Qualidade de vida
Aldeia guarani em Viamão garante subsistência com recursos do Ministério Público do Trabalho
Comunidade indígena da localidade de Itapuã já investiu R$ 400 mil em lavouras para alimentação de 25 famílias
O repasse de recursos de um fundo do Ministério Público do Trabalho (MPT) está ajudando uma aldeia guarani de Viamão a recuperar sua vocação de trabalhar a terra e garantir a própria subsistência. Morando em uma área de 24 hectares na localidade de Itapuã, a 50 quilômetros de Porto Alegre, as 25 famílias da comunidade Tekoá Pindó Mirim já receberam R$ 400 mil desde setembro do ano passado.
O dinheiro serviu para a compra de maquinário agrícola e para o cultivo de alimentos, além de qualificar a melhoria das condições de vida na aldeia. Até o ano passado, os indígenas mantinham roçados apenas no entorno das casas e precisavam de doações de cesta básicas para garantir a alimentação dos mais de 100 moradores da comunidade. Agora, cultivam amplas lavouras de milho, mandioca, batata-doce e melancia.
— Embora esse região toda sempre tenha sido território guarani, antes aqui havia uma área de extração de eucaliptos. São árvores que drenam muito o solo, dificultando a plantação de qualquer coisa. A aldeia se instalou há cerca de 20 anos e desde então vinha sofrendo para conseguir plantar a própria comida — conta o engenheiro físico Leonardo Sehn, que há três vive na aldeia e atua como porta-voz informal da comunidade.
Foi Sehn, em parceria com a Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Nhamandu Nhemopu’a, quem elaborou os projetos submetidos ao MPT. Gerido por procuradores do Trabalho, recursos advindos de multas e indenizações por infrações trabalhistas compõem um fundo destinado a financiar ações de entidades sem fins lucrativos. Desde setembro, os R$ 400 mil repassados aos guaranis permitiram a compra de um trator com carreta, grades, arados, além da construção de um galpão, uma cozinha comunitária, uma lavanderia, entre outras obras de alvenaria na aldeia.
— Nós damos prioridades para projetos que beneficiem a proteção e qualificação de comunidades vulneráveis, envolvendo crianças, adolescentes e idosos, por exemplo. Estamos muito satisfeitos com o resultado porque vimos como estamos garantindo a subsistência de um povo originário. Na segunda etapa, vamos aparelhar ainda mais a aldeia, melhorando a qualidade de vida — afirma o procurador do MPT Ivan Sérgio Camargo dos Santos.
Nesta sexta-feira, Ivan e o promotor público do Ministério Público Estadual, Eduardo Viegas, visitaram a aldeia e conferiram a primeira prestação de contas do projeto. Com atuação na zona sul de Porto Alegre, Viegas já auxiliava a comunidade e fez a interlocução entre a os indígenas e o MPT. Durante a visita, os representantes do Ministério Público anunciaram a liberação de mais R$ 400 mil para os guaranis.
A notícia foi celebrada com a presença do ancião guarani Alcindo Werá Tupã. Aos 113 anos de idade, completados na última quarta-feira (25), Alcindo mora em Biguaçu, na região metropolitana de Florianópolis, em Santa Catarina, e comemorou o aniversário acompanhando as melhorias na aldeia.
— Um dos ensinamentos que nosso ancião passa para as próximas gerações é a necessidade de interação. A comunidade não consegue mais sobreviver de forma isolada. Estamos conseguindo vitórias na educação, na saúde, na cultura, tudo para viver melhor. E essa é a forma que a gente consegue vencer: juntos — afirma Sehn.