Gestão Melo
"Precisamos retomar as aulas presenciais", diz nova secretária de Educação de Porto Alegre
Janaina Audino assume em 1º de janeiro em meio ao impacto da pandemia nas aulas de escolas municipais da capital gaúcha
Recuperar os atrasos da pandemia, retomar as aulas presenciais, fortalecer parcerias público-privadas na Educação Infantil e Fundamental e instaurar o diálogo com sindicatos de professores são algumas das missões de Janaina Audino, a nova secretária de Educação de Porto Alegre, que assume na gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB).
Em entrevista de meia hora à Rádio Gaúcha na manhã de Natal (25), a nova secretária, pedagoga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e doutora em Educação pela Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), expôs seus objetivos para a capital gaúcha. Leia a seguir:
Por onde começar a tratar a educação em Porto Alegre ? Qual sua maior preocupação em assumir a pasta?
A educação vem sofrendo, principalmente no cenário de pandemia. Todos perdemos como sociedade com o afastamento do ensino presencial. Quando enxergamos o cenário brasileiro, o principal desafio é a aprendizagem dos alunos. A gente precisa ter o cuidado de ter uma melhor aprendizagem em língua portuguesa e língua matemática, que os indicadores educacionais nos mostram que precisamos melhorar. Mas destaquei três pontos que queria conversar. A gente tem o objetivo de entender a rede em uma pandemia: o distanciamento social nos afeta no processo de ensino-aprendizagem, professores tiveram que migrar para o ensino online do dia pra noite, e os alunos nós sabemos que têm dificuldades de acesso a equipamentos.
Um segundo ponto é o fechamento do ano letivo de 2020, que está em vigor, apesar de as escolas estarem em recesso. Precisamos fechar o ano, e esse fechamento está sendo analisado com muito cuidado. Temos o compromisso de abrir o diálogo com diretores e professores para entender como foi este ano. E um terceiro ponto: nosso compromisso agora é organizar uma estrutura de gestão que seja funcional a ponto de assessorar as escolas. Sabemos das demandas e dos desafios, mas quem opera a política pública são as escolas. Temos contextos diferentes: falamos de uma rede de 99 escolas de de Educação Infantil e Fundamental, mas são bairros e culturas diferentes que precisamos entender.
A senhora acredita que a retomada aula presencial é fundamental para o ano letivo?
Sem dúvida, precisamos retomar as aulas presenciais, mas com todo o cuidado de entender as condições desse retorno. Alguns lugares têm dificuldade de acesso a equipamentos. Retomar a aula presencial é fundamental, mas com todo o cuidado para entender o lado dos professores, porque muitas escolas não abriram por ter muitos professores nos grupos de risco.
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Uma justificativa dada para o baixo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) das escolas de Porto Alegre é que os professores têm salários melhores do que outras redes, mas que as crianças não aprendem porque têm problemas estruturais nas famílias. Qual sua visão: toda criança é capaz de aprender ? E como suprir as dificuldades trazidas de casa?
Todas as crianças têm condições de aprender. Claro que algumas têm mais oportunidades do que outras, mas todas têm condições. O Ideb é uma avaliação de dois em dois anos que é fundamental. Ele é composto pela Prova Brasil, uma prova externa, e pela taxa de aprovação de cada escola. Na rede municipal, 14% dos alunos são reprovados, mas nessa taxa entram muitos que abandonaram a escola. Vamos trabalhar com diretores para mapear quem são os alunos em potencial abandono e que precisam ser resgatados. Quando não resgatamos, eles incham nossa taxa de reprovação. Sobre o Ideb, não temos resultados a nível Brasil comparado a dos piores (municípios), mas temos alta taxa de reprovação.
Como pacificar relações entre prefeitura e entidades representativas dos professores?
Precisamos abrir um canal de diálogo. Minha formação é pautada nessa experiência. A gente precisa conversar. Temos um limite que é a legislação, às vezes esbarramos em legislação e não podemos fazer tudo o que gostaríamos de fazer. Vamos chamar todos os setores para discutir e juntos propor soluções. Precisamos também nos abrir para o novo, a pandemia nos mostrou novos caminhos, a educação a distancia, vamos ter que nos adaptar para alguns contextos.
Nessa abertura pra o novo, tu tiveste a experiência de trabalhar por 10 anos no Instituto Jama, uma entidade sem fins lucrativos que trabalha com inovação na educação. O que é possível de fazer de inovação nas escolas?
Existem vários carinhos para inovar quanto a plataforma, formação de professores e aprendizagem dos alunos. Temos que explorar o que já acontece no Brasil, não precisamos inventar a roda. Um dos nossos pontos: a formação continuada dos professores é essencial. Que processos formativos podemos buscar para olhar esses novos modelos de educação? Talvez buscar trabalhar as habilidades de gestores, porque hoje são professores que aprendem na prática a fazer prestação de contas, organizar o quadro de horários. Talvez fazer parcerias com universidades. E ver dentro das nossas escolas também, o projeto de robótica, de xadrez… Precisamos valorizar o que professores já fazem nas escolas e dar um pouco mais de voz.
A Educação Infantil tem muitas entidades conveniadas que prestam serviço à prefeitura. A gestão Marchezan começou (a estender) para o Ensino Fundamental. Qual a visão da senhora sobre a possibilidade de instituições do terceiro setor e organizações sociais assumirem a prestação de serviços para crianças do Fundamental?
Não vou usar a palavra assumir. As parcerias são bem-vindas. Sabemos as dificuldades do setor público em dar conta de todos os desafios. Existem locais que precisam de mais vagas, e vamos atrás de entender se é ampliação de escolas ou compra de vagas. Mas as parcerias público-privadas são bem-vindas para ter resultados mais imediatos.
Quem é Janaina Audino
Pedagoga formada pela PUCRS, especialista em gestão escolar pela ESPM, mestre em gestão educacional e doutora em Educação pela Unisinos. Atualmente, é aluna do MBA em Gestão, Humanismo e Inovação da Sonata Brasil. Trabalhou na Secretaria de Estado da Educação do RS, na Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, do Grupo RBS, e no Instituto Jama. Com mais de 15 anos de experiência na área, atua como consultora em instituições públicas e privadas, contribuindo na gestão, na construção, no desenvolvimento e no acompanhamento de projetos.