Seu Problema é Nosso
Apesar dos desafios, leitores persistem na busca por seus sonhos
Desde o início do ano, o Diário Gaúcho tem narrado os esforços realizados por Gerson, Aline e Delene para alcançar seus objetivos
Apesar dos desafios enfrentados por Aline, de Viamão, Gerson, de Gravataí, e Delene, de Porto Alegre, eles seguem acreditando na realização de seus sonhos. Gerson mudou de residência e, nos próximos dias, estará sorrindo. Isso porque seu tratamento já está na fase final. Aline precisará parar um período de procurar emprego. Por questões de saúde, ela irá passar por consultas e exames e, assim, decidiu dar uma pausa em sua busca por um trabalho. Mas, para complementar a renda, segue realizando o conserto de roupas em sua residência. Já Delene tem vendido rifas para driblar as dificuldades financeiras.
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O desejo de arrumar os dentes e voltar a sorrir se tornou um impulso para que Gerson Fabiano Pacheco, 43 anos, repensasse sua trajetória de vida. Foi usuário de drogas, morou nas ruas e, hoje, quer pensar no futuro. Após conseguir o tratamento dentário, que já chegou na fase final, o sonho de voltar a estudar é seu novo objetivo a ser atingido.
Desde dezembro o DG acompanha a história de Gerson, que atualmente mora no bairro Vila Branca, em Gravataí. Logo após a primeira reportagem publicada, a clínica Odonto Company, de Alvorada, ofereceu um tratamento dentário completo para ele, que trabalha na área de serviços gerais e limpeza urbana. Este foi um momento importante, explica, pois ter falado sobre seu sonho fortaleceu a autoestima. Assim, determinou para si mesmo que irá concluir os estudos.
– Fui até o fundo do poço quando morei na rua e comi lixo. Agora quero ir para cima, ver até onde eu posso chegar. Vou trabalhar, quero tirar minha carteira de motorista antes dos meus 50 anos e irei concluir meus estudos. Não deixarei me abalar, pensando que é tarde demais, só porque estou com 43 anos. Nunca é tarde demais – pontua.
Gerson parou de estudar há mais de 30 anos. Havia cursado até a terceira série. Devido ao longo tempo longe das salas de aula, quer voltar para o primeiro ano, começar do zero, ele fala. Suas aulas ainda não iniciaram, pois a escola onde irá estudar precisa chegar a um número mínimo de alunos para poder abrir a turma. Isso não o desmotivou. Em conversa com amigos, está ajudando o colégio a chegar nos 20 estudantes que precisam para, oficialmente, iniciar o ano letivo. E todos os dias, após sair do trabalho, passar por lá para conversar com os professores e a direção.
Processos
Com sinceridade, Gerson comenta que os últimos dois meses não foram fáceis. Seu tratamento começou em janeiro. Da extração dos dentes até a retirada dos pontos, teve ainda mais dificuldades para se alimentar. Apesar disso, entende que foi importante passar por este processo para chegar ao resultado final: voltar a sorrir.
A dentista Caroline Geremias, 29 anos, é a responsável pelo tratamento. Ela comenta que Gerson chegou preocupado com seu caso, por achar que era muito grave. Porém, logo na primeira consulta percebeu que não seria tão difícil. O passo inicial foi extrair os dentes que não poderiam ser recuperados.
Ela explica que, em um primeiro momento, achou que seria preciso extrair todos os dentes. Porém, após exames clínicos, percebeu que seria possível preservar alguns da arcada dentaria inferior. Assim, na parte superior, foi projetada uma prótese total (dentadura), e, para a inferior, uma prótese parcial, que é presa com grampos metálicos. A estimativa é que já na próxima semana o processo seja concluído.
Caroline não esconde a alegria em fazer parte deste momento tão importante para a vida de Gerson. Ela conta que sempre teve vontade de usar seus conhecimentos para ajudar as pessoas.
