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No Porto Seco

O que esperar da segunda noite de desfiles das escolas de samba da série Ouro do Carnaval de Porto Alegre

Desfiles serão no Complexo Cultural do Porto Seco, na zona norte da Capital, em 3 e 4 de março. Ingressos gratuitos estão esgotados

25/02/2023 - 05h00min

Atualizada em: 25/02/2023 - 05h00min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Em menos de uma semana, todo o trabalho das escolas de samba de Porto Alegre e da Região Metropolitana será apresentado no Complexo Cultural do Porto Seco. Depois de um Carnaval fora de época em 2022, este ano promete uma retomada do que realmente é a folia sem restrições. A grande festa ocorre em 3 e 4 de março.

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A reportagem do Diário Gaúcho esteve nos barracões do Porto Seco durante a última semana. Com quase tudo pronto, as agremiações adiantaram o que se pode esperar na pista. Confira os detalhes de cada uma das cinco escolas da série Ouro, que desfilarão na segunda noite.

O direito da moradia no palco da Império do Sol 

A Império do Sol está preparando um desfile com um tema que trabalha uma questão social do país que é a falta de habitação. Segundo o presidente Alzemiro da Silva, conhecido como Miro, a escola de São Leopoldo mais uma vez apresentará um direito do cidadão na Avenida: 

– Procuramos temas que abordem discussões relevantes e atuais para que as pessoas reflitam sobre. Ano passado foi o racismo estrutural. 

O público pode esperar alegorias coloridas e que transmitem o sentido do enredo. O abre-alas traz uma parte mais lúdica, que mostra a ideia de como nasce o desejo de ter um lar na infância, ao brincar de casinha ou ao construir castelos na areia da praia. Depois, o desfile continua para uma parte histórica, de desenvolvimento de movimentos sociais da luta pela moradia e também de leis. O último setor é, de fato, a realização do sonho da casa própria, conforme detalha Miro. 

– Acho que o povo vai gostar e espero que cantem junto nosso samba, porque é um gripo de alerta – afirma Miro. 

Segundo o presidente, a montagem e finalização seguem no ritmo normal. 

– A Império do Sol fabrica 100% do material do seu desfile no Porto Seco e estamos treinando mão de obra para o ano que vem. A comunidade ao ver o seu trabalho na Avenida dá outro sentido, outro gosto. É parte da magia do Carnaval, a construção do espetáculo pela comunidade – conclui.

O que esperar: a escola apresentará o enredo Resido na Morada do Amor, Faço este Samba com Emoção para Falar do Direito à Habitação com 15 alas, três ou quatro alegorias e quatro tripés. O desfile será na madrugada de sábado (4) para domingo (5), às 00h10min. Estima-se a presença de 800 a 900 componentes. 

Imperadores canta os 165 anos do Theatro São Pedro

A Imperadores do Samba, escola que foi campeã do Carnaval de 2022, destaca no enredo deste ano um dos mais emblemáticos palcos do do Rio Grande do Sul. A proposta do desfile é contar a história dos 165 anos do Theatro São Pedro. No ano passado, o título foi conquistado com a apresentação de diversos palcos de Porto Alegre, uma homenagem aos 250 anos da cidade. 

O abre-alas é a grande aposta, com cerca de 30m de comprimento. A alegoria, conforme o diretor de Carnaval, Lucas Ananias, tem um conceito que mostra desde de a construção até a inovação do Theatro. É neste carro que os dois leões, símbolo da escola, estão posicionados. 

A segunda alegoria apresentará a reconstrução do Theatro através do tempo. Para fechar, o terceiro carro é futurista com uma homenagem a Eva Sopher, guardiã do Theatro São Pedro, com estrelas representando os artistas e referências ao papel dos atores.  

– As alas também contam as histórias do Theatro, desde a construção, passando pelo erudito e o popular, pelas peças, Bailei na Curva e Tangos e Tragédias, que foram as que ficaram mais tempo em cartaz. Também mostramos o primeiro maestro negro que se apresentou lá. Virão convidados como Hique Gomes, Guri de Uruguaiana e o grupo Tholl de Pelotas, o que deixará o desfile leve e mais colorido – explica Lucas. 

Para Luana Campos Costa, presidente da Imperadores do Samba, a expectativa é alta para este ano:

– Teremos mais gente no desfile, porque ano passado foi a retomada do Carnaval e não foi no período certo. O pessoal está bem empolgado e o campeonato deu um gás para nossa equipe. Terão algumas surpresas no desfile.

O que esperar: a escola apresentará o enredo Theatro São Pedro: Sublime Sobre o Tempo com 15 alas e três alegorias. O desfile será na madrugada de sábado (4) para domingo (5), às 1h20min. Estima-se a presença de 1 mil componentes. 

IAPI une Brasil e Coreia do Sul

A União da Vila do IAPI entra na Avenida com uma temática oriental, com a homenagem aos 60 anos da imigração sul-coreana no Brasil. As cores do país asiático correspondem com as cores da identidade da escola: azul, vermelho e branco.

– Ano passado tivemos o Carnaval de Porto Alegre, mas foi de readaptação porque o pessoal estava retomando o ritmo devido à pausa na pandemia. Esse ano estamos conseguindo trabalhar melhor, reciclamos tudo que podíamos, veio material de fora, compramos mais material e estamos adaptando tudo conforme o tema – explica o carnavalesco Sérgio Guerra, que há 16 anos se dedica à IAPI.

