que a gente entregue cultura para a população e sem custos para o município – explica Mauri.
Os vídeos produzidos são disponibilizados no canal da prefeitura de Canoas no YouTube e também no site do município.
Oportunidade positiva
Os vídeos com histórias já eram uma alternativa de entretenimento para a pequena Clara, de seis anos, filha da professora Ana Paula Silva. A Fada Antônia chegou até as duas por indicação, na tentativa de deixar o período de pandemia um pouco mais leve.
– Ao mesmo tempo em que a gente sai um pouco deste mundo em que vivemos, a gente também aprende sobre ele, faz reflexões. E isso é bem importante para passar por essa pandemia – opina Ana.
Ela ainda destaca a possibilidade de deixar a família mais unida e a filha mais próxima do ambiente escolar.
Para professora do curso de Letras da Feevale Lovani Volmer, em tempos de pandemia, a leitura e a contação de histórias podem contribuir para estreitar os laços entre as pessoas que compartilham do momento, além de ser uma alternativa que ajuda o leitor e ouvinte a imaginar outras possibilidades, a sonhar, a expandir seus horizontes, estimular a imaginação.
– A contação de histórias não tem idade e pode começar com as crianças desde cedo, ainda bebês. As histórias contribuem para a abertura do campo do imaginário, permitindo ao leitor decifrar sua própria experiência – aponta a especialista.
/// É possível assistir aos vídeos pelo YouTube da prefeitura de Canoas, neste link: youtube.com/secomcanoas.