Centro Histórico
Prefeitura aguarda resultado de laudo técnico sobre Esqueletão, mas tendência é de que prédio seja demolido, e não implodido
Representantes de empresa responsável pela implosão da sede da Secretaria da Segurança Pública visitaram o prédio
O destino do Esqueletão, como é conhecido o Edifício Galeria XV de Novembro, localizado em uma região de intensa movimentação de pedestres no Centro Histórico de Porto Alegre, provavelmente será a demolição. O prefeito Sebastião Melo só vai responder sobre o tema quando estiver com o laudo técnico que está sendo elaborado por técnicos do Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (Leme) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
— Nós acreditamos que isso (demolição) vai acabar sendo o resultado do estudo. Nossa percepção pessoal é de que chegarão à conclusão de que temos de demolir, mas não implodir, porque há questões que afetariam os outros prédios — explica o secretário municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi), André Flores.
A prefeitura de Porto Alegre aguarda pelo laudo técnico sobre as condições do imóvel para definir o que fazer. Os engenheiros entregarão ao chefe do Executivo municipal o resultado das avaliações até o fim deste mês. Conforme o colunista de GZH Jocimar Farina antecipou em sua coluna, se nada for feito, a edificação de 19 andares pode desabar.
— Para termos uma posição definitiva, precisamos do resultado do laudo. Mas acredito que a opção mais viável economicamente seja derrubar o prédio andar por andar — acrescenta o secretário, dizendo que a ideia é fazer a remoção do edifício o quanto antes depois de o laudo estar em posse da prefeitura. — É uma coisa que atrapalha inclusive o desenvolvimento daquela região — acredita.
Representantes da FBI Demolidora, fundada em 1986 e com sede no município de Cotia, em São Paulo, visitaram o Esqueletão por solicitação da UFRGS. Trata-se da mesma empresa contratada pelo governo do Estado para executar, em 6 de março, a implosão da antiga sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP), situada na Rua Voluntários da Pátria, 358, nos arredores da Estação Rodoviária da capital gaúcha.
— O contato que mantivemos foi com o pessoal da UFRGS, que fez uma consulta conosco logo após a implosão do prédio da Secretaria da Segurança. Tratativas diretas com a prefeitura, ainda não tivemos — esclarece o engenheiro Manoel Jorge Diniz Dias, conhecido como Manezinho da Implosão, que foi o responsável técnico pelo projeto de derrubada da sede da SSP.
O engenheiro mostrou estar bem informado sobre a situação do Esqueletão, local que ele visitou pessoalmente. O profissional detalha o que percebeu na oportunidade:
Nossa percepção pessoal é de que chegarão à conclusão de que temos de demolir, mas não implodir, porque há questões que afetariam os outros prédios
ANDRÉ FLORES
Secretário de Obras e Infraestrutura
— As condições de contorno do edifício são bem peculiares e distintas em relação ao prédio da Secretaria da Segurança. No caso do Esqueletão, em que pese o fato de estar lá há muitos anos, não tem essa condição favorável de não ter nada perto. Pelo contrário, você tem vizinhança em três quadrantes, pelo menos. A única fase livre é a praça à frente, e, depois, nos lados esquerdo e direito de quem olha para o prédio, há lojas comerciais. Ao fundo, há outras estruturas que representam preocupação. A abordagem, em termos de implosão, é muito delicada e complexa. Por outro lado, a demolição convencional é passível de uma série de cuidados, como telas de proteção e bandejas para resguardar o risco de queda de material. Enfim, é um trabalho difícil e complexo. Mas perfeitamente viável.
Os integrantes da equipe do laboratório da UFRGS responsável pelo laudo estrutural não responderão a questionamentos da imprensa antes da entrega do documento à prefeitura.
Comerciantes receosos
Os comerciantes do entorno do Esqueletão estão apreensivos sobre o futuro do prédio. Nesta quarta-feira (4), era possível ver entulhos de lixo e restos de material no corredor de acesso do andar térreo do imóvel. Ambulantes ofereciam guarda-chuvas em frente ao local.
— Tinha boatos de que o prédio seria implodido. Ao mesmo tempo, falavam que não podia e que a prefeitura não autorizou porque havia muitos prédios colados. Preferimos que façam os reparos, pois estamos parede com parede aqui — diz o segurança Paulo Henrique, que trabalha em uma loja encostada no Esqueletão.
A gerente Delma Oliveira, que possui um bazar de roupas localizado a poucos metros do Esqueletão, convive com as polêmicas em torno da edificação há 40 anos, tempo em que trabalha com comércio na região.
— O restauro seria o melhor — opina.
A abordagem, em termos de implosão, é muito delicada e complexa. Por outro lado, a demolição convencional é passível de uma série de cuidados, como telas de proteção e bandejas para resguardar o risco de queda de material. Enfim, é um trabalho difícil e complexo. Mas perfeitamente viável
MANOEL JORGE DINIZ DIAS
Engenheiro da FBI Demolidora
Na tabacaria que fica do outro lado da rua e praticamente de frente para o Esqueletão, há temor de que o local acabe sendo implodido.
— Temos receio, o melhor seria que fosse restaurado — observa a gerente Viviane Bitencourt.
Na óptica ao lado da tabacaria, a funcionária Giordana Dorneles comenta que não sabe o que a prefeitura pretende fazer com o Esqueletão. Questionada se implodir toda a estrutura seria o melhor, a profissional afirma que a situação não é tão simples de ser avaliada:
— Isso é bem complicado. Precisamos de mais informações sobre o futuro do prédio.
O comerciante Fernando Silveira Ferreira, proprietário de uma loja situada na mesma calçada do Esqueletão, acredita que a demolição impactaria significativamente até na vida dos clientes.
— Acho que é prudente uma análise bem criteriosa desses riscos não apenas pela segurança da população, mas também em relação aos comerciantes que passaram por um momento de baixas nas vendas durante a covid-19. Isso vai impactar significativamente nas vendas da região porque as pessoas não passarão por aqui — pondera.
Saiba mais
O Esqueletão, situado na Rua Marechal Floriano Peixoto, esquina com a Otávio Rocha, foi desocupado em definitivo no final de setembro do ano passado. Com sinais de abandono e muita sujeira, os três primeiros andares abrigavam moradias nos últimos anos. Treze estabelecimentos comerciais tinham espaço no térreo.
Assim que foi efetivada a reintegração de posse determinada pela 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, que atendeu a uma solicitação da Procuradoria-Geral do Município (PGM) em ação ajuizada contra os proprietários do prédio, o Esqueletão passou por processo de limpeza, coordenado pela prefeitura. As janelas dos primeiros andares foram lacradas para evitar invasões. Desde então, o imóvel aguarda seu destino.