No barracão, o ritmo dos trabalhos é intenso, como a finalização de fantasias no ateliê, por exemplo. Sérgio prevê um impulso na produção na reta final antes dos testes na última semana.

– Começamos a trabalhar em janeiro, mas normalmente é entre o final de novembro e início de dezembro. Esse ano foi atípico. Estamos tentando recuperar esse tempo, mas o que falta é a finalização, o que é mais rápido. Queremos colocar para teste na quarta-feira que vem – explica.

A escola ingressará com uma comissão de frente que mostrará a integração entre os países, com uma mistura de danças do K-pop e do samba. Após, o abre-alas vem mostrando a tecnologia avançada da Coreia, com o predomínio do prateado e referências ao símbolo da escola: a locomotiva de um trem. O segundo carro apresentará com destaque a gastronomia, costumes e comércio coreano. Também terá a imagem do rei Sejong, o grande. Por último, a dinastia e migração coreana sendo representada por homenageados.   

O que esperar: a escola apresentará o enredo Na Locomotiva da Memória, a Vila Canta Bodas de Diamante, Integração Brasil/Coreia do Sul com 16 alas e quatro alegorias. O desfile será na  madrugada de sábado (4) para domingo (5), às 2h30min. Estima-se a presença de cerca de 900 componentes. 

Tinga apresenta Anastácia no Porto Seco

Será Anastácia, mulher negra dos olhos azuis, que estará no sambódromo representada pelos tinguerreiros. A Estado Maior da Restinga, quarta colocada no Carnaval de 2022, homenageia a mulher que se tornou símbolo de resistência à escravidão. A escola apresentará a história da Anastácia em quatro carros alegóricos, como revela o carnavalesco Luciano Maia.

– Vamos trazer a ancestralidade, a espiritualidade dela, no sentindo de proteção, fé, compaixão e poder de curar. Trazemos também o retrato de sofrimento que ela passou, assim como tantos negros que foram vítimas de tráfico de escravos, maus-tratos e racismo – relata Maia.

Para a rainha de bateria, Viviane Rodrigues, o enredo também traz referências às deusas guerreiras dos dias de hoje: 

– É uma homenagem as mulheres guerreiras da comunidade, vitoriosas que vão em busca do seu sustento e que no final da tarde chegam em casa com seu dever cumprindo.

No abre-alas, o cisne imponente, símbolo da escola, vem em meio à outros elementos que mostram a ancestralidade de Anastácia e também remetem à África. A Restinga está em ritmo acelerado nos preparativos e as alegorias estão praticamente prontas. Uma delas se destaca pela altura que chega perto da porta de 9,8m do barracão, conforme o presidente da entidade, Aldo Luís Rabelo Carlos.

– A expectativa é maravilhosa, a comunidade merece e está carente de títulos. Desde 2012 não temos o título e esse ano estamos tentando novamente – diz Aldo. 

O que esperar: a escola apresentará o enredo Bendita és tu Anastácia, Negra dos Olhos Azuis com 21 alas e quatro alegorias. O desfile será na madrugada de sábado (4) para domingo (5), às 3h40min. Estima-se a presença de 1.650 componentes. 

Realeza destaca uma protagonista da cena cultural da Capital  

É uma homenagem a Nega Lu, personagem ousada e perseverante que deixou sua marca na cena boêmia da Capital, que a Realeza apresenta no seu enredo. Conforme detalha Luiz Augusto Lacerda, um dos carnavalescos, a escola tem como compromisso retratar as causas do povo negro, principalmente no Rio Grande do Sul. Ano passado, o samba-enredo homenageou os Lanceiros Negros.

Precursor de conquistas sociais e comportamentais, Luiz Airton Farias Bastos, como está registrado na certidão de nascimento, é a Nega Lu, que ganhou fama na cena cultural e boêmia de Porto Alegre entre os anos 1970 e 1990. 

– Existem tantas vertentes além da escravidão e temos personagens que marcaram nossa história. Buscamos a Nega Lu, que foi um babalorixá e pautou na sua vida a busca da espiritualidade. Também vemos a luta pela valorização do artista, como ela que enfrentou muitos preconceitos, e a liberdade de ser. Ela foi marco para a cena artística de Porto Alegre – explica Luiz Augusto.

O carnavalesco afirma que talvez seja o desfile mais desafiador de escola, que completa 47 anos e sai pela terceira vez no grupo Ouro. 

– É uma escola que ensaia na rua, mas que nunca deixou de desfilar. As pessoas estão empolgadas, as fantasias são feitas na comunidade e a escola que custeia tudo, movimentando a cadeia produtiva local – explica. 

No barracão da escola, os trabalhos estão em ritmo de finalização das alegorias. A apresentação também fará referências à cultura francesa, já que a Nega Lu estudou na Aliança Francesa. 

– O abre-alas traz uma representação da comunidade, onde são feitos os ensaios. O segundo carro vem como se fosse a noite de Porto Alegre, a discoteca, ambientado na década de 1970, mesma época da homenageada. No último carro, vem uma escultura da Nega Lu, como um altar em homenagem – explica Roberto Marques, carnavalesco da escola. 

Segundo Luiz Augusto, o encerramento terá esse grande altar em que Nega Lu lança luz a questões como a liberdade, a luta contra a intolerância religiosa e valorização ao artista.

O que esperar: a escola apresentará o enredo Divina Realeza do Basfond é uma Dama de Barba Malfeita com 14 alas e três alegorias. O desfile será madrugada de sábado (4) para domingo (5), às 4h50min. Estima-se a presença de 1 mil componentes.

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