Eu Sou do Samba
Corte da Diversidade de Porto Alegre reforça a luta por espaços cada vez mais inclusivos no Carnaval
Colunista Alexandre Rodrigues escreve sobre Carnaval e samba todas as sextas-feiras
Na próxima quarta-feira (28), chegamos a mais um Dia do Orgulho LGBT+. Apesar da data cravada — quando, em 1969, a polícia atacou com violência frequentadores de um ponto de encontro de gays, lésbicas, travestis, transexuais e drag queens em Nova York, nos Estados Unidos —, a luta é constante e independe do lugar. A Corte da Diversidade de Porto Alegre está aí para provar que Carnaval e respeito podem, sim, desfilar lado a lado.
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Camila Rodrigues, coordenadora de Diversidade Sexual e de Gênero da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS), é a pessoa por trás da iniciativa.
— Nós rompemos várias barreiras e, hoje, as gurias são aguardadas por onde passam. As conquistas delas são minhas também. Tornou-se uma baita visibilidade para as nossas pautas — fala Camila, lembrando do caminho já percorrido.
Um trio poderoso, selecionado por critérios como desenvoltura, simpatia, carisma e samba no pé , forma a Corte da Diversidade 2023: Natascha Voguel (Rainha da Diversidade), 26 anos, Ellen Miamyy (Primeira Princesa da Diversidade), 41, e Luma Oliveira (Segunda Princesa da Diversidade), 56.
Quer saber mais sobre elas? Confira abaixo.
Rainha da Diversidade: Natascha Voguel, da Bambas da Orgia
"Sempre fui apaixonada por Carnaval. Comecei no Interior, mas era um sonho chegar ao Carnaval de Porto Alegre. Em 2018, teve o concurso para a Corte da Bambas da Orgia. Participei e entrei como rainha. Em 2022, me inscrevi para a Corte da Diversidade e fui escolhida como primeira princesa. Como não teve concurso em 2023, a Corte do ano passado foi reconduzida. Só que a rainha anterior desistiu, e passei a ocupar o posto. Levo esse título com carinho, responsabilidade e muito amor por onde passo. Estar na Corte da Diversidade é ter o poder de dar voz a um grupo que hoje não é mais minoria."
Primeira Princesa da Diversidade: Ellen Miamyy, da Estado Maior da Restinga
"Comecei no Carnaval quando criança, na Tribo Os Comanches, que ficava perto da minha casa. Faço aniversário em fevereiro, então, sempre escolhia desfilar em vez de ter uma festa. Com 15 anos, ganhei como rainha na Filhos da Candinha. Depois, passei por várias escolas até chegar na minha de coração, a Estado Maior da Restinga. Para fazer parte da Corte da Diversidade, é preciso ter emprenho e demonstrar muita vontade. Hoje, as portas estão abertas, mas muitas vezes quiseram fechar na nossa cara. Tem que ter peito para enfrentar as adversidades, ter resistência, e não deixar as coisas regredirem."
Segunda Princesa da Diversidade: Luma Oliveira, da Unidos da Vila Mapa
"Sou zeladora dentro do sambódromo, no barracão da Unidos da Vila Mapa, e atual rainha da escola. Não tinha mais pretensão de participar de concursos, mas o presidente da escola fez questão de incentivar a me inscrever para a Corte da Diversidade. Fazemos parte da sociedade, e as pessoas têm que entender isso. Tenho mais de 50 anos e já passei por muita coisa nessa vida. Sou uma mulher trans e ainda tem gente que me chama por pronomes masculinos (ele/dele). Precisamos, diariamente, nos impor e nos fazer valorizar. Eu acho — e espero — que daqui em diante o caminho vai ser mais fácil para as próximas gerações."
Para refletir
Felizmente, a visibilidade e o orgulho têm se fortalecido a cada ano. É notável a presença da população LGBT+ no Carnaval, seja em barracões, nas quadras, nos desfiles ou nos blocos de rua. Mesmo assim, o combate a LGBTfobia continua sendo necessária para garantir a plena inclusão, tanto em manifestações carnavalescas quanto na sociedade como um todo. Trona-se, aqui, fundamental que as entidades e as agremiações se unam para fazer com que a maior festa popular do país seja um espaço no qual todos possam se expressar livremente, sem medo. Eu Sou do Samba apoia iniciativas como a Corte da Diversidade.