– Foi uma maravilha para mim que, em um ano de formada, pude participar de algo tão grande quanto é a história do Gerson. Ele foi vítima de uma sociedade precária, que não dá suporte social e cultural para ninguém. Conseguiu superar a si mesmo e sair desta situação. Me deixou bem emocionada – finaliza a dentista.
Busca por emprego precisa ser interrompida para cuidar da saúde
A desempregada Aline dos Santos Veiga, 31 anos, vai precisar esperar um pouco mais para realizar o sonho de voltar ao mercado de trabalho. A moradora do bairro Esmeralda, em Viamão, perdeu o emprego de cuidadora de idosos em outubro de 2021 e, desde então, tem participado de entrevistas para diferentes áreas.
Mas, neste momento, um novo desafio se apresentou: ela deverá passar por uma cirurgia e, por isso, terá de fazer consultas e exames durante o mês de março. A cuidadora de idosos conta que foi indicada para participar de dois processos seletivos ao longo do mês de fevereiro. Mas, por saber que teria que dedicar alguns dias do próximo mês para os procedimentos, optou por não se candidatar:
– Não teria como me comprometer com uma empresa. Imagina ser contratada e, já nas primeiras semanas, precisar faltar?
Alteração
As oportunidades que sugiram eram para trabalhar como caixa operadora em uma rede de lojas. O interessante, explica Aline, era que não precisava de experiência. Então, seria possível aprender um novo oficio. Atualmente, para arcar com as despesas da casa e para alimentar os três filhos, de três, nove e 12 anos, Aline conta com o apoio financeiro de familiares e amigos. Além disso, segue realizando pequenos reparos em roupas.
Há alguns anos, Aline fez um exame em que apareceu uma alteração no seu ovário esquerdo. Ela entrou em fila de espera para fazer um ultrassom transvaginal. Na primeira vez em que foi chamada para realizar o procedimento, não pode ir pois seu filho mais novo tinha nascido havia poucos dias. Ela entrou para a fila de espera de novo. Recentemente, passou a sentir algumas dores na região do útero. Decidiu procurar atendimento no posto de saúde, fez o ultrassom e soube que a alteração persiste. Por isso, foi encaminhada para acompanhamento em um hospital e espera confirmação ou não para uma cirurgia.
Amigos ajudam a fazer rifas
Apesar de não serem muito numerosas as doações que tem recebido na vaquinha que criou para comprar a casa própria, Delene Cesconetto, 42 anos, segue com a esperança de realizar seu sonho. A meta que estipulou para adquirir um imóvel é de R$ 40 mil, que será somado a outros valores que pretende reservar para este fim. No último mês, entraram R$ 130 no financiamento coletivo.
Formada em Letras, atualmente Delene não trabalha. Há três anos foi afastada do serviço por motivos de saúde. Enquanto tenta se aposentar, conta com a ajuda de amigos e familiares para driblar as dificuldades financeiras que enfrenta. Para pagar alguns compromissos e comprar alimentos, começou a vender rifas. A ideia veio de uma amiga, que ofereceu os produtos para ela. De computador a um vestido de noiva, está sorteando os materiais para garantir uma renda. Além disso, também recebeu cestas de alimentos e materiais de higiene de pessoas que queriam ajudá-la de alguma forma.
A vaquinha online aceita a doação mínima de R$ 25. Em razão disso, ela decidiu disponibilizar seu PIX para quem desejam colaborar com valores menores.
– As pessoas doam com a maior boa vontade. Eu até fico bem emocionada, porque sei que é de coração. Vejo pessoas se mobilizando para me ajudar. É uma campanha grande, mas acredito que irá aumentar o valor. Todos estão passando por dificuldades, devido à crise. A gente tem que ter paciência, não adianta – declara Delene, sem perder as esperanças de que um dia atingir seu objetivo.
APOIE
/// Para colaborar com Delene, é possível realizar doações na vaquinha online que está disponível no link vakinha.com.br/2076390.
/// Outra opção é enviar contribuições através da chave PIX 82678529053 (CPF) ou entrar em contato com ela pelo WhatsApp (51) 98601-0354.
Produção: Émerson Santos e Kênia Fialho