PAPO RETO
Manoel Soares questiona: "Luto ou luta?"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados.
A conta, para mim, parece óbvia: o menino de oito anos de hoje, se não for olhado com atenção, pode ser o bandido daqui a 10 anos. Acho interessante que as pessoas das quebradas apoiam e aplaudem um Estado que mata meninos da idade de seus filhos. Até os próprios policiais vivem com transtornos mentais por terem que matar meninos que parecem seus filhos.
A tragédia é coletiva e a alegria é privada nessa guerra. Pais de família fardados entram nos becos para proteger o patrimônio de uma sociedade que, em muitos casos, despreza a lei e debocha da ordem. Cada vez que um corpo cai, parte da nossa humanidade vai junto com ele para a cova. A polícia acaba atuando como faxineira de uma elite que quer, entre outros privilégios, o de cometer crimes.
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Sim, porque o que tem de gente de carro importado, sonegando imposto e não pagando direitos trabalhistas, não está escrito. Metem marra como se defendessem as ações policiais que matam pessoas, como em Jacarezinho. Mas, na verdade, eles estão aplaudindo o poder que eles mesmos têm, de manipular a estrutura do Estado para seus interesses.
Não tenho raiva da polícia, em muitos casos tenho é pena. Não ganham um salário que pague o desafio de ter que trocar tiros com meninos tão desiludidos, para os quais a morte é espécie de libertação. O luto é inevitável, mas a luta é opcional, seja você um brigadiano ou um jovem que passa a madrugada nos becos. E aí, luto ou luta?