No combate à fome
Projeto em São Leopoldo destina recursos para 26 cozinhas solidárias
Entidades sociais que servem cerca de 18 mil refeições por mês receberão subsídio do programa São Léo Mais Comida no Prato
Na pandemia, integrantes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) Padre Orestes resolveram buscar voluntários para fazer marmitas. Logo, um grupo mães do loteamento Tancredo Neves, no bairro Arroio da Manteiga, em São Leopoldo, abraçou a ideia e formou a cozinha solidária Marielle Franco.
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A comunidade é bastante carente e as refeições servidas três vezes por semana foram bem-vindas. Mas, outra coisa sempre bem-vinda é o auxílio com doações de alimentos e outros insumos, como gás de cozinha. E foi pensando nisso que a prefeitura de São Léo lançou o projeto Mais Comida no Prato. A ação vai destinar R$ 64 mil mensais para 26 espaços da cidade, que servem cerca de 18 mil refeições por mês.
Conforme a prefeitura, a distribuição será feita através da parceria com a Associação Meninos e Meninas de Progresso (AMMEP), organização da sociedade civil (OSC) que fará o assessoramento das 26 ações escolhidas na cidade. Serão repassados mensalmente R$ 2,50 por refeição (quando a iniciativa estiver numa área de não ocupação) e R$ 3,50 por refeição (quando estiver em uma área de ocupação), explica a administração de São Léo.
A ideia é que essas iniciativas possam garantir itens mais custosos da produção, como o gás de cozinha, óleo e as proteínas de origem animal, que incluem carnes de gado, frango e peixe. Os repasses devem se estender por um ano. As 26 cozinhas atendidas estão inseridas em diferentes territórios da cidade, atendendo pessoas em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar e nutricional.
Eliana Amorim dos Santos, 56 anos, é coordenadora da Instituição Isaura Maia, entidade que ancora a cozinha Marielle Franco. Ela cita que os trabalhos já se mantém graças a união dos voluntários e do auxílio vindo do Banco de Alimentos da cidade, de empresários, comerciantes e doadores anônimos. Agora, o projeto da prefeitura é mais um incentivo.
– O município valoriza os espaços com esta ação e torna o auxílio aos vulneráveis uma política pública – comemora Eliana.
Na cozinha do loteamento Tancredo Neves, são entregues refeições nas terças, quartas e quintas-feiras. No início, eram cerca de 40 por dia, agora, o número já chega a 182, diz Eliana. Com a popularização da entrega, as mães voluntárias ainda se organizaram para servir um sopão aos sábados. O público-alvo da ação é formado por crianças, adolescentes e idosos em vulnerabilidade social. Ainda assim, Eliane garante que famílias completas acabam sendo atendidas:
– Vem uma criança aqui pedir e tem mais cinco irmãos em casa. A gente acaba mandando comida para todo mundo.
Além da comida
Assim como outras cidades que lançaram restaurantes populares ou parcerias pontuais com OSCs, a administração de São Léo quer que o serviço vá além de servir apenas a comida. A ideia é que esses locais tornem-se portas de entrada da população para outros serviços do município. Na cozinha Marielle Franco, que já está dentro de um serviço da prefeitura, esse é um cenário constante, conta Eliana.
– Sempre chega alguém que está procurando emprego ou que precisa de um remédio ou de um atendimento. Captando essas pessoas, conseguimos encaminhá-las aos serviços públicos corretos – cita a coordenadora.
Em dias que não estão sendo servidas as refeições, a cozinha do loteamento fica aberta para outras atividades. Oficinas de produção de bolachas, pães e até massas também funcionam no espaço. Por isso, Eliana conta que as doações são importantes, pois os alimentos produzidos nas oficinas são distribuídos para os próprios alunos e também para outras famílias atendidas no serviço de fortalecimento de vínculos.
Iniciativa quer abranger mais que restaurantes populares
Secretário de Assistência Social em São Léo, Fábio Bernardo explica a escolha por apoiar cozinhas comunitárias ao invés de abrir um restaurante popular. Segundo ele, foi uma maneira de atingir mais diretamente as comunidades com famílias de pessoas em extrema pobreza. Além disso, ainda valorizar os trabalhos formados nessas comunidades, grande parte iniciados durante a pandemia.
– Na parte central da cidade já temos equipamentos que atendem e servem almoço para moradores de rua. Então, abrir um restaurante popular não atingiria quem está distante e sem condições de pegar um ônibus até o centro – explica o secretário.
Com essa decisão em mãos, o poder público da cidade mapeou as iniciativas comunitárias e começou a ajudar na entrega de doações, ainda em 2020. Com o arrefecimento da pandemia, o número de doações e também de usuários das cozinhas, reduziu. Mas, com a fome ainda atingindo os mais vulneráveis, as iniciativas não poderiam ser desativadas.
– Então, decidimos fazer esse investimento nos locais, com valores que vão auxiliar na compra de gás, óleo e de proteínas. É uma resposta a fome, a essas iniciativas, a rede de parcerias e as comunidades – projeta Fábio.