Dia do Idoso
Aos 70 anos, morador de Viamão participa de competições de videogame
O vendedor Marcos Côrrea, 70 anos, não vê a idade como barreira para acessar tecnologia. Apaixonado pelo futebol virtual, participa até de campeonatos online
Se há uma barreira que não existe para o vendedor Marcos Fraga Corrêa, 70 anos, é a da idade. Não há o que o morador de Viamão, na Região Metropolitana, deixe de fazer por causa da sua idade. E, no campos das atividades que ele pratica, o voluntariado e os exercícios físicos diários chamam atenção, mas o destaque fica para um entretenimento pouco comum para quem está nessa faixa etária: o videogame.
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Isso mesmo, as sete décadas de vida não impedem Marcos de brilhar nos gramados virtuais e até de participar de campeonatos online. E com o isolamento gerado pela pandemia, jogar com outros aficionados pelo esporte virtual virou uma das principais ocupações de Marcos. A ligação do idoso que ressalta que — "ainda é um garoto" — com os videogames começou há bastante tempo. Pai de três filhos, Marcos sempre teve consoles em casa. Mas, diferentemente da maioria dos pais, entrou na brincadeira com seus meninos.
— Os primeiros foram os clássicos da Atari e da Nintendo, não tinham tanta qualidade gráfica. Quando chegaram os anos 2000, entramos na onda do Playstation. E, desde então, compro sempre que lança um novo. Os filhos já saíram de casa, então, eu compro é para a minha diversão mesmo, pois adoro — diverte-se ele, que já está se planejando para adquirir o Playstation 5, lançado neste ano e ainda em fase de pré-venda.
Isolamento
Em 2020, com a pandemia do coronavírus, a rotina de Marcos mudou. Acostumado a acordar-se cedo diariamente para trabalhar, além dos deslocamentos que fazia para trabalhos voluntários, precisou se fechar em casa, junto com a esposa, Lélia Côrrea, 68 anos, com quem é casado há 49 anos. Com mais tempo diante do videogame, recebeu dos netos a dica para se inscrever em campeonato online organizado pelo Sesc.
Marcos já é acostumado a jogar futebol online, em modos de montagem de equipes. Neste modelo, o jogador cria um clube e inicia com um plantel com jogadores de habilidade baixa. Jogando com outros competidores online, é possível obter pontos e ir melhorando o time. No campeonato virtual, é necessário selecionar já uma equipe tradicional, Marcos gosta do Barcelona, da Espanha, e da Juventus, da Itália. Utilizou as duas equipes nos campeonatos que participou. Concorrendo com jovens, ainda conseguiu atingir a fase de oitavas de final em uma das competições.
— Foi uma grande experiência, muito enriquecedora. Joguei contra adversários muito bons, então, fiquei feliz pelos resultados que consegui — comemora ela.
Agora, além do console, ele divide o tempo com as caminhadas pelo condomínio onde mora e de duas lives que participa semanalmente na internet, ligadas aos grupos de trabalho voluntário que ele faz parte. Desde março sem sair de casa, essa foi uma maneira encontrada por ele para se manter perto das ações que tanto gosta.
— Nem para ir no mercado saímos, um dos nossos filhos que faz as compras, traz aqui e deixa numa mesa que preparamos para isso. Depois, higienizamos tudo — detalhe, garantindo o cumprimento fiel das normas de isolamento social que têm regido a vida desde o início da pandemia.
Com uma fala animada, o vendedor ressalta a máxima de que não há idade para fazer o que se quer, inclusive, abraçar novas tecnologias. Na visão dele, os videogames são um ótimo exercício para o cérebro e dentro dos círculos familiares, ajudam na aproximação entre pais, filhos e até outras gerações:
— Até meus netos jogam comigo.
A importância de se conectar
No mundo pós-pandemia, internet virou um artigo ainda mais essencial. Trabalhar, estudar, se divertir, conversas com quem não se pode ver pessoalmente, tudo está ao alcance de alguns cliques ou toques na tela do smartphone. E, nesse salto de conectividade que a pandemia exigiu, quem não estava totalmente acostumado, não precisa ter medo de se adaptar.
Conforme o professor Guilherme Menezes, da Integrar Gerações, que trabalha com aprendizado digital para adultos e idosos, a pandemia tem mostrado como tornou-se essencial dominar tecnologias. E, para ele, o fato de o videogame ter sido uma área Marcos se encontrou é notável.
— Além da questão da diversão, os jogos eletrônicos, para quem está nessa faixa de idade, ajudam muito na memória, por exemplo — conta Guilherme.
Segundo o professor, não há idade, nem tecnologia para começar a aprender. Seja pelo videogame, rede social ou smartphone, o importante é iniciar a jornada e ter a chance de sentir-se integrado a esse mundo digital, cada vez mais presente dentro do mundo real:
— O fato de ele poder se sentir integrado e ainda se divertir jogando com os filhos e netos é algo fantástico, não muito comum entre as pessoas dessa idade.
Programação especial para a data
Além dos campeonatos virtuais de futebol, entre os quais Marcos participou, o Sesc também organizou uma semana especial para o Dia do Idoso, comemorado nesta quinta-feira, dia 1º de outubro. A programação começa no dia 1º e vai até até dia 7, próxima quarta-feira.
O conteúdo será todo online, para preservar a saúde dos participantes, e mostrará que a terceira idade não está apenas conectada, mas também cria conteúdo e abastece as redes com informação: uma das atrações será um bate-papo com a influenciadora digital sênior Miréia Borges, que mostra diariamente a seus mais de 14 mil seguidores como o estilo e a alegria não dependem de idade.
Entre outros eventos, a programação terá caminhada virtual, talk-show e até bingo. Tudo poderá ser acompanhado pela página do Facebook do Sesc.