Saúde pública
Fila do SUS cresce 19% em um ano em Porto Alegre
Dados mais recentes da prefeitura mostram 110.230 solicitações esperando atendimento, ante os 92.396 pedidos do mesmo período de 2021
Reduzir a fila de espera por consultas especializadas através do Sistema Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre aos patamares pré-pandemia é um desafio sem perspectiva de ser ultrapassado. O SUS ainda é impactado por reflexos causados durante a propagação do coronavírus e, por isso, números mostram milhares de atendimentos represados.
Conforme dados mais recentes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), até novembro de 2022, 110.230 solicitações aguardavam atendimento em Porto Alegre. A alta nos pedidos acumulados corresponde a 19%, se comparado com novembro de 2021, quando havia 92.396 solicitações.
O Diário Gaúcho mostrou, em reportagem no ano passado, que a pandemia fez a fila dar um salto em requisições que aguardam chamado. Em março de 2020, eram 42.500. A fila do SUS na Capital atualmente se divide em 185 especialidades — sendo algumas do mesmo setor, mas com pequenas variações, como nutrição adulta e pediátrica. A oncologia, por exemplo, tem 21 filas diferentes.
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Na comparação mensal, em janeiro de 2022, a fila de espera chegou a ter uma leve redução. A queda nos números se repetiu somente em abril e em junho, de forma sutil, o que não afetou o montante. A partir de julho, a fila voltou a crescer, seguindo cinco meses em alta.
Nas comparações mensais, o maior salto do ano passado foi entre agosto e setembro, quando o número de requisições acumuladas cresceu 9,42% — de 98.065 para 107.298. Ou seja, é perceptível que há um crescimento constante de solicitações, ao mesmo tempo em que a capacidade de atendimento não segue o mesmo ritmo.
Pedidos para oftalmologia têm queda, mas seguem liderando
Ao sair da cama, pegar o óculos é o primeiro movimento da cuidadora de idosos Rejane Lima de Oliveira, 55 anos. Ela entrou na fila da oftalmologia geral em novembro do ano passado e não tem ideia de quando será atendida. Com dificuldade para enxergar com as lentes atuais, ela decidiu procurar o especialista para uma revisão do grau.
— Tenho miopia e astigmatismo, e meu óculos está fraco. Não estou enxergando direito. Por exemplo, não enxergo de longe, à noite. Do outro lado da rua, já não reconheço quem é a pessoa. Sei que, quanto mais tempo eu esperar, pior pode ficar — afirma Rejane.
A cuidadora, que mora no bairro Sarandi, já passou por uma cirurgia de reparação na visão há mais de duas décadas. Depois disso, ficou por cerca de 20 anos sem precisar de óculos. Agora, seu grau já está novamente alto e, por isso, a utilização do acessório é indispensável.
A fila da especialidade em que Rejane está é a que segue em primeiro lugar com mais usuários em espera. É a oftalmologia geral adulto, que, até novembro, apresentava 6.643 pedidos de atendimento acumulados. No entanto, se comparado com novembro do ano passado, quando a fila estava com 13.269 — a redução foi de cerca de 50% no período de um ano. Outro fator de destaque é a queda no tempo médio de espera para casos menos prioritários, que baixou de 590 dias para 249 dias — cerca de oito meses.
Alívio
Ainda dentro da especialidade, aparece com uma fila significativa a oftalmologia triagem visual, com 3.194 solicitações — ano passado eram 7.307. Neste caso, os atendimentos menos prioritários tiveram um aumento no tempo de espera, passando de 170 dias para 385 — pouco mais de um ano.
Na lista da SMS, são 13 filas diferentes para o cuidado da visão, que somaram 17.717 pedidos represados até novembro de 2022. Olhando para o somatório das filas da oftalmologia, a queda foi de 34% em relação a 2021, quando estava com 26.847 consultas em espera.
O alívio na espera começou em maio do ano passado. Conforme a SMS, foi realizada a triagem das filas e a contratualização extra de consultas no Hospital da Restinga e Extremo Sul (HRES) e no Hospital Vila Nova, dobrando o número de consultas disponibilizadas por mês (antes em torno de 2 mil, atualmente em torno de 4 mil).
O objetivo é, até o fim de 2023, atender 2.350 pacientes regulados pelo sistema Gercon (sistema de gerenciamento de consultas da SMS), oferecendo, além de atendimento com médico oftalmologista, o fornecimento gratuito de óculos para a correção de transtornos de refração, como miopia, astigmatismo e hipermetropia.
Outros destaques
Também chama a atenção o aumento de filas em outras especialidades, como dermatologia, cardiologia, neurologia, fisioterapia e saúde mental. Até novembro de 2022, dermatologia geral tinha 6.238 consultas em espera – o incremento no número pode ter ocorrido devido à unificação de duas filas: adulto e geral, que acabavam acumulando solicitações com o mesmo público.
Cardiologia adulto também teve um salto em um ano, de 782 para 2.769 em espera. Fisioterapia cresceu no mesmo período de 1.948 para 3.759 solicitações. Por fim, se destaca a especialidade de saúde mental adulto, que cresceu de 1.570 para 4.115 na fila de espera.
O maior tempo de espera por atendimento é de pneumologia apneia do sono – polissonografia, com 1.620 dias para casos de baixa prioridade.
Recursos finitos para demanda infinita, diz SMS
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) creditou o crescimento de 19% na fila do SUS na Capital entre novembro de 2021 e o mesmo mês do ano passado a três principais fatores. Conforme a pasta, o primeiro é a ampliação da Atenção Primária, assim, "os cidadãos têm mais acesso e, consequentemente, são encaminhados para consultas com especialistas, aumentando o número de solicitações". O segundo é o reflexo da pandemia de coronavírus, "que causou o represamento dos agendamentos e o aumento da população utilizando o SUS".
Por fim, a SMS destaca que, em dezembro de 2021, Porto Alegre passou a regular as solicitações de consultas oncológicas de pacientes de outros municípios do RS que possuem a Capital como referência. Sendo assim, a fila, que era de 612 pacientes em novembro de 2021, passou para 2.094 em dezembro de 2021 e, atualmente, é de 2.022 pacientes".
Em relação à demora em algumas filas, como a de pneumologia apneia do sono, a SMS diz que "está constantemente buscando alternativas para o aumento de primeiras consultas, redução das filas e do tempo de espera". Segundo a pasta, os serviços de saúde contratualizados têm capacidade instalada limitada e, por isso, "é necessário considerar a grande fila interna dos hospitais (pacientes que já tiveram a primeira consulta e estão aguardando a realização de exames e procedimentos), e que, por este motivo, os prestadores têm dificuldade de aumentar a oferta de primeiras consultas". Para finalizar, a SMS destaca que a gestão precisa definir prioridades, pois "os recursos financeiros são finitos, e a demanda, infinita".