Formando e transformando
Projeto oferece atividades em turno inverso ao da escola em Eldorado do Sul
Gurizada é atendida no Lar Luz da Criança, em encontros que misturam arte e educação e são realizados pela Fundação Iberê Camargo
Um antigo prédio em Eldorado do Sul está voltando a "ganhar vida". O local, conhecido como Lar Luz da Criança, recebe crianças e adolescentes da rede pública do município para atividades no turno inverso ao da escola. É o projeto educativo de interação social Lar Luz da Criança.
O uso do prédio foi concedido à prefeitura por cinco anos, podendo ser renovado, por um casal de moradores da cidade que mantinha ali um projeto de abrigo para jovens, há cerca de 10 anos. Para reabrir as portas, uma reforma foi feita pelo município em 2022. A inauguração ocorreu em 29 de abril. Pintura, troca de piso, instalação de rede de internet e colocação de equipamentos nas salas estão entre as melhorias. O prédio fica no bairro Parque Eldorado.
Primeiro grupo
As atividades iniciaram em 3 de maio e estão sendo oferecidas a 40 crianças e adolescentes, de oito a 14 anos. Eles são alunos das escolas municipais Paraná e Octávio Gomes Duarte, localizadas na região. A seleção foi feita por uma assistente social e pela equipe das escolas, priorizando aqueles que estivessem em situação de maior vulnerabilidade social. Um dos objetivos do projeto, aliás, se relaciona a isso.
— Parece que, por vezes, a vulnerabilidade é algo hereditário. Não precisa ser, a educação tem o poder de quebrar essa hereditariedade — destaca o secretário municipal de Educação, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, Gelson Antunes Santos.
Ele explica, ainda, que essa é uma primeira experiência com a iniciativa e que há previsão de novas inscrições abrirem neste ano. Os trabalhos com os estudantes serão realizados a longo prazo. A estrutura consegue atender até 350 crianças e adolescentes.
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Como funciona
Os encontros são na parte da manhã para quem estuda pela tarde. E à tarde, para quem vai à escola de manhã. O projeto funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
É a Fundação Iberê Camargo que está colocando as atividades em prática — por meio da iniciativa Iberê nas Escolas, criada em 2019 e retomada em formato presencial neste ano. A equipe conta com arte-educadora, educadoras sociais, assistente de produção e oficineiros.
Como pontua o superintendente executivo da fundação, Robson Bento Outeiro, a parceria com a prefeitura está sendo trabalhada desde 2021 e resultou em um convênio de cooperação mútua, subsidiado por recursos públicos.
Nos próximos meses, a iniciativa no Lar Luz da Criança deve passar a contar, ainda, com o apoio do Projeto Pescar e da Fundação Pão dos Pobres — parcerias na área profissionalizante, voltada a jovens.
No local, além das atividades, os estudantes recebem as refeições. Alimentação, limpeza e segurança são serviços terceirizados. Um ônibus fornecido pela prefeitura transporta os participantes entre escolas, projeto e suas casas.
Momento de acolhida
No Lar Luz da Criança, a proposta é que, nas primeiras semanas, os encontros tenham como foco o diálogo, o acolhimento e a descoberta dos interesses dos estudantes.
— Tem esse desafio inicial de fazer eles se sentirem parte do espaço, se conhecerem, se sentirem à vontade para começar a trabalhar também, depois, outras linguagens das artes, como teatro, dança, música, mas isso vai vir conforme vamos conhecendo eles — esclarece a coordenadora pedagógica do Iberê nas Escolas em 2022, Mariah Pinheiro.
Um dos participantes é o Lucas, filho da dona de casa Aline Gabriela da Silva Gonçalves, que, segundo ela, está empolgado para as atividades relacionadas a teatro. Aline decidiu inscrever o pequeno no projeto por ver a importância de o menino ter uma atividade no turno inverso.
— É para o desenvolvimento dele, tanto na aprendizagem quanto na interação com outras crianças — ressalta.
De olho no futuro
No bairro Parque Eldorado, a paisagem rural já começa a predominar — o local fica a cerca de 40 quilômetros de distância do centro da cidade. Para o professor Sidney Sousa Ferraz da Silva, coordenador do projeto, é no expandir os horizontes para além das possibilidades que a região oferece que está o impacto das atividades para os participantes:
— Nossa ideia é mostrar para eles que o mundo é maior do que eles enxergam, dar novas expectativas de vida para eles.
Ao longo do projeto, a proposta é que os pais estejam a par dos trabalhos dos filhos, já que, como ressalta o coordenador, quanto mais a família estiver dentro do processo, "melhores são os resultados".
Produção: Isadora Garcia