Medicamento que vem da terra
Processo de implantação do programa Farmácia Viva é iniciado em São Leopoldo
O projeto, realizado pela prefeitura e pela Unisinos, foi contemplado por meio de um edital do Ministério da Saúde
Você sabe qual a origem da maioria dos medicamentos que se compra na farmácia? Segundo o farmacêutico e um dos fundadores da Associação Brasileira de Farmácias Vivas, Roger Remy Dresch, são derivados de plantas medicinais. Obviamente, depois de muita pesquisa e tecnologia, foram elaboradas fórmulas sintéticas a partir destes produtos naturais, originando os medicamentos de base sintética.
Porém, os medicamentos formulados a partir de matérias-primas de origem vegetal não deixam de existir. Aliás, segundo o site do governo federal, estes medicamentos têm sido utilizados na saúde pública do país há décadas. E Roger afirma: se utilizados com uso e orientação corretas, possuem muito menos efeitos adversos que os medicamentos sintéticos.
Pensando nisso, a prefeitura de São Leopoldo e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) já estão em processo de implantação no município do programa Farmácia Viva. Isso será possível após o edital enviado ao Ministério da Saúde ter sido contemplado.
— No momento, estamos no processo de preparação do solo para que ele possa receber as sementes e mudas que serão plantadas em breve — afirma a farmacêutica e diretora da Assistência Farmacêutica da cidade, Fabiana Ribeiro.
Sementes
O objetivo da iniciativa é qualificar a Assistência Farmacêutica em todos os serviços da rede municipal de saúde. Serão desenvolvidas qualificações e rodas de conversa com médicos e pacientes, para sanar dúvidas e instruí-los. O programa será desenvolvido de forma colaborativa entre Secretaria Municipal de Saúde, Unisinos e Escola Agrícola Visconde de São Leopoldo (CEEPRO) para o cultivo e manipulação dos medicamentos.
As plantas medicinais que serão cultivadas no município por meio da Farmácia Viva serão selecionadas a partir do perfil epidemiológico do local, ou seja, de acordo com a demanda da população.
— Foi feito um levantamento dos medicamentos que mais eram prescritos pelos médicos, além de levarmos em consideração as queixas de quem procura o Sistema Único de Saúde (SUS) — afirma Fabiana.
Em um primeiro momento, respeitando o clima e pensando no desenvolvimento do plantio, serão plantadas sementes de camomila, boldo brasileiro e maracujá. Porém, está previsto também o cultivo de melissa, malva, tanchagem e confrei.
Experiência para estudantes
A partir da camomila, que é um calmante de nível leve, será produzido um creme e sachês da erva. O creme poderá ser usado na pele, externamente, e em batidas (marcas que deixam aquele roxo), pois é um “ótimo anti-inflamatório”, segundo Roger. Já os sachês, poderão ser utilizados, por meio da infusão (chá), para má digestão, cólicas e diminuição de gases intestinais. Além disso, esse líquido pode ser passado na pele para diminuição de coceira e até mesmo em compressas quando se tem conjuntivite.
A tintura de boldo brasileiro, que é um líquido concentrado das folhas, pode ser distribuída para casos de má digestão, azia, úlcera gástrica ou gastrite.
No caso do maracujá, que é um calmante de nível intermediário, serão utilizadas as folhas da planta medicinal e estará disponível em forma de cápsulas. Estas servem para diminuição da ansiedade e insônia.
Manipulação
Para que os medicamentos possam ser entregues à população, existe um processo de manipulação. Quem será responsável por este processo será a Unisinos, instituição que possui o laboratório da farmácia escola, o qual segue resoluções e exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Alunos dos cursos de Farmácia, Ciências Biológicas e Engenharia Agronômica estão envolvidos no projeto da Farmácia Viva.
— Para os estudantes é uma oportunidade e experiência única, de vivenciar toda a cadeia produtiva, o plantio, o preparo, a manipulação e o controle de qualidade — comenta a professora do curso de Farmácia, Letícia Lenz Sfair.