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Costureira de hospital de Porto Alegre produz peças com tecidos que iriam para descarte

Inez Kuffel utiliza TNT e panos de algodão que, por causa de rasgos, não podem mais ser usados no bloco cirúrgico

03/02/2023 - 06h00min


André Ávila / Agencia RBS
Por volta de 2013, o reaproveitamento entrou na rotina de trabalho da funcionária

Em uma sala do Hospital Independência, no bairro Agronomia, em Porto Alegre, um som que destoa do ambiente toma conta: são máquinas de costura. Lá trabalha a costureira Inez Kuffel, 60 anos, moradora do bairro Rubem Berta, na Zona Norte. Ela está na função há 11 anos e, por volta de 2013, adicionou uma atividade à sua lista de tarefas: reaproveitar materiais.

É que, de um lado, ela via o excesso de tecidos que não poderiam mais ser usados. E, de outro, a falta de itens feitos — justamente — de tecidos.

— Com o tempo passando, começaram a faltar camisolas e roupas do enxoval. Então eu vi aí uma oportunidade de produzir essas peças, gerando economia e desentulhando também uma sala que ficava cheia desses materiais — lembra.

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As peças

O resultado é mostrado pela costureira: fronhas, bermudas, camisolas, capas de raio-X, hampers (sacos utilizados para transporte de roupa suja) e bolsas são algumas das produções. Os itens vão para pacientes e profissionais do hospital. 

No início da pandemia, a situação piorou, conta:

— Faltaram máscaras e aventais de proteção para o pessoal (do Independência) trabalhar durante alguns meses. Nós produzimos porque estava escasso no mercado.

Para chegar até ela

Os tecidos usados — TNT e de algodão — vêm do bloco cirúrgico. São aqueles que têm algum rasgo, mesmo que mínimo, e, por isso, não podem mais ser utilizados no seu propósito inicial.

Segundo a supervisora da hotelaria do hospital, Angela Tavares, originalmente o TNT é utilizado na autoclave (aparelho que esteriliza) e os tecidos de algodão são os chamados campos cirúrgicos (panos colocados sobre o paciente durante as cirurgias).

Antes de chegar às mãos de Inez ou da colega, a auxiliar de costura Margarida Muniz, os materiais são esterilizados. 

— Aí as meninas trazem para a gente ou colocam no depósito, onde eu vou e busco esses tecidos. Conforme a demanda, a necessidade, nós vamos produzindo peças — acrescenta Inez.

A produção é feita na própria sala onde ela trabalha. Ao final, as peças recebem uma serigrafia com o logotipo do hospital.

"Fazer a diferença"

André Ávila / Agencia RBS
Entre os itens criados, há fronhas, bermudas e bolsas

Inez lembra de ter aprendido a costurar quando criança, em um colégio de freiras. Já adulta, fez cursos na área. O interesse surgiu "faz muito tempo" e se mantém até hoje: 

— A minha profissão de quase toda vida é costureira, eu gosto muito do que eu faço.

No hospital, ela repara peças e faz uniformes dos profissionais do local. Também aproveita a oportunidade de criar itens e, assim, "de fazer a diferença", descreve. Como explica a supervisora Angela, o local atende pacientes em situação de rua que, às vezes, não têm uma bolsa para levar os pertences depois da alta ou uma roupa. 

Ainda de acordo com Angela, a meta é reutilizar até onde der:

— Somos um hospital 100% SUS e nem sempre temos recurso disponível para fazer todas as compras necessárias, então trabalhamos muito reutilizando aquele material que temos. 

Além do impacto ambiental, há o financeiro, com a redução de compra de certos tecidos ou peças prontas. Mas é um outro impacto que tem chamado a atenção da equipe.

— A felicidade dos pacientes, a gratidão deles é o que mais nos satisfaz e o que mais representa para nós mesmo nesse momento — destaca Angela.

Produção: Isadora Garcia